Quem é você na fila da legalização?

Foto em vista superior que mostra buds secos de cannabis dispostos sobre uma superfície lisa de cor salmão, com luz indireta que incide do lado superior direito da imagem, sombreando cada bud. Imagem: THCamera Photo. Legalização empresas

Com a gradual abertura do mercado para a canábis, ideologias e oportunidades também avançam

O fato de a legalização da canábis estar em franco avanço no mundo esclarecido deve ser evidente para qualquer indivíduo capaz de ligar lé com cré, incluindo homeopatas e youtubers. No Brasil, a horda da maconha agora se divide e o bafafá já começou. Para um lado correram os médicos e os frouxos, rumo à proteção do trono de Esculápio. Para o canto oposto chisparam ativistas e maconheiros de toda ordem. Os primeiros levam a maior parte do dinheiro da erva; os segundos levam a libido dela. O que sobrou no meio pode ser comparado a um orangotango em sua interminável missão de catar pulgas, ou a um empresário.

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Apesar de até pouco tempo atrás a esmagadora maioria dos médicos demonizar a maconha, hoje até os psiquiatras recomendam profusamente a planta. No passado a categoria já prejudicou bastante a causa em prol da legalização, apontou o dedo para a erva e preferiu drogar milhões de pacientes com todo tipo de tarja preta. Agora busca a redenção invocando teses científicas atualizadas. Sabe-se que a vida é uma constante transformação e não podemos crucificá-los pelos erros de outrora. Devemos criticá-los pelos erros de agora, como receitar apenas óleo de medical cannabis produzido por determinada empresa estrangeira em troca do tradicional e infame jabaculê. Contudo, não podemos ser injustos. É preciso reconhecer a nobre missão dos médicos, que é proteger o paciente e salvá-lo de seus próprios vícios. No fim das contas, é o médico que nos absolve de nossos pecados cotidianos.

Sempre em busca do balaio das ilusões perdidas, o ativista exerce um papel fundamental na causa canábica. É ele quem prova aos espíritos medíocres que o maconheiro é um ser relativamente normal e que pode viver bem em sociedade. Ao ativista sobra coragem, umas das principais virtudes humanas, mas falta inteligência, a principal virtude humana. Ele misticamente crê que sua missão de militante tem grande importância no processo de legalização, ao mesmo tempo em que vê o lobby da indústria prevalecer. Acredita ser o dono da verdade, mas não tem nenhum respeito por ela. Na maioria dos casos o ativista é uma boa pessoa, é um entusiasta, um romântico. Seus olhos exageram o que veem e seus ouvidos escutam mais do que a banca toca. Sua opinião é tão respeitável quanto a de um pastor protestante.

Polivalente e multifuncional, o empresário é acima de tudo um loroteiro. Ele jura amor à maconha e à medical cannabis da mesma forma que procede com a esposa e a secretária. É uma espécie de deputado do centrão, meretriz vida louca, corta para o lado que conseguir a fatia maior. É um ectoparasito que anda a reboque da causa, à espreita para rapinar o que puder no momento oportuno. Seu instinto predatório não respeita ética e avança sobre profissionais liberais a fim de conquistar seu intuito puramente financeiro. Com uma vida trabalhista baseada em valores desprezíveis, a única recompensa do empresário é ganhar uma montanha de dinheiro, apesar de ele jurar que o dinheiro não era o objetivo de seu trabalho. Ainda assim, ele será o principal responsável por estruturar o mercado da canábis e oferecer todo tipo de produto e emprego. E seremos seus fregueses assíduos.

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Todos esses atores do cenário atual da maconha no Brasil serão perdoados no dia do juízo final. Diferentemente do proibicionista, essa criatura repugnante que ainda vaga por entre nós como uma frieira aberta entre os dedos do pé. Para o proibicionista, um relincho vale mais do que mil estudos científicos. Bradando o nome de Deus, ele assenta o mármore quente da própria masmorra no inferno, onde não haverá nenhum baseado para amenizar seu merecido sofrimento.

E aí, quem é você na fila da legalização?

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Você não é apenas um maconheiro

#PraTodosVerem: foto em vista superior que mostra buds secos de cannabis dispostos sobre uma superfície lisa de cor salmão, com luz indireta que incide do lado superior direito da imagem, sombreando cada bud. Imagem: THCamera Cannabis Art.

Sobre Leonardo Padilha

Leonardo Padilha é advogado canabista, jornalista e especialista em educação. leonardopadilha.advogado@gmail.com
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