Prensado da flor roxa: se você não conhece, é maconheiro 2020

fotografia de vista superior, de quatro pedaços de diversos tamanho de prensado de maconha sobre uma superfície de pedra. Foto| autor desconhecido, via whatsapp

“Marrom, fedorenta e úmida”, reclama consumidor de prensado, enquanto varejista mostra total desconhecimento do que comercializa ao afirmar que é “prensado da flor roxa molhado no óleo de THC”. Diante dessa realidade, deixo uma crítica à lei de drogas e seus patronos que geram vendedores desinformados e deixam consumidores de maconha vendados e à deriva de seus direitos

fotografia de vista superior, de quatro pedaços de diversos tamanho de prensado de maconha sobre uma superfície de pedra. Foto| autor desconhecido, via whatsapp

#PraCegoVer: fotografia de vista superior, de quatro pedaços de diversos tamanho de prensado de maconha sobre uma superfície de pedra. Foto| autor desconhecido, via whatsapp

Por padrão, graças ao proibicionismo, a maconha mais comercializada no país é a paraguaia, que chega ao consumidor com aparência marrom e fedorenta, ou seja, já estragada. Quando não apreendida, é vendida por varejistas desesperados que tentam ‘pintar’ como um produto que nunca será: um “Prensado da flor roxa molhado no óleo de THC”.

No Brasil, em um mercado tradicional de produtos e serviços já regulamentados, o consumidor que se sentir lesado por algum motivo pode, e deve, exigir seus direitos. Já num mercado ausente de regulação, como o da maconha, os usuários perdem, como cidadão, um direito constitucional: o de consumidor. Como consequência, não podem sequer reclamar aos órgãos responsáveis sobre a qualidade, exigir troca, devolução do valor pago ou indenização por adquirir um produto ruim ou serviço mal executado.

Leia – Defesa do Consumidor Canábico: e sobre a maconha ruim, como reclamar?

Porém, mesmo sem um “ProConha”, consumidores brasileiros não se isentam em reclamar nas bocas ou com seus revendedores — os dealers. Eu mesmo, como usuário, já reclamei da qualidade e recebi a opção de trocar ou pegar o valor de volta.

Êxito que, pelo visto, não ocorreu com a pessoa que registrou a foto do produto; como  mostram os áudios que circulam, acompanhados da imagem, por grupos no WhatsApp.

Nos dois áudios, é notável o descontentamento do vendedor, acompanhado de explicações mentirosas sobre a “qualidade do produto” ao consumidor que sem dúvida alguma reclamou. Por segurança do vendedor optamos em tirar os áudios e transcrever a mensagem, confira abaixo:

“Tá falando que o bagulho tá ruim, se tu tá falando isso mano, desculpa, tu não conhece de maconha, tu é iniciante, maconheiro 2020” e continua com total convicção, “isso aí é o prensado da flor roxa. Maconha não existe um tipo só, se tu conhece mesmo sabe que existe mais de 60 tipos de maconha, até mais. Esse aí é o prensado da flor roxa, a massa das massas, é o soco na mente. Ela tá úmida justamente porque ela tá molhada do óleo do THC”. 

Durante o áudio as justificavas da qualidade do produto continuam, chegando a afirmar que este é o produto que todos estão comprando de gente nova a velha, mulheres, homens, empresários e entre outros.  Em segundo áudio, o comerciante insiste que é esse o estilo dela; escura e forte, “um prensado de flor roxa”.

Falta de informação, fruto do proibicionismo

“Tá falando que o bagulho tá ruim, se tu tá falando isso mano, desculpa, tu não conhece de maconha, tu é iniciante, maconheiro 2020” e continua com total convicção, “isso aí é o prensado da flor roxa, a massa das massas, o soco na mente. Ela tá úmida justamente porque ela tá molhada do óleo do THC”. 

É triste, pois basta um pouco de conhecimento para perceber a notável falta de informação da própria pessoa que ganha a vida comercializando um produto que desconhece. E a isso culpo o modelo proibitivo que vivemos no Brasil, não totalmente, mas em partes.

Essa total falta de informação que vai de uma ponta a outra, do varejista ao consumidor — e que pode causar danos à saúde do segundo —, é fruto da atual lei de drogas e da falta da regulamentação da maconha, uma das substâncias ilícitas mais vendidas no país.

Diante do modelo proibicionista, continuamos vendo uma repetição histórica de uma guerra falha, com campanhas esdrúxulas que não educam sobre drogas a ninguém. A procura é contínua e logo sua oferta também, por mais que apreendam toneladas de maconha, outras toneladas seguem sendo comercializadas, e o pior, de origem duvidosa e sem controle de qualidade algum.

Leia também: Ministério da Cidadania lança campanha nacional de prevenção ao uso de drogas

Atualmente, a situação dos consumidores de maconha no Brasil é das piores e se agrava cada vez mais. Correndo risco para adquirir, risco de uma abordagem policial que pode levar a detenção e ao consumir um produto, que nos padrões canábicos de lugares já regulamentados é considerada maconha estragada, que por lá certamente é ‘proibida’.

Tem dúvidas disso? Então assista à reação de um produtor de maconha, a mais pura do mundo, ao conhecer o prensado vendido no Brasil.

Vale ressaltar também que nos dispensários — as lojas de maconha dos estados norte-americanos que já regulamentaram seu uso adulto e medicinal — e até mesmo nos coffeeshops da Holanda (a mesma que quer ser chamada de Países Baixos), o atendimento é feito sem violência e com uma troca de informação essencial, na qual a pessoa que realiza o atendimento conhece o produto e ajuda o consumidor a encontrar a maconha desejada para tratar alguma condição ou até mesmo para fins sociais, para quem gosta de curtir uma brisa.

Mais de 60 tipos

Digamos que, para não zerar no teste de atendente de dispensário, o varejista da flor roxa quase acertou ao afirmar que existem mais de 60 tipos de maconha. Porém, vou mais além e digo que é impossível dizer com precisão a quantidade de cepas — strains — de maconha existentes no mundo. Certamente, são mais de 60.

E quanto à flor roxa prensada, dá zero para ele!

O porquê de removermos os áudios

Durante nove anos, o objetivo da Smoke Buddies é informar e alertar a todos os envolvidos acerca da maconha os riscos da proibição e consequentemente a necessidade urgente de uma regulamentação. Os áudios que antes estavam disponíveis neste texto foram removidos para preservar a segurança de uma pessoa que devido ao sistema e faltas de oportunidades achou na comercialização da maconha — uma substância que não é nociva e por motivos esdrúxulos segue proibida — o sustento de sua família.

Volto a reforçar, tal artigo não visa condenar e tão pouco prejudicar quaisquer partes envolvidas. Por isso a decisão de usarmos apenas a transcrição da mensagem, mostrando uma realidade vivida por consumidores e vendedores que serviu de base para uma crítica à proibição e não às pessoas envolvidas, sejam usuários ou fornecedores.

Fica o Alerta

Devido ao alto número de apreensões, é notável a escassez de maconha em vários estados brasileiros, mas como já adiantei acima, isso não é uma vitória das guerras às drogas e seus patronos proibicionistas, já que essa ação não elimina a procura e tampouco a oferta.

Entretanto, vale o alerta aos consumidores: cuidado com o que se adquire e consome, principalmente em períodos de ‘seca’, esse é um cuidado com a sua saúde. Não adquirir ou consumir um produto como o da foto é redução de danos. Se é prensada, marrom, fedorenta e úmida, é maconha estragada! 

Ah, antes de ir, vale a chamada prévia. Cansou de um produto duvidoso e sem qualidade e das leis proibicionistas e quer uma mudança concreta? Aproveite e programe-se desde já para comparecer, com os Buddies, às Marchas da Maconha que são realizadas todos os anos em diversos estados brasileiros. Lute pelo direito ao cultivo, pela aquisição por vias legais e seus direitos. Consumidor de maconha também é cidadão!

Conheça como nasce o prensado paraguaio:

Como nasce o “prensado”

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia em vista superior de quatro pedaços, de diversos tamanhos, de prensado de maconha sobre uma superfície de mármore claro. Foto: autor desconhecido, via WhatsApp.

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Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
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