Canadá: aroma exalado por cultivos de maconha em áreas residenciais incomoda vizinhos

Fotografia de um cultivo de maconha, repleto de inflorescências, no interior de um grow/tenda com paredes refletivas, onde também se vê os dedos de uma pessoa que segura  um dos lados da abertura da barraca. Foto: Grow Weed Easy.

“Pensamos que era inverno e provavelmente os gambás estariam hibernando”, disse a moradora de uma das regiões onde pessoas com licenças médicas estão cultivando cannabis no interior de casas. As informações são da CBC News

Pessoas que vivem em vários bairros situados na região norte de Winnipeg, capital da província de Manitoba, no Canadá, dizem que se tornaram prisioneiros em suas próprias casas desde que seus vizinhos venderam suas casas para novos proprietários que as transformaram em operações de cultivo de maconha medicinal.

“O cheiro é horrível”, disse Eddie Calisto-Tavares.

Calisto-Tavares é dona de seu próprio negócio e, como muitos, agora trabalha em casa por causa da pandemia de Covid-19. Ela e o marido passaram a fazer caminhadas diárias pela vizinhança em março e começaram a sentir um cheiro forte ao redor de certas casas, disse ela.

“Pensamos que era inverno e provavelmente os gambás estariam hibernando”, disse ela.

“Comecei a conversar com os vizinhos e eles disseram: ‘Bem, isso não é gambá. Isso é maconha’. Eu disse: ‘O quê? Bem, por que estaria cheirando?’. E eles disseram: ‘Por que eles estão cultivando em nossos bairros’”, disse Calisto-Tavares.

Casas de cultivo

A CBC News bateu às portas de 36 casas suspeitas de abrigar operações de cultivo de maconha medicinal. A maioria parecia vazia. Quase todas as casas tinham câmeras de segurança instaladas do lado de fora e, em alguns casos, o cheiro de cannabis podia ser sentido da rua.

A CBC também obteve os documentos de título de propriedade e licenças para cada endereço e descobriu que 34 das casas tinham painéis elétricos recentemente instalados. Dez das casas tinham licenças para instalação de eletricidade anteriores, as quais os inspetores da cidade disseram que foram usadas para cultivar cannabis.

Em uma rua no bairro Amber Trails, há quatro casas sendo usadas para o cultivo de maconha medicinal. Uma mulher que atendeu a porta de uma das casas disse que todas são licenciadas pela Health Canada (agência de saúde canadense), mas ela não sabia dizer quantas plantas podem ser cultivadas.

“Minha mãe cuida dessas coisas”, disse ela.

Em Garden City, um casal disse que seu vizinho de longa data vendeu a casa há alguns anos e duas jovens se mudaram para lá. Passados alguns meses, elas disseram ao casal que estavam cultivando cannabis para um avô doente. O casal ficou desconfiado e chamou a polícia.

Leia: O que ocorre se um vizinho acionar a polícia por conta do cheiro da erva? Pergunte ao Doutor!

“É uma casa de drogas, é por isso que as janelas estão todas bloqueadas”, disse um homem de 70 anos que mora perto de um bangalô de C$ 350.000 em uma rua tranquila.

“A polícia disse que havia 140 plantas. Que tipo de avô precisa de 140 plantas?”, disse o casal.

Outro casal em Valley Gardens tinha preocupações semelhantes sobre o cheiro que vinha da casa do vizinho.

“Todos os dias no verão, eu não conseguia nem sentar do lado de fora. Era muito ruim”, disse um deles, que não quis ser identificado por medo de que os vizinhos pudessem ter ligações com o crime organizado.

Esta não seria a primeira vez que a casa seria usada para cultivo. Uma licença para energia elétrica de 2009 diz que a fundação precisou ser reparada em razão de um buraco feito para o roubo de eletricidade. Outra licença dizia que a casa precisava ser reconectada à rede hidrelétrica depois de ser usada como operação de cultivo.

A polícia recebe várias reclamações sobre cultivo

A polícia de Winnipeg diz ter recebido inúmeras reclamações sobre suspeitas de cultivo de cannabis em bairros residenciais e, embora as preocupações sejam compreensíveis, se os produtores tiverem uma licença da Health Canada para maconha medicinal, não há muito que a polícia possa fazer.

“As operações de cultivo de cannabis podem ser autorizadas pela Health Canada, caso em que são legais. O Serviço de Polícia de Winnipeg não tem autoridade para investigar atividades que sejam autorizadas pela Health Canada e não apresentem risco à segurança pública”, disse o inspetor Max Waddell em um comunicado à CBC News.

“O Serviço de Polícia de Winnipeg é restringido pela legislação de privacidade, incluindo o Ato de Informações de Saúde Pessoal, de divulgar informações ao público sobre atividades autorizadas pela Health Canada”, disse Waddell.

A Justiça de Manitoba disse que sua unidade de investigações de segurança pública examinou 16 queixas sobre cultivo de maconha neste ano, mas não pôde dizer se alguma foi considerada ilegal. Um porta-voz disse que enquanto todas as reclamações são investigadas, elas são mantidas em sigilo.

Não há necessidade de viver em uma operação de cultivo médico: Health Canada

A Health Canada diz que não exige que as pessoas vivam nas casas onde estão cultivando maconha para fins medicinais, mas que pode haver estatutos municipais específicos que proíbam essas operações.

“Embora esteja fora da jurisdição da Health Canada fazer cumprir a legislação provincial ou municipal, o departamento incentiva todas as províncias, territórios e municípios a usar as ferramentas à sua disposição para garantir que os indivíduos cumpram todos os padrões e estatutos”, disse um porta-voz por e-mail à CBC News.

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Calisto-Tavares disse que os moradores estão fartos e querem ver os governos tratarem do assunto.

“Moro neste bairro há 29 anos, onde criamos os nossos filhos, onde passeamos com os nossos cães”, disse Calisto-Tavares.

“Não tenho nada contra as pessoas que cultivam cannabis se precisarem dela por razões médicas. Mas vamos encarar os fatos, ninguém compra uma casa de C$ 400.000 a C$ 500.000 para cultivar cannabis para seus próprios fins“, disse ela.

Calisto-Tavares disse que os vizinhos vêm pressionando os políticos a fazerem algo a respeito há anos e que a questão finalmente seria discutida na prefeitura, em uma reunião do comitê de propriedade e desenvolvimento do conselho.

“O acesso foi além do razoável e você está pagando de C$ 400.000 a C$ 500.000 por uma casa”, disse o conselheiro Ross Eadie, que falou sobre o assunto na reunião.

As pessoas autorizadas a produzir cannabis medicinal não deveriam fazer isso em uma área residencial, disse Eadie.

“Pessoas com capacidade para produzir esta cannabis medicinal, você sabe, elas poderiam se reunir e comprar um armazém com abordagens diferentes e outras coisas, e eles deveriam estar fazendo isso em uma área industrial”, disse ele.

Eadie levantou a questão no ano passado, mas não foi a lugar nenhum.

O comitê está discutindo uma moção de Eadie para que a administração municipal desenvolva um relatório sobre as opções legais que a cidade tem para regulamentar ou proibir o cultivo de cannabis em áreas residenciais.

“Temos classificações de propriedade por causa de questões como essa”, disse Eadie.

“Portanto, se o seu único objetivo de comprar esta casa é para produzir cannabis medicinal, você não a está comprando para fins residenciais. É uma categoria diferente”.

A equipe da cidade deve examinar o que está sendo feito em todo o Canadá sobre o assunto e apresentar recomendações para Winnipeg, disse ele.

“Há uma pequena cidade, em Alberta ou Sascachevão, que realmente aprovou uma lei e disse que os médicos colocam limitações no cultivo de cannabis medicinal”, disse Eadie.

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Chefes de polícia levantam preocupações

A Associação Canadense de Chefes de Polícia (CACP) também levantou preocupações sobre o cultivo de cannabis em áreas residenciais.

“Eu entendo a frustração que as comunidades sentem e é por isso que, francamente, não é apropriado que as pessoas cultivem uma quantidade significativa de cannabis dentro de uma residência localizada em uma região onde as pessoas vivem e as crianças estão por perto”, disse Mike Serr, copresidente do comitê consultivo sobre drogas da CACP e chefe de polícia em Abbotsford, na Colúmbia Britânica (BC).

Ele citou um exemplo em que alguém em BC foi autorizado a ter 500 plantas, mas estava cultivando dezenas de milhares de plantas.

“Ouvimos de nossos colegas em todo o país que eles ainda têm preocupações significativas com o crime organizado que se infiltrou nos mercados, principalmente nos mercados médicos, com pessoas com licenças de produção designadas”, disse Serr.

Quando a cannabis foi legalizada para adultos em outubro de 2018, um dos objetivos era tentar desmantelar o crime organizado, disse ele.

Existem bem mais de cem produtores licenciados de cannabis em todo o país, disse ele.

“Gostaríamos muito de ver o sistema médico e o sistema de varejo se fundirem em um único sistema — que as pessoas que precisam de cannabis para fins médicos possam agora ter acesso razoável por meio de uma infinidade de lojas diferentes, ou on-line, que agora estão sendo colocadas em vigor com a legalização”, disse Serr.

Embora os produtores de maconha licenciados estejam sujeitos a uma regulamentação significativa, os indivíduos que cultivam para uso medicinal não estão, disse ele.

“Não há muita fiscalização, francamente, com o modelo médico. Não há as checagens e contrapesos que ocorrem nos mercados de varejo e produtores licenciados”, disse Serr.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia de um cultivo de maconha, repleto de inflorescências, no interior de um grow/tenda com paredes refletivas, onde também se vê os dedos de uma pessoa que segura  um dos lados da abertura da barraca. Foto: Grow Weed Easy.

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