Fundos de investimento em maconha ganham força no Brasil

Embora incipiente no Brasil, cerca de 3 mil pessoas já investiram mais de R$ 35 milhões nos primeiros fundos de investimento relacionados à indústria da maconha em território brasileiro. Com informações do Yahoo

No final de novembro, o Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos votou pela aprovação de um projeto que pode retirar a cannabis da Lei de Substâncias Controladas no país e remover as restrições federais. Apesar de ainda não ter sido aprovada no Congresso americano, um grupo de investidores do outro lado da América celebraram a notícia. Os fundos de ações relacionados à maconha chegaram ao Brasil.

Cerca de 3 mil pessoas já investiram mais de 35 milhões de reais nos dois primeiros fundos de investimentos relacionados à indústria da cannabis em território brasileiro. “A taxa de juros vem caindo e isso faz o investidor olhar para outros mercados buscando oportunidades. Enxergamos o potencial no setor ligado à legalização e regulação, principalmente do uso medicinal no mundo todo”, explica George Wachsmann, sócio-fundador e gestor da Vitreo.

Os fundos lançados recentemente pela gestora de recursos Vitreo fazem aplicações no exterior e visam atingir públicos diferentes. Divulgado em outubro, o Vitreo Canabidiol FIA IE investe 100% do patrimônio no mercado financeiro dos EUA e do Canadá, sendo dois terços do portfólio em ETFs (Exchange Traded Fund – fundos negociados em bolsa de valor) vinculados à maconha e um terço em ações de cinco a seis companhias do segmento.

No entanto, por ser totalmente conectado a ações internacionais, esse fundo pode ser acessado apenas pelo Investidor Qualificado que tenha pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras ou certificação técnica aprovada pela CVM. Por outro lado, o segundo fundo, lançado em novembro deste ano, é destinado justamente aos pequenos investidores: o Canabidiol Light investe 20% no fundo Vitreo Canabidiol FIA IE e 80% no fundo Pi Selic Firf Simples (em títulos públicos pós-fixados de taxa zero).

O valor mínimo para investimento é de R$ 5 mil (na Black Friday, chegou a R$ 1 mil), mas George alerta que é uma aplicação arriscada. “São fundos bastante voláteis. O investidor precisa ter em mente que está investindo em ações com grande potencial, mas com os riscos inerentes dessas indústrias”, afirma. Ele se refere, entre outros pontos, às aprovações farmacêuticas para o uso medicinal e validações políticas.

“Não é para alguém investir toda a renda nisso, apenas uma pequena parte do dinheiro destinada ao investimento de risco”, aponta George. Para Karina Garbes, Economista do App Renda Fixa, esta não é uma aplicação para quem está começando. “Deve-se estar ciente que é uma aposta que pode dar bastante dinheiro, e entrar no início certamente ajuda a ter ótimos lucros. Porém, apenas um pequeno percentual do patrimônio pode ser empregado”.

Outra que recentemente lançou um fundo voltado à cannabis foi a XP Investimentos. O chamado Trend Cannabis FIM investe em ações de empresas dos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra que trabalham com a planta da maconha de forma legalizada em produtos para uso recreativo ou medicinal, acompanhando o ETF MG Alternative Harvest.

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O cenário econômico da maconha

O mercado legal de maconha deve atingir 66,3 bilhões de dólares até o final de 2025, de acordo com um relatório da Grand View Research, Inc. Apesar de incipiente no Brasil, 49% dos investidores estadunidenses já estão investindo ou estão abertos a investirem em ações de maconha, segundo pesquisa realizada pelo GOBankingRates. Diversas indústrias podem ser afetadas pela cannabis, desde saúde e recreação até cosméticos, alimentos e bebidas.

“É uma chance de investir em empresas que vão aproveitar essas oportunidades, como farmacêuticas, galpões, laboratórios e negócios que se beneficiam da cadeia de produção. Não estamos apostando em nada relacionado ao consumo ilegal”, comenta George. Ele diz que muitas pessoas vêm entrando em contato para entender a legitimidade do investimento, já que a cannabis não ainda é propriamente legalizada no Brasil, ainda que o uso medicinal tenha sido aprovado recentemente pela Anvisa.

Karina explica que, por se tratar de aplicações realizadas fora do Brasil, o investidor não corre nenhum risco neste sentido. “As pessoas têm medo, mas não há perigo do ponto de vista jurídico. Pelo contrário, o mercado internacional é até favorável”, explica. Além do Canadá e Estados Unidos, diversos países, como Itália, Uruguai, Alemanha, Chile, Austrália, México e Espanha estão na vanguarda e se apresentam como promissores para o setor.

“Quanto mais países aprovarem o uso, melhor para os fundos. O Brasil, por exemplo, é um país enorme com um mercado potencial astronômico”, indica George. “Esse não é um investimento para curto prazo, pensar a longo prazo é fundamental. É importante não criar um oba-oba e ter entendimento que o alto risco existe. Mas há um potencial muito grande por trás do tabu cultural”, finaliza.

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#PraCegoVer: fotografia (em destaque) em vista superior e plano fechado que mostra uma inflorescência apical de cannabis, com folhas serrilhadas e pistilos de cor amarelo-claro, e, ao fundo, desfocado, uma plantação de maconha, sob uma rede branca, que toma todo o restante da imagem. Foto: Victoria Rothstein – Fickr.

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