Witzel, o sangue destes cidadãos está em suas mãos
Só em 2019, 16 crianças foram baleadas e 5 não resistiram. Dos policiais, 186 agentes de segurança baleados, 49 mortos – e o sangue destes NÃO está nas mãos dos consumidores de maconha e outras drogas, mas sim na ponta da caneta dos políticos, como o governador Witzel
Pode ser que até o fim deste texto as vítimas sejam outras mais, mas os culpados continuam sendo os mesmos: os governantes quem mantêm a “Guerra às Drogas”, não quem consome maconha ou cocaína.
A polícia do Rio de Janeiro mata um pessoa a cada 5 horas, e isso tudo em nome dos bons costumes, moral e saúde. Pilares que sustentam uma política proibicionista que só faz ceifar vidas de pessoas negras e pobres, entre elas moradores de comunidades, crianças, traficantes e policiais.
Em nome da falida, fracassada e utópica Guerra às Drogas, constantemente são registradas mortes no Rio de Janeiro, entre elas a da pequena Ágatha Vitória Sales Felix, de 8 anos, que teve sua vida tirada na última sexta-feira (20). Segundo o levantamento da Plataforma Fogo Cruzado, além de Ágatha, só em 2019, mais 15 crianças e 186 agentes foram baleados, destas 5 crianças e 49 policiais foram a óbito junto com suas famílias que tiveram seus sonhos interrompidos.
Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro mostram que, entre janeiro e julho deste ano, 1075 pessoas morreram em operações policiais na cidade, um crescimento de 20% no número de fatalidades em comparação com o mesmo período no ano passado.
Enquanto Witzel celebra algumas mortes e a por outras culpam os usuários, mais um “Brasileiro” morre
Num cenário de contradições, o Brasil, com quase 210 milhões de habitantes, é o país que mais mata e morre na busca da soluções de seus problemas.
A atual situação vivida pelos moradores do Rio é reflexo da política de “abate” defendida pelo governador Wilson Witzel, o mesmo que celebra a morte de um sequestrador e deseja ter uma “autorização para mandar um míssil naquele local e explodir aquelas pessoas“, ao se referir à comunidade Cidade de Deus como reduto da facção criminosa Comando Vermelho.
Só que o governador esquece que suas canetadas, frases sem sentidos e de cunho violento promoveram e continuarão promovendo mortes de inocentes, como as das crianças Ágatha (8), Victor Almeida (7), Kauã Vítor (11), Jenifer Silene (11), e de agentes de segurança, como o policial militar Felipe Brasileiro Pinheiro, de 34 anos, que integrava o Grupo de Intervenção Tática da Unidade Pacificadora e foi morto durante uma operação no complexo do Alemão, zona norte do Rio. A morte do PM Brasileiro foi a segunda em menos de 24 horas no Rio, entre 4 policiais mortos na semana.
Três dias após a morte de Ágatha, Witzel dá as caras em coletiva de imprensa, o que representou seu primeiro pronunciamento público sobre o assassinato da menina, para condenar os usuários de maconha e cocaína ao invés de assumir a culpa e o sangue em suas mãos.
“Quem usa droga ajudou a apertar esse gatilho”
WILSON WITZEL
Governador do Rio“É bom que você, que não é dependente químico mas usa maconha e cocaína recreativamente, faça uma reflexão. Porque você é diretamente responsável pela morte da menina Ágatha, você tirou a vida dessa menina. Você, que usa maconha e cheira cocaína, dá dinheiro para alimentar esses genocidas que usam as comunidades como escudo humano. Quem está no crime organizado é terrorista e eles que estão apertando os gatilhos. Quem usa droga ajudou a apertar esse gatilho”, afirmou Witzel, que foi denunciado à ONU por causa do assassinato, após movimentos de favela associarem sua política de segurança com o trágico caso, segundo publicação d’O Globo.
“Guerra às Drogas”
É notável o uso proposital das aspas quando cito o famigerado confronto, e agora em tom irônico – em nome da moral e da saúde da população, essa guerra é, como sempre cito, do sistema contra as pessoas. O Brasil continua seguindo na contramão das políticas globais, que buscam descriminalizar o consumo e regulamentar a cadeia de produção, distribuição e venda.
Nenhum país (repito, nenhum!) registra os mesmos dados assombrosos de mortes, prisões e violência envolvendo as drogas como registramos. Arrisco dizer que se somarmos todos os casos relacionados à erva em países que já descriminalizaram e ou regulamentaram a maconha, o número não chega perto do total de mortes registradas no Brasil em nome da “Guerra às Drogas”.
Não defendo as drogas, não defendo a violência e muito menos defendo essa política decadente, que há anos não apresenta os resultados almejados. Defendo a vida e o consumo consciente – ou seja, já que sabemos que o usuário vai consumir independente se regulamentado ou não, criminalizado ou não, que este consumo seja consciente e visando a redução de danos. Na prática, a proibição não funciona e seus danos colaterais atingem a muitos da sociedade, menos a camada de elite, onde o consumo e a venda também existem, mas sem os problemas e confrontos vistos nas comunidades cariocas.
A tal política de drogas, promotora desta guerra, mais mata e criminaliza do que protege. Mata não só a sociedade, mas principalmente nosso valor sobre a vida humana – e a culpa disso é de pessoas como o governador Witzel, os ministros do STF, o ministro da Cidadania Osmar Terra e os demais políticos que se furtam de regulamentar as drogas no Brasil.
Parem de nos matar!
#PraCegoVer: fotografia (de capa) que mostra manifestantes carregando balões amarelos e uma faixa branca que traz escrito em vermelho “Parem de nos matar”, durante o velório da menina Ágatha Félix. Foto: Zô Guimarães – Folha Press.
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