USP Ribeirão terá centro de pesquisa em maconha

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O primeiro Centro de Pesquisas em Canabinoides do Brasil será inaugurado ainda este ano na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. As informações são do portal da USP de RP.

Na foto prédio da Saúde Mental da FMRP, onde vai funcionar o Centro de Pesquisas em Canabinoides.

O campus da USP de Ribeirão Preto inaugura ainda este ano o Centro de Pesquisas em Canabinoides da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), um centro para pesquisa e desenvolvimento de medicamentos contendo canabinoides, substâncias derivadas da maconha, nome popular da planta Cannabis sativa.

O projeto, inédito no Brasil, é resultado de parceria entre a USP e a indústria farmacêutica Prati-Donaduzzi. O Centro vai funcionar numa ampliação do prédio da Saúde Mental e já tem aprovado estudo clínico sobre o uso do canabidiol (CBD, um dos primeiros componentes da maconha descrito cientificamente). O teste será realizado em mais de 120 crianças e adolescentes com epilepsia refratária.

O professor Antonio Waldo Zuardi, do departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP e coordenador do novo Centro, diz que reunirão no local os trabalhos do grupo de pesquisa de Ribeirão Preto, com ala destinada à pesquisa básica de laboratórios e outra, à pesquisa clínica com pacientes e voluntários saudáveis.

Atualmente, a comunidade científica vem creditando ao CBD grandes possibilidades terapêuticas, com muitas pesquisas já em fases pré-clínicas. Epilepsia resistente a tratamentos, esquizofrenia e doença de Parkinson estão entre as doenças que “possuem ensaios clínicos em pacientes, porém ainda precisam de estudos com maior número de pacientes para que o canabidiol possa ser registrado como medicamento pelas agências reguladoras”, conta Zuardi.

Com a criação desse Centro, os especialistas da USP esperam aumentar os estudos colaborativos e levar rapidamente resultados desses conhecimentos para a sociedade, com “redução de sofrimento e melhora da qualidade de vida de pacientes e suas famílias”.

Do bolo de maconha ao tratamento de epilepsia

O grupo da FMRP, que integra o Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-TM) do CNPq, coordenado pelos professores Jaime Hallak, também da FMRP e Flavio Kapzinski, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com estudos sobre o CBD, vem colocando o Brasil na vanguarda das pesquisas sobre o potencial terapêutico desse e outros derivados da maconha.

Os recentes achados da equipe de Ribeirão Preto, e de outros pesquisadores ao redor do mundo, mostram benefícios do CBD no tratamento de epilepsia infantil (nos casos que não respondem aos medicamentos tradicionais). As informações colaboraram para que a considerada “substância proibida” entrasse na lista de medicamentos de uso controlado pela Anvisa.

As pesquisas com o canabidiol começaram com um “experimento gastronômico”, no início dos anos 1960, quando o bioquímico israelense Raphael Mechoulam resolveu testar seus achados. Mechoulam, que havia elucidado estruturas químicas de vários compostos da maconha, testou em seus amigos os efeitos de cada substância misturada à massa de bolos preparados por sua esposa.

Foi então que Mechoulam observou que apenas os convidados que ingeriram bolo com o CBD apresentaram os efeitos típicos da droga. “Ficaram chapados”, na linguagem popular. De lá para cá, conta José Alexandre Crippa, colega do professor Zuardi na FMRP e vice coordenador do INCT-TM, a ação farmacológica antiepilética do CDB foi descoberta pelo cientista brasileiro Elisaldo Carlini na década de 1970 e confirmada em humanos, em 1980.

Essas descobertas “ficaram adormecidas por muitos anos”, continua o professor Crippa, até que foi amplamente resgatada, principalmente pelos esforços do professor Zuardi e sua equipe da FMRP que “há quase quarenta anos pesquisa o canabidiol e é o grupo brasileiro com maior número de publicações sobre a droga”.

Segundo Crippa, com a recente renovação pelo CNPq do projeto do INCT-TM, as pesquisas com as substâncias derivadas da maconha contam agora com oito centros e 18 sub-centros de estudos espalhados pelo Brasil e exterior. Os recursos investidos representam “uma das maiores iniciativas mundiais, integrando a pesquisa básica e clínica com o CBD, com outros canabinoides e outros compostos com potencial terapêutico”.

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