Uso de maconha após ataque cardíaco ou procedimentos pode estar associado a complicações

Fotografia de uma pessoa em perfil, do nariz ao queixo, tragando um baseado e um fundo em degradê de verde-oliva. Foto: Gras Grün | Unsplash.

Consumidores de maconha que sofreram ataque cardíaco ou foram submetidos a intervenção cardíaca têm maior probabilidade de serem readmitidos no hospital por ataques cardíacos recorrentes ou procedimentos coronários, de acordo com dois estudos preliminares a serem apresentados nas Sessões Científicas de 2020 da Associação Americana do Coração

Fumar maconha aumenta o risco de complicações após procedimentos cardiovasculares, e os usuários de maconha que sofreram ataque cardíaco ou foram submetidos a intervenção cardíaca têm maior probabilidade de serem readmitidos no hospital por ataques cardíacos recorrentes ou procedimentos coronários, de acordo com dois estudos preliminares a serem apresentados nas Sessões Científicas de 2020 da Associação Americana do Coração. A reunião será realizada virtualmente de sexta-feira, 13 de novembro, a terça-feira, 17 de novembro de 2020, e é um intercâmbio global importante dos mais recentes avanços científicos, pesquisas e atualizações de práticas clínicas baseadas em evidências sobre a ciência cardiovascular para saúde em todo o mundo.

O uso de maconha (também conhecida como cannabis) está se tornando mais prevalente nos EUA, pois vários estados a legalizaram para uso adulto ou medicinal. No entanto, a pesquisa indica que a maconha apresenta riscos substanciais e nenhum benefício para a saúde cardiovascular, e pouco se sabe sobre a segurança do hábito de fumar maconha para pessoas com doenças cardíacas, de acordo com uma Declaração Científica de 2020 da Associação Americana do Coração. Dois novos estudos, realizados por pesquisadores separados, exploraram como o uso da maconha afeta os pacientes com doenças cardiovasculares.

Não tão inofensivo: uso de maconha e resultados hospitalares após intervenção coronária percutânea — insights da Blue Cross Blue Shield do Consórcio Cardiovascular de Michigan (Apresentação P1916)

Os pesquisadores do Michigan investigaram se os pacientes que fumaram maconha têm um risco aumentado de complicações após procedimentos de intervenção coronária percutânea (ICP) em comparação com aqueles que não fumaram maconha. A ICP, que inclui angioplastia e colocação de stent, é um procedimento não cirúrgico para abrir uma artéria cardíaca bloqueada e restaurar o fluxo sanguíneo para o coração.

“À medida que a maconha está se tornando mais acessível nos EUA, há uma necessidade de pesquisas rigorosas para se compreender melhor os efeitos do uso da maconha na saúde cardiovascular”, disse Sang Gune Yoo, MD, médico residente em medicina interna da Universidade de Michigan e autor principal do estudo.

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Os pesquisadores usaram um registro estadual de mais de 113.000 pacientes em Michigan que se submeteram a angioplastia de janeiro de 2013 a outubro de 2016. Quase 4.000 pessoas, ou 3,5% dos participantes do estudo, relataram fumar maconha dentro de um mês após um procedimento de ICP, no entanto, eles não especificaram se a maconha havia sido prescrita. A maconha medicinal — uso prescrito para uma condição médica — é legal no Michigan desde 2008, e a maconha para uso adulto foi legalizada no estado em 2018 (após o período de tempo deste estudo).

Os pacientes que fumaram maconha e realizaram angioplastia tinham em média 54 anos, 79% eram do sexo masculino e 73% deles também fumavam cigarros. Eles tinham menos fatores de risco tradicionais para doenças cardíacas, como colesterol alto, diabetes ou pressão alta.

Depois de ajustar as diferenças entre os pacientes que fumaram ou não fumaram maconha, os pesquisadores descobriram:

  • Fumar maconha foi associado a um maior risco de acidente vascular cerebral (AVC) após a ICP. “No entanto, isso deve ser interpretado com cautela devido à taxa geral muito baixa de AVC após a ICP”, disse Yoo.
  • Os fumantes de maconha tiveram um risco aumentado de sangramento de aproximadamente 50% após a ICP.
  • Pacientes que fumaram maconha tiveram um risco menor de lesão renal aguda em comparação com aqueles que não fumaram.
  • Não houve diferenças significativas no risco de morte ou na necessidade de transfusão de sangue entre os grupos.

“Embora as pessoas que fumam maconha possam ter maior risco de complicações como AVC e sangramento pós-ICP, isso não deve impedir os pacientes que usam ou usaram maconha de buscar procedimentos de ICP, que potencialmente salvam vidas”, disse Yoo. “Como o uso de maconha continua a aumentar, os profissionais médicos e os pacientes devem estar cientes desses riscos aumentados de complicações após a ICP. Os médicos devem examinar e aconselhar os pacientes sobre a maconha antes do procedimento devido aos riscos de complicações graves”.

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O autor sênior do estudo, Devraj Sukul, MD, MS, cardiologista intervencionista da Universidade de Michigan, observou que “compreender se os efeitos da maconha são dependentes da dose ou relacionados ao método de ingestão são duas limitações importantes deste estudo e permanecem importantes questões para pesquisas futuras”.

Os coautores com Yoo e Sukul são Milan Seth, MS, Thomas Earl, MD, Cyril Ruwende, MD, PhD, Milind Karve, MD; Ibrahim Shah, MD; Thomas Hill, MD; e Hitinder S. Gurm, MD.

O centro de coordenação do Consórcio Cardiovascular Blue Cross Blue Shield Michigan (BMC2) é apoiado por uma doação da Blue Cross Blue Shield de Michigan para a Universidade de Michigan. O patrocinador não teve nenhum papel no desenho do estudo ou na decisão de publicar este trabalho.

Prevalência, tendências e impacto do uso de cannabis em hospitalizações com infarto do miocárdio prévio e revascularização (Apresentação P380)

Este estudo multicêntrico avaliou a prevalência e o impacto do uso de maconha nas admissões hospitalares de pacientes com ataques cardíacos anteriores e procedimentos de revascularização. A revascularização refere-se a restaurar o fluxo sanguíneo para o coração e inclui intervenções não cirúrgicas, como intervenção coronária percutânea (ICP), bem como cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM). A CRM é um procedimento cirúrgico para restaurar o fluxo sanguíneo normal para uma artéria coronária bloqueada.

Os pesquisadores examinaram o National Inpatient Sample (Amostra Nacional de Internação), o maior banco de dados de acesso público nos EUA, para avaliar a taxa de admissões hospitalares em pacientes com histórico de ataque cardíaco anterior, ICP e/ou revascularização do miocárdio, e usuários e não usuários de maconha autoidentificados de 2007 a 2014. O banco de dados, que inclui cerca de 8 milhões de internações hospitalares a cada ano, não inclui detalhes sobre fumar ou comer ou outras formas de consumo de maconha. Vários estados legalizaram ou descriminalizaram a maconha medicinal e/ou para uso adulto durante o período do estudo.

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A análise encontrou:

  • um aumento relativo de 250% no uso de cannabis entre pacientes que sobreviveram a um ataque cardíaco ou revascularização;
  • 67% dos sobreviventes de ataques cardíacos que usaram cannabis tiveram um ataque cardíaco subsequente contra 41% dos não usuários de cannabis; e
  • usuários de cannabis tiveram taxas mais altas de hospitalizações por ICP e CRM recorrentes.

Os usuários de maconha tinham maior probabilidade de estar na meia-idade (idade média de 52 anos em comparação com a idade média de 72 para não usuários); serem negros (34% vs. 10% de não usuários); e serem do sexo masculino (77% vs. 62% de não usuários). Além disso, os usuários de cannabis tiveram taxas significativamente mais baixas de pressão alta, diabetes e colesterol alto, no entanto, não está claro por que esses fatores de risco eram baixos.

“Houve um aumento alarmante na tendência do uso de cannabis entre pacientes que já tiveram um ataque cardíaco ou procedimento de revascularização coronária durante o período do estudo”, disse o autor principal do estudo, Rushik Bhuva, MD, fellow de cardiologia do Centro Wright de Saúde da Comunidade em Scranton, Pensilvânia. “Outro achado preocupante foi que a frequência de ataques cardíacos recorrentes e intervenções cardíacas era maior entre os usuários de cannabis, embora fossem mais jovens e tivessem menos fatores de risco para doenças cardíacas”.

“Divulgar a consciência sobre o risco potencial de ataques cardíacos recorrentes em usuários de cannabis afro-americanos, masculinos e de meia-idade e examiná-los mais cedo para fatores de risco potenciais de ataques cardíacos futuros deve ser incentivado entre os médicos”, disse Bhuva. “Além disso, o papel da cannabis medicinal, seus benefícios e riscos potenciais no que diz respeito ao controle cardiovascular precisam ser validados em estudos maiores”.

As limitações do estudo incluíram a incapacidade de acessar o modo e a dose de consumo de cannabis e a falta de informações sobre o tempo desde o uso de cannabis até o evento cardíaco, se o uso foi social ou medicinal e a falta de informações clínicas do paciente.

Os coautores com Bhuva são Rupak Desai, MBBS; Sandeep Singh, MBBS; Zainab J. Gandhi, MBBS; Faizan Ahmad Malik, MD; Virmitra G. Desai, MBBS; Vraj Patel, MBBS; Prince Khimani, MBBS; Falah Abu Hassan, MBBS; e Zarna Bambhroliya, MBBS.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia de uma pessoa em perfil, do nariz ao queixo, tragando um baseado e um fundo em degradê de verde-oliva. Foto: Gras Grün | Unsplash.

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