Uso clínico da cannabis medicinal em animais: a experiência de Rosário (Argentina)

Fotografia da cara de um gato de pelagem branca e cinza olhando para cima, em direção a uma folha de maconha que encosta em seu focinho.

Gastón Nielsen, veterinário dedicado às terapias canábicas, falou sobre o uso medicinal da cannabis em animais e o trabalho desenvolvido por grupo de profissionais da área na cidade de Rosário, na Argentina. Confira, a seguir, na reportagem do Industria Cannabis

Gastón Nielsen é um veterinário que se dedica à aplicação clínica da cannabis medicinal em seus pacientes, especificamente cães e gatos. Nielsen, juntamente com outros veterinários da região de Rosário, na Argentina, fundou o grupo Veterinários Dedicados às Terapias Canábicas de Rosário (Vedtcra), com o objetivo de se organizar legalmente. O grupo pertence à área veterinária da Aupac (Associação de Usuários e Profissionais pela Abordagem da Cannabis).

O veterinário teve seu contato inicial com a cannabis medicinal a partir do diagnóstico de Parkinson de seu sogro e por meio de uma cliente que é membro-fundadora da Aupac, que o encaminhou a um tratamento com cannabis com ótimos resultados. A partir daí, ele e sua esposa, que também é veterinária, começaram a desenvolver tratamentos com cannabis em animais. “A Aupac nos forneceu os primeiros óleos e depois nos aconselhou sobre como produzir. Entre algumas experiências que fiz e o apoio da Aupac, que nos deu suporte, começamos a usá-lo em pacientes como cães e gatos”, disse Nielsen ao Industria Cannabis.

Em relação ao uso da cannabis, que prescreve e recomenda, o veterinário comentou que considera o uso “para a clínica diária, não só para convulsões ou casos muito específicos. É uma possibilidade de medicamento, embora siga a tendência dos usos empíricos mais clássicos. Tenho como indicação especial para pacientes idosos e como paliativo da dor”.

Entre as patologias em que Nielsen aplicou doses de cannabis medicinal, estão dores osteoarticulares em cães, convulsões refratárias que geralmente não respondem aos tratamentos anticonvulsivantes tradicionais, doenças autoimunes, retenção de urina após castrações e acompanhamento de quimioterapia que, de acordo com sua experiência, “dá qualidade de vida e posso confirmar até o fim da vida do animal”. Da mesma forma, o profissional de Rosário afirmou que, particularmente, “os pacientes com linfoma que consomem cannabis têm uma sobrevida mais longa do que aqueles que não a consomem” e esclareceu que “resta saber quais benefícios particulares que desenvolve”.

 

 

No âmbito da pesquisa acadêmica, dada a falta de artigos ou estudos mais detalhados de acordo com a patologia e as características dos animais, “o mais importante é a troca de experiências. Usamos muita medicina humana. Levado para a clínica, no país são poucos os veterinários que trabalham com cannabis”, segundo Nielsen, que alerta também para a falta de material de leitura e estudo, “nesse sentido, os congressos tornam-se essenciais. Aprendo muito com a experiência de outros colegas e vice-versa, por isso congressos como o Vetcann são muito bons porque há muito intercâmbio”.

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Assim como o foco no uso clínico da cannabis em pacientes veterinários é muito importante, o trabalho realizado requer o tecido de redes que articulem e unam profissionais para buscar não só o enriquecimento de experiências, mas também o suporte organizacional. Foi assim que surgiu o Vedtcra.

“Entre o final do ano passado e o início deste ano, entramos em contato para formar esse grupo, para trocar conhecimentos sobre o uso clínico. Temos uma conexão muito boa com o Vetcann, que trabalha na Colômbia há 20 anos”, explicou Nielsen ao Industria Cannabis.

No grupo, eles atuam em diferentes etapas do processo de tratamentos medicinais, entre elas, a formulação dos óleos com as proporções de canabinoides indicadas para administração os animais. As formulações são feitas por proporção, que geralmente são de 1:2 (THC e CBD, respectivamente).

“Estamos sempre buscando concentrações em que o CBD supere, mas não que só o CBD seja encontrado na composição, segundo nossa experiência”, afirmou o veterinário de Rosário.

Em relação à situação jurídica na Argentina, Nielsen destacou que a cannabis medicinal veterinária ainda não está inclusa em nenhum regulamento atual ou proposto e que, embora a organização esteja promovendo a inclusão da área veterinária, isso vai demorar mais. Ele também prevê um horizonte importante para o desenvolvimento industrial da cannabis medicinal para uso veterinário em poucos anos, lembrando, por sua vez, que “deve haver um marco regulatório importante para a qualidade do óleo, do plantio à fabricação”.

Nielsen acrescentou que o papel do Estado é fundamental no que se refere à fiscalização dos óleos e que “esse controle não ser viciado por interesses também será fundamental”. Ele observou que a particularidade de Rosário é que “sempre houve mobilização sobre a cannabis” e que há muitos grupos “mobilizados politicamente”.

Existem experiências semelhantes ao grupo de Rosário, como Cannvet, na província de Neuquén, ou grupos na Cidade Autônoma de Buenos Aires, mas o desenvolvimento do conhecimento em medicina veterinária se estende dia a dia por todo o território argentino.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia da cara de um gato de pelagem branca e cinza olhando para cima, em direção a uma folha de maconha que encosta em seu focinho. Foto: Psyplants.

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