Uruguai: clubes e cultivadores de cannabis estão na mira da fiscalização

Fotografia em vista superior do top bud de uma planta de cannabis (maconha), onde se vê alguns pistilos de cor creme ao centro e várias folhas de bordas escuras. Foto: THCameraphoto.

Federação de clubes canábicos e secretário de drogas do país criticam proposta do governo que pede a criação de um registro de clubes e cultivadores domésticos

Desde sua criação, a lei que regulamentou a cannabis no Uruguai segue sendo alterada para melhor atender o estado, sociedade, produtores, distribuidores e, claro, consumidores. Mas há alterações que não são bem vindas, como o artigo que visa permitir ao Ministério do Interior acessar o endereço de produtores e clubes de cannabis.

Um dos desejos do falecido ministro do interior Jorge Larrañaga é também um dos motivos de confronto entre a pasta de segurança e o Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (IRCCA). A proposta que trata do acesso à localização dos clubes de cannabis e autocultivadores cadastrados no Ircca vem sofrendo altos e baixos.

Segundo o El País, um relatório feito pela Unidade de Regulamentação e Controle de Dados Pessoais havia endossado o pedido do Ministério do Interior. Recentemente o governo apresentou o projeto de Prestação de Contas ao Parlamento e estabeleceu uma emenda à Lei de Controle e Regulação da Cannabis. Com isso, fica habilitado o acesso ao endereço e localização dos cultivadores e clubes de cannabis cadastrados no Ircca, a fim de prevenir o crime.

O texto indica que podem ser realizadas fiscalizações e controles regulares e que “somente serão consideradas sensíveis as informações relativas à identidade dos titulares dos atos de registro”.

O subsecretário da pasta de segurança, Guilhermo Maciel, explicou ao El País que solicitou uma consulta à Unidade Reguladora de Dados Pessoais e o informe deu a razão ao ministério.

“O Ministério do Interior busca cuidar e fornecer segurança aos clubes canábicos, que têm sido roubados em vários departamentos”, disse Maciel, acrescentando que os objetivos são “cumprir a prevenção do crime no lugar que hoje é atraente para criminosos” e “apoiar o Ircca na tarefa de controles regulares”, uma vez que possui “poucos funcionários para realizar controles e fiscalizações que sirvam para garantir o cumprimento da lei”. Ou seja, eles garantirão que não seja plantado mais do que o permitido.

Federação de Clubes Canábicos do Uruguai

A FeCCU — Federación de Clubes Cannábicos del Uruguay — emitiu um comunicado alertando que o projeto terá a “consequência de que menos pessoas decidam se registrar para obter cannabis pelos canais legais e, em vez disso, recorram ao mercado ilegal, indo contra o objetivo da lei de regulação do mercado da cannabis”.

Além disso, a Federação apontou no texto que está “preocupada com a possibilidade de controles regulares”.

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Críticas

Além dos clubes, cultivadores e militantes, Daniel Radío, diretor da Secretaria Nacional de Drogas (SND), também rejeitou categoricamente o artigo incluído no Relatório de Prestação de Contas e que permite ao Ministério do Interior acessar o endereço e localização dos produtores e clubes de cannabis registrados no Ircca.

“Acredito que o artigo é um erro e, portanto, não precisa prosperar”, advertiu Radío. “Não resolve nada, prejudica e tem deslealdade institucional”. Segundo o diretor da SND, o atual ministro Luis Alberto Heber não concorda com esta linha de pensamento, nem o falecido Jorge Larrañaga.

O que o ex-ministro estava propondo, explicou, era a possibilidade de acessar os endereços para garantir a segurança dos clubes. “Este artigo não segue essas linhas”, disse ele ao El País. “Aqui o Ministério do Interior se propõe a fiscalizar os clubes e isso é algo que não foi levantado por ninguém. É um artigo que está equivocado”, disse.

Alterações

“Podemos retirá-lo perfeitamente”, disse o atual ministro do Interior, Luis Alberto Heber, ao se referir ao artigo e garante que está disposto a realizar modificações a respeito dos cultivadores caseiros.

“O artigo não fala somente dos clubes canábicos, mas também sobre o autocultivo”, disse o ministro em uma coletiva de imprensa. “O autocultivo geraria não só o endereço de quem cultiva, mas também de quem consome e isso gera ruído, portanto podemos retirá-lo perfeitamente”, acrescentou.

Heber indicou que este aspecto está entre os temas que quer mencionar na Comissão de Segurança e Convivência do Senado e garantiu: “A intenção não era criar um registro”.

“O que acontece é que com o autocultivo existem as duas pessoas, a que cultiva e a que consome. Mas estamos dispostos a tirar isso. O que queremos são os endereços dos clubes canábicos para distinguir o legal do ilegal”, enfatizou.

Segundo o El País, o ministro reiterou que o objetivo da legalização da venda e do plantio da maconha em geral era “combater o ilegal com a legalização da plantação. Então o que custa saber onde estão, saber as que são legais”.

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#PraTodosVerem: fotografia em vista superior do top bud de uma planta de cannabis, onde se vê alguns pistilos de cor creme ao centro e várias folhas de bordas escuras. Foto: THCamera Cannabis Art.

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Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
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