Uma session com os malucos mais sóbrios do umdois – parte 2

Fotografia de Léo Rocha (com um 'cigarro enrolado' na boca) e Thito Russo (usando óculos escuros) abaixados, encarando a câmera, em uma visão de baixo para cima, que capta ainda, em fundo claro, a fachada de um prédio, fios de rua e parte de um caminhão. Sober October.

Concluído o desafio do Sober October, Léo Rocha e Thito Russo contam os detalhes do primeiro rolê de novembro, a volta à rotina e o que fica da experiência

Pontualmente às 10h30, cheguei a uma casa na zona oeste de São Paulo para a entrevista pós Sober October com Léo Rocha e Thito Russo, que me esperavam tomando uma cerveja. “Você disse que queria nos entrevistar chapados, aqui estamos”, brincou Léo.

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Natural para quem acompanhou o desenrolar do desafio pela internet, estava curiosa para saber detalhes do rolê de redenção da dupla, e, desta forma, agendei uma entrevista com eles em forma de session, para resgatar as memórias e sensações da primeira brisa de novembro, que acabou por se entrelaçar com a nossa daquela manhã.

#PraCegoVer: foto de Léo Rocha e Thito Russo agachados, olhando para a câmera, e, por baixo de uma estrutura metálica arredondada, pintada de amarelo. Foto: @marisobrall.

A expectativa

Na mesma sala em que, alguns dias antes, Léo e Thito acenderam o beck que rompeu 31 dias sem maconha, começo perguntando sobre a preparação para aquela ocasião. Eles contam que, diferente da experiência de 2018, quando se viram bêbados depois de um copo de chope em pleno expediente, houve planejamento para o fim deste Sober October.

“A gente foi a um mercado que temos costume de ir antes das gravações, é até um hábito que estava sentindo falta quando estava sóbrio”, conta Thito. “Escolhemos cervejas boas, assim como não queríamos fumar prensado”. Para fazer fumaça, a escolha foi a strain Big Bud: uma variedade indica com nível médio de THC de 16%, de acordo com o Leafly.

Com dois packs e mais algumas latas nas mãos, a dupla seguiu para o estúdio. “A expectativa acabou na hora que a gente abriu a porta daqui”, conta Léo, que descreveu o primeiro gole de breja como um alívio. “Tive uma sensação muito estranha, do meu paladar não sentir aquilo há muito tempo. Minhas papilas gustativas estavam brilhando”, conta Thito.

A estratégia de começar pelo álcool também foi pensada, eles dizem, justamente para potencializar o efeito do primeiro baseado. “Antes de fumar, a gente bebeu duas brejas e já estava alto”, conta Léo, que comparou a sensação às primeiras aventuras alcoólicas, “nas festinhas, de moleque, quando você começa a beber”. Thito diz que “a primeira breja foi equivalente à terceira, quarta do rolê, quando você já começa a falar mole, mas ainda não está bêbado”.

A session

Liberado o álcool, hora da fumaça. “O Léo fumou, passou, e eu, não sei porque, achava que não ia chapar muito. Quando veio, veio como um trem”, conta Thito, já alegre pela cerveja matinal, enquanto prepara um cigarro para a nossa roda.

“Quando o Thito e eu fumamos e estamos inspirados, a gente fica falando merda por uns 15 minutos, no máximo. Dessa vez, a galera disse que a gente ficou mais de uma hora”, lembra Léo.

A brisa, que incluiu a clássica e incontrolável crise de riso e “pareceu de doce”, segundo Thito, se estendeu até pouco mais de meia noite, quando, depois de irem a um bar e não conseguirem tomar mais do que um copo de cerveja, eles tiveram uma sedativa noite de sono. E acordaram com aquela ressaca básica. “Que saudade de acordar com o passarinho cantando, agora acordo com pontada na barriga”, resume Thito, com seu humor característico e peculiar.

A intenção se realizou como manifestada, e a primeira session dos dois chegou ao pico do que eles esperavam sentir. O que não esperavam, porém, é que seria tão intensa a ponto de não conseguirem terminar o beck – nem a gravação do vídeo que estavam produzindo naquela noite.

“Tendo em vista o quão chapado a gente ficou, não tivemos bad, porque temos a experiência de fumar há anos e reconhecer a brisa. Mas, imaginando uma pessoa que está experimentando pela primeira vez, é bem possível ter várias bads”, reflete Léo.

Vida nova (?)

Acendemos o baseado e começamos a falar sobre a volta à rotina, novos e antigos hábitos e outras ideias que pairavam na sauna em que se transformou aquela sala. “O plano é manter esse superpoder, de usar pouco e ficar chapado”, diz Léo que, em outubro, gastou apenas 20% do valor que costuma ver todo mês na fatura do cartão de crédito.

Por outro lado, ele conta que não conseguiu manter o hábito de pedalar, adquirido em outubro, por conta de um pneu furado. “Vi no Google Maps uma borracharia perto de casa, mas eu chego lá e tem um açougue”, ele conta, fazendo a roda rir – que, naquele ponto, já não era lá tão difícil.

Breve pausa para reabastecermos os copos, e uma constatação pessoal de que a sala fechada estava esfumaçada e quente demais. Anoto no bloquinho que minhas bochechas fervem. Que sede!

Entre pequenas mudanças de hábito, como excluir o primeiro beck compartilhado do dia, e a intenção de ter mais controle sobre como e onde pirar, brotam na conversa, que chega perto do fim, frases poderosas. “Eu tinha receio que não ia ser engraçado fazendo as merdas que eu faço nas gravações, mas conforme foram passando as semanas, eu vi que tinha a minha essência mesmo, e isso não dependia de estar bebendo ou fumando”, resume Thito que, ainda assim, disse ter bebido “dois dias seguidos, ou talvez três ou quatro (risos)… mas, muito menos que antes, e só porque as ocasiões pediram”.

E, quando a pergunta é direta, Léo não hesita em responder que versão de si mesmo ele prefere: “chapado”. Já Thito, com a dicção que indica o sucesso da nossa session em forma de entrevista, brisa: “Não dá para responder essa pergunta. Porra. Eu ficaria muito dividido. Eu gostaria do Thito sóbrio. Mas, o Thito é louco, mano, não tem como. Eu realmente consegui, nesse tempo sóbrio, resolver coisas que eu estava evitando, pessoais, introspectivas, e isso é bom. Aí é foda você desmerecer tudo isso falando que prefere o Thito sóbrio, sendo que eu não conseguiria isso sem o Thito louco, sabe? Mas, a resposta é sim, locão”.

Leia também: 

Sober October: um papo com os malucos mais sóbrios do umdois – parte 1

#PraCegoVer: fotografia (de capa) de Léo Rocha (com um ‘cigarro enrolado’ na boca) e Thito Russo (usando óculos escuros) abaixados, encarando a câmera, em uma visão de baixo para cima, que capta ainda, em fundo claro, a fachada de um prédio, fios de rua e parte de um caminhão. Foto: Beatriz Limeres.

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Sobre Thaís Ritli

Thaís Ritli é jornalista especializada em cannabis e editora-chefe na Smoke Buddies, onde também escreve perfis, crônicas e outras brisas.
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