Uma pessoa é presa por dia com drogas em aeroportos brasileiros, aponta PF

Fotografia que mostra um agente da divisão de entorpecentes da polícia federal de costas para a câmera, enquanto segura a guia de um pastor alemão, que está farejando a carroceria de uma caminhão, e outros agentes e caminhões, ao fundo. Drogas.

O Brasil, fazendo fronteira com os três maiores produtores de drogas do mundo, é tido como país de escala do tráfico para a Europa e EUA, segundo representante da ONU. Com informações d’O Globo

Uma pessoa foi presa por dia acusada de tráfico de drogas em aeroportos brasileiros nos últimos dez anos. Dados obtidos pelo GLOBO com a Polícia Federal (PF), por meio da Lei de Acesso à Informação, mostram que de janeiro de 2009 a setembro deste ano, 5.023 pessoas foram detidas com substâncias ilícitas ao embarcarem ou desembarcarem nas cinco regiões do país.

Se no início da década, as principais rotas de drogas no país, via aérea, passavam pelos aeroportos internacionais de Guarulhos (SP) e Galeão (RJ), com o tempo, as organizações criminosas expandiram sua atuação no Brasil e no exterior e passaram a usar trajetos fora do eixo Rio-São Paulo, como Manaus (AM).

Em dez anos, a PF apreendeu cerca de 20 toneladas de cocaína nos aeroportos brasileiros. Guarulhos é o principal ponto de apreensões e prisões no país, seguido pelo Galeão. Das 5.023 pessoas presas, 3.362 foram detidas em Guarulhos (66%). No Rio, foram 396 (7,8%). Em 2015, no entanto, o cenário começou a mudar. O Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, passou a ser o segundo em prisões e se estabeleceu como uma das rotas do tráfico no país.

País de escala

A extensa fronteira do Brasil é um dos motivos da grande entrada de drogas. Três dos países fronteiriços são considerados os maiores produtores do mundo (Colômbia, Bolívia e Peru), de acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), que apoia países na implementação de políticas internacionais sobre entorpecentes.

O Brasil é tido como um país de escala do tráfico para a Europa e para os Estados Unidos, de acordo com o coordenador da Unidade de Estado de Direito do UNODC, Nivio Nascimento.

O país é também o segundo consumidor de cocaína das Américas. A maior parte das rotas para África e Europa tem passagens por aqui. Os dados de apreensões em Guarulhos, que tem sido campeão na apreensão de cocaína, mostra que é uma rota que está aquecida — explica.

De acordo com Nascimento, o aumento no número de apreensões e prisões no aeroporto de Manaus se deve à proximidade com os grandes países produtores e a rede de rios, que facilita o escoamento da droga para o aeroporto. Além de ser uma saída rápida para o Caribe e a Europa.

Ampliação do negócio

Dados da PF mostram ainda que aeroportos de pequeno e médio portes passaram a ser usados por “mulas” — pessoas sem antecedentes criminais usadas para o transporte de droga — com o passar dos anos. Essa mudança ocorreu em função da sofisticação da cadeia de produção e distribuição das drogas, segundo o ex-ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann.

— As grandes facções verticalizaram o negócio. Elas têm o controle de distribuição e passaram a ter um controle maior da produção em países vizinhos, como Paraguai e a Bolívia. No Paraguai tomaram, como no Brasil, o sistema prisional. A verticalização ocorre para aumentar a margem de lucro e se internacionalizarem.

O ex-ministro diz ainda que o sistema prisional, superlotado e dominado pelas facções, é hoje um “bunker” de criminosos, ponto de recrutamento dos traficantes e o principal desafio de combate às drogas.

— Em vez de propiciar punição e ressocialização, ele se transforma em um home office das facções. Quanto mais gente jogarmos lá dentro, mais gente estaremos recrutando para o tráfico.

Segundo a PF, o órgão busca o desmantelamento das facções por meio da prisão dos líderes, da descapitalização dos grupos, além da responsabilização pela lavagem de dinheiro.

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O tráfico de drogas além das fronteiras nacionais

#PraCegoVer: fotografia (de capa) que mostra um agente da divisão de entorpecentes da polícia federal de costas para a câmera, enquanto segura a guia de um pastor alemão, que está farejando a carroceria de uma caminhão, e outros agentes e caminhões, ao fundo. Foto: Marcelo Piu.

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