Turismo de maconha ganha fôlego nos Estados Unidos

Enquanto a legalização completa não chega, e parece mais longe com o governo de Donald Trump, turistas americanos e estrangeiros tomam conta de cidades onde o comércio da maconha floresce de forma razoavelmente organizada desde 2014. As informações são da Folha de S.Paulo.

Esqueça os cafés esfumaçados de Amsterdã. Nos EUA, a maconha virou matéria-prima de uma nova indústria bilionária em ascensão, estimulando o surgimento de produtos variados e experiências inusitadas para os setores do turismo e do bem-estar.

Embora legalizada para maiores de 21 anos em oito Estados, a planta ainda é considerada substância ilegal pelo governo federal no mesmo nível que a heroína. Seu uso recreativo é controverso entre médicos, que alertam para chances de dependência e a piora em quadros psiquiátricos como depressão, ansiedade e esquizofrenia.

Enquanto a legalização completa não chega, e parece mais longe com o governo de Donald Trump, turistas americanos e estrangeiros tomam conta de cidades onde o comércio floresce de forma razoavelmente organizada desde 2014, com lojas que vendem a droga em uma variedade sem fim de produtos, de pastilhas de microdosagem, chocolates finos e refrigerantes a pílulas para cólicas menstruais, géis eróticos e pomadas analgésicas.

Turistas visitam estufa da Kush Tourism em Seattle, no Estado de Washington, onde a maconha é legal

 

“Percebemos que a experiência de comprar e consumir cannabis está mudando”, diz a empresária Emily Paxhia, cofundadora do fundo de investimentos Poseidon Asset Management, dedicado a firmas da indústria da maconha, ou cannabis, como preferem profissionais da área.

“Não é mais apenas a procura por ficar bem louco e sim uma busca pela experiência completa. Visitar uma loja agradável e bonita, frequentar clubes sociais. Existem muitas conversas sobre espaços em potencial para degustações”, diz ela. “A cannabis sempre teve apelo social. E agora estamos começando a entender como criar experiências ao redor dela.”

TURISMO DE MACONHA

Algumas experiências em quatro cidades dos EUA

Denver, Colorado
Yoga com maconha
O Twisted Sister organiza aulas apelidadas de Ganja Yoga. É preciso confirmar on-line, pagar antes (US$ 15) e levar sua própria droga

Los Angeles, Califórnia
Jantar à base de maconha
O chef Chris Sayegh cobra entre US$ 200 ou US$ 500 por pessoa para preparar o menu com pratos temperados com a erva e que inclui também vinhos

San Francisco, Califórnia
Casamento Canábico
No Cannabis Wedding Expo, noivos podem contratar mais de 60 serviços, como vestidos denoiva de fibra de cânhamo e espaços amigáveis a usuários da erva

Portland, Oregon
Tour de Bicicleta
Passeios levam turistas para conhecer suas lojas favoritas de maconha, num percurso de 8 km em três horas. O guia explica a história da planta e também sugere locais.

Analistas afirmam que o mercado tenha potencial de crescer dos atuais US$ 6 bilhões (R$ 19,5 bilhões) para US$ 50 bilhões em uma década, impulsionado sobretudo pela Califórnia, maior PIB dos EUA e o sexto do mundo, à frente de Brasil e França.

Os californianos votaram pela legalização em 2016, e o comércio começará em 2018.

É no extremo norte do Estado que ficam as plantações de Humboldt County, um marco zero da produção de maconha de alta qualidade no mundo e que abastece todo o país, tanto o mercado legal como ilegal. A região é quase o dobro de tamanho dos vales vinicultores vizinhos de Napa e Sonoma.

AIRBNB CANÁBICO

No Colorado e em Washington, Estados pioneiros no comércio legal, o turismo da planta está por todo lado.

Há panfletos de ônibus que levam a lojas, aulas de gastronomia e visitas a pequenas plantações em estufas, além de diversos sites de hospedagens com casas particulares ou hotéis que recebem usuários sem preconceito.

Isso resolve o principal problema do turista, já que é proibido fumar ou consumir em lugares públicos, incluindo nas próprias lojas ou tours.

O BudandBreakfast.com, por exemplo, imita o formato do Airbnb, mas com ferramentas que detalham como a droga pode ser usada: pode-se fumar apenas no quintal, só com vaporizador ou, se for liberado, nos quartos.

“Os donos acham que os turistas da cannabis são mais respeitosos e interessantes do que a típica molecada universitária de 20 e poucos. Isso minimiza o risco de dano às propriedades”, diz o site.

O empresário Michael Gordon, 29, começou a Kush Tourism com uma van que circulava por lojas de Seattle. Hoje sua marca que abrange parceiros em seis Estados.

O site oferece hospedagem, atividades e até transporte especializados. “As ruas de Seattle, numa sexta à noite, cheiram a maconha, e ninguém parece se importar mais”, disse Gordon. “Nunca vi alguém ser multado, mas bom senso sempre ajuda.”

Mais de 20% de seus clientes são estrangeiros. “Há muitos do Canadá e Europa. E, por alguma razão, muitos brasileiros e australianos.”

ENTENDA

Quais Estados legalizaram o uso recreativo?
Colorado, Washington, Oregon, Alasca, Califórnia, Nevada, Massachusetts, Maine e o Distrito de Colúmbia, onde fica a capital, Washington

Qualquer pessoa pode fumar maconha nesses Estados?
Não. Apenas maiores de 21 anos

O consumo é permitido em qualquer local?
Não. Continua ilegal fumar em público, mesmo em parques nacionais, o que pode levar a multas; fumar no carro, só se autorizado pelo motorista e apenas no banco de trás, na maioria dos Estados; hotéis, restaurantes e bares costumam ter regras rígidas contra cigarros e drogas

É permitido andar com maconha no bolso?
Sim. Na maioria dos Estados, até com 28 gramas da droga. Na capital Washington, até 56 gramas

Pode-se comprar maconha?
Sim. No Colorado, diz-se que há mais lojas de maconha do que Starbucks. Na Califórnia, assim como em outros Estados que passaram a lei em 2016, só haverá venda para uso recreativo em 2018

Onde se pode fumar, então?
Em qualquer ambiente particular, como na casa de um amigo, um clube fechado, um hotel adepto da prática

É possível levar produtos de maconha para o Brasil?
Sementes, chocolates e cigarros são proibidos. Shampoos, cachimbos e produtos que não causam efeito podem, em tese, entrar no país

O que deve mudar com Trump na Presidência?
Durante a campanha, ele falou que respeitaria as decisões dos Estados; depois de eleito, indicou como secretário da Justiça Jeff Sessions, que é contra a legalização em âmbito federal e pediu uma revisão das políticas atuais

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