Tráfico de drogas move R$ 17 bi por ano, diz general que defende legalização

Fotografia de vários pacotes grande de drogas embalados em plásticos brancos e amarrados com fita marrom passada em forma de cruz em sua parte de cima, no primeiro plano, e, ao fundo, várias pilhas de pacotes menores (placas) embalados com plástico de cor marrom escura.

Segundo estimativa do general da reserva Alberto Mendes Cardoso, o tráfico de drogas movimenta R$ 17 bilhões por ano no Brasil. Para o general, a legalização das drogas, a começar pela maconha, seria a solução efetiva para a questão e o primeiro passo seria a realização de fortes campanhas educativas. Saiba mais na reportagem do UOL.

O mercado de drogas movimenta R$ 17 bilhões por ano no Brasil, afirma o general da reserva do Exército Alberto Mendes Cardoso. Ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência da República, ele defende a legalização gradual das drogas, a começar pelo consumo de maconha, mas só a partir do ano de 2034, depois de uma “forte campanha educativa”. A medida desestimularia o negócio ilegal e os crimes associados, a exemplo de assassinatos e assaltos, defende o militar.

Para o general Cardoso, a resistência à legalização das drogas parte do conjunto de pessoas beneficiadas por esse bilionário mercado clandestino.

“Uma grande quantidade de pessoas envolvida nisso aí não quer nem pensar em legalização porque a lucratividade do seu crime depende muitíssimo da situação de ilegalidade da atividade”, afirmou ele na noite de terça-feira (18), depois de palestrar no 14° Enecob (Encontro Nacional de Editores, Colunistas, Repórteres e Blogueiros), em Brasília.

“Quem é que ganha com isso? Só o traficante e o usuário? Nessa cadeia tem muito suborno”
General da reserva Alberto Mendes Cardoso

O general citou como exemplo a prisão de 54 policiais militares, na terça-feira (18), por vínculos com o narcotráfico e o PCC (Primeiro Comando da Capital).

Fotografia em primeiro plano e meio perfil do general Alberto Mendes Cardoso vestindo paletó cinza e gravata azul e falando ao microfone.

#PraCegoVer: fotografia em primeiro plano e meio perfil do general Alberto Mendes Cardoso vestindo paletó cinza e gravata azul e falando ao microfone; o registro foi feito em 2010. Créditos: Zulmair Rocha – Folhapress.

Aos 78 anos, Cardoso é doutor em Ciências Militares pela Eceme (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército). À frente do GSI, durante o governo FHC (1995 a 2002), ele criou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), a Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas) e o Programa de Integração e Acompanhamento de Políticas Sociais para Enfrentamento dos Indutores de Violência.

Permitir o comércio de drogas é necessário, mas é preciso cautela, diz o militar. O primeiro passo é ir com cuidado, porque a medida é irreversível, acrescenta.

“Não se pode manter uma nação proibida, uma sociedade manietada. A proibição vai contra a natureza humana e, em última análise, contra a democracia”
General da reserva Alberto Mendes Cardoso

Criador do primeiro Plano Nacional de Segurança Pública, o general da reserva se disse “preocupado” com o fato de a Senad ficar sob a guarda do Ministério da Justiça, e não mais da Presidência da República, como era em sua época de ministro. Para Cardoso, é sinal de que a prevenção ao uso de narcóticos não terá a prioridade e o orçamento necessários.

Organizações violentas têm quatro fontes de renda

Após a palestra, o general afirmou à reportagem do UOL que passou os últimos anos pesquisando e levantando dados sobre criminalidade, consumo de drogas e faturamento das organizações criminosas violentas no Brasil até consolidar a estimativa de R$ 17 bilhões por ano de faturamento anual.

Fotografia de uma linda inflorescência de maconha, em tons de verde, ainda sendo cultivada a céu aberto, no primeiro plano e parte direita da foto, e ao fundo desfocado mais plantas e uma mata.

#PraCegoVer: fotografia de uma linda inflorescência de maconha, em tons de verde, ainda sendo cultivada a céu aberto, no primeiro plano e parte direita da foto, e ao fundo desfocado mais plantas e uma mata. Créditos: Matias Maxx – Agência Pública.

A venda de maconha responderia por R$ 12 bilhões desse “bolo”. A de coca, por R$ 5 bilhões.

Segundo ele, “a cereja do bolo” desse tipo de organização é a venda local de maconha, cocaína e outras drogas. Depois, vêm as rotas internacionais de narcotráfico.

Uma terceira fonte de receita relacionada a essas mesmas organizações seriam crimes contra empresas, a exemplo de assaltos a bancos, empresas de guarda de valores e lojas. A quarta origem do faturamento são crimes contra a população, como roubos e sequestros-relâmpago.

“É o dinheiro que é movimentado para comprar drogas, para subornar um agente público”, explicou à reportagem.

De acordo com ele, o consumo de maconha no Brasil tem uma demanda anual “provável” de 3.000 toneladas. Para a cocaína, são 2.500 toneladas. Ele estima que cada tonelada de cocaína exportada gere um faturamento de R$ 80 milhões, já que o produto puro costuma ser misturado a outros para se transformar em outras drogas, a exemplo do crack.

Leia: Acima de pautas partidárias, legalização das drogas é questão de segurança pública

General defende campanha educativa

O general defende que a maconha seja a primeira droga a ser legalizada pela popularidade e pela menor taxa de malefícios à saúde. Mas reforça que, antes, é preciso fazer uma campanha educativa forte contra as drogas durante pelo menos 16 anos. Seria o tempo necessário, de acordo com seu ponto de vista, para fornecer informação aos cidadãos para optarem por usarem ou não substâncias que causem mal à saúde.

Um dos exemplos citados por Cardoso são as campanhas contra o cigarro, que reduziram o consumo de tabaco no país nos últimos 20 anos. Segundo ele, elas quebraram a ideia de “sofisticação” que o fumo trazia à mente dos jovens. No Brasil, 10,1% da população ainda era fumante em 2017, contra 29,8% em 2000, segundo o Ministério da Saúde e a OMS (Organização Mundial de Saúde). No mundo, a taxa caiu de 27% para 20% entre 2000 e 2016.

Segundo o general, desde 2000, quando foi lançado o Plano Nacional de Segurança Pública, ainda no governo de FHC, campanhas educativas antidrogas já deveriam ter sido iniciadas. Se isso tivesse sido feito, a venda de drogas já poderia ter sido permitida, afirma.

Para Cardoso, a legalização da venda de maconha deveria autorizar o comércio do produto para jovens a partir de 16, que ele considera “a idade do discernimento”.

O militar reclama que, hoje, o que existe é propaganda de incentivo e “glamourização” do consumo de drogas por meio de novelas para adolescentes. Essas campanhas educativas contra o consumo deveriam ser avaliadas periodicamente até a liberação da venda de maconha.

“Tem que ter uma métrica, de ir avaliando os efeitos. Pode ser que chegue em 2034, e se diga: Não, não, nossa garotada ainda não está pronta”, explicou.

Cardoso entende que a sociedade não vai deixar de consumir drogas por simples proibição, embora defenda que a repressão deva ser “implacável” enquanto a venda e o consumo forem proibidos. Segundo o militar, “há muito defensor de manter a ilegalidade da droga por ideologia”.

O militar listou consequências negativas da liberação de drogas observadas outros países, como o aumento do consumo. No entanto, destaca que elas não ocorreram em Portugal, o que seria um “exemplo” para o Brasil.

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#PraCegoVer: fotografia (capa) de vários pacotes grande de drogas embalados em plásticos brancos e amarrados com fita marrom passada em forma de cruz em sua parte de cima, no primeiro plano, e, ao fundo, várias pilhas de pacotes menores (placas) embalados com plástico de cor marrom escura. Créditos da foto: Ministério Público de Goiás.

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