“Tá rocheda”: expressão cearense reconhecida pelo MLP é gíria no universo canábico

Foto que mostra um pedaço retangular de haxixe cor marrom-claro, e parte dos dedos que o sustentam, além de uma porção de buds secos de maconha e duas bolas de hash cortadas, em uma superfície branca.

Popularizado pela banda baiana Os Barões da Pisadinha, regionalismo do “cearensês” também é utilizado no contexto do consumo de maconha. Saiba mais no texto de Sérgio Ripardo para o Diário do Nordeste

O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, destacou o significado de “Tá rocheda”, em suas redes sociais, nesta quarta-feira (30). Não resta dúvida de que essa expressão idiomática ultrapassou as fronteiras do meu “País Ceará” e se popularizou pelo Brasil neste ano. Uma das razões desse fenômeno linguístico, que se originou na periferia de Fortaleza, é o sucesso da banda baiana Os Barões da Pisadinha, que mistura forró e tecnobrega. O grupo transformou a música “Tá Rocheda” em um hit nacional.

Em uma postagem em sua conta do Instagram, o Museu da Língua Portuguesa, cujo prédio está sendo reconstruído em São Paulo após um incêndio em dezembro de 2015, tenta explicar o significado. “A expressão é muito falada no Nordeste do país, sobretudo em estados como Ceará e Pernambuco, e quer dizer ‘beleza’, ‘muito bom’, ‘ótimo’, elogio para uma pessoa bacana”, teoriza.

Leia mais – Sopro de vidro: arte como expressão da cultura canábica no Brasil

O Museu deixa claro que buscou uma definição devido à música do grupo baiano. “Fomos atrás do significado de ‘tá rocheda’, expressão regional que virou uma das músicas mais tocadas no Brasil neste ano, com o grupo de forró Os Barões da Pisadinha”, afirma a postagem.

Para os cearenses, “Tá Rocheda” é uma expressão que se popularizou na última década principalmente entre os jovens que não escondem o orgulho de sua origem e exaltam o vocabulário próprio de sua terra.

Essa maior visibilidade ao dicionário de gírias se deve muito à proliferação de grupos virtuais, páginas em redes sociais, de espaços de convivência de fãs de funk, rap, forró, sertanejo e arrocha, entre outros ritmos musicais populares.

No Ceará, páginas e criadores de conteúdo como Suricate Seboso, Pobretion, Meu País Ceará, Fortaleza Ordinária, La Casa Duz Vetin, entre outros, ajudam a tornar nossas expressões idiomáticas famosas em todo o País, em memes, dublagens e paródias. Por que não dizer “em todo o mundo”? Afinal, a internet não tem fronteiras e “Cine Holliúdy” está aí provando que o Ceará produz audiovisual bem-sucedido desde 2012?!

O sucesso de expressões de nosso “cearensês” simboliza a criatividade da terra dos repentistas, emboladores, aboiadores, cordelistas, dos poetas populares. Orra diacho! Afinal, aqui nasceu Patativa do Assaré e Geraldo Amâncio. Brincar com as palavras, fazer graça e “frescar” está no nosso DNA cultural.

Leia mais: Produções musicais palosas que normalizam a cultura da maconha

Só que as temáticas mudam com o tempo. Hoje estamos mais urbanos, conectados, marqueteiros. Na música, o cearense Matuê é o rapper que resume 2020, seja pelo sucesso comercial, seja pelas críticas positivas às suas letras e sons, por descrever paisagens e hábitos do cotidiano de Fortaleza. Matuê quebra com as expectativas de que o cearense só sabe cantar forró ou MPB. Sua ousadia é falar abertamente de maconha (e posar com a erva também).

Nos bairros da periferia de Fortaleza, originalmente “rocheda” também é uma gíria usada no contexto do consumo de maconha, indicando que o “bagulho é louco, é rocheda”, em tribos urbanas de “pirangueiros” (o “bad boy” cearense) e dos “vetins” (pivetes). Com o Sudeste descobrindo agora a palavra “rocheda”, novos sentidos devem ser incorporados ao termo, já que a língua é algo vivo, se transforma com o uso por diferentes grupos de outras regiões do País.

É rocheda saber que uma palavra nova, originária de nossa terra, deixa as sombras de nossas “quebradas”, de nossos “rolezinhos” e ganha as rádios populares de todo o País.

É rocheda lembrar uma frase do lendário antropólogo e folclorista potiguar Câmara Cascudo (1898–1986), entusiasta das coisas do Nordeste e que se dedicou aos estudos da cultura brasileira: “O melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro”.

Leia também:

Retrospectiva Smoke Buddies: tudo sobre a maconha em 2020

#PraCegoVer: a imagem de capa é uma foto que mostra um pedaço retangular de haxixe cor marrom-claro, e parte dos dedos que o sustentam, além de uma porção de buds secos de maconha e duas bolas de hash cortadas, em uma superfície branca.

Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!