Smoke Buddies no Uruguay: como está o país com a maconha legalizada

Uma flor de cannabis e no segundo, desfocado, a população nas ruas uruguaias. Maconha medicinal.

Para acompanhar de perto como anda a regulamentação da maconha em nosso país hermano, fomos até o Uruguai e partimos para uma trip pelo país de Montevidéu a Punta del Diablo para conhecer, além de suas belezas naturais, locais, turistas e cidadãos uruguaios os quais nos mostraram que a Lei da Marihuana vai muito bem nos moldes de uma “Regulación Responsable”. Confira abaixo o primeiro artigo da série Smoke Buddies no Uy:

Recentemente, o Uruguai voltou a fazer história, em 19 de julho, ao habilitar a venda da maconha nas farmácias e colocar em prática mais uma etapa do processo de regulamentação da maconha que foi iniciado, em 2013, pelo governo do ex-presidente José Mujica.

Acompanhando os avanços dos debates e da Lei 19.172, como correspondente estabelecido no país e cidadão uruguaio desde 2013, Henrique Reichert mostra constantemente como anda – mesmo que a passos lentos e cautelosos – a regulamentação da maconha no Uruguai. Quase 4 anos depois e com a última etapa da lei sendo implementada em julho, aumentamos a equipe e percorremos mais de 600 km pelo país, indo da turística Ciudad Vieja, em Montevidéu, até Punta del Diablo, em Rocha, para conferir de perto uma parte do movimento canábico que mostra que “Regular es ser Responsable”.

Apesar de ser embrionária, a Lei que regulamenta a maconha, com foco principal no combate ao narcotráfico, é recheada de dúvidas sobre sua eficácia por parte dos mais conservadores, mas já adiantamos que o céu uruguaio não desabou após a aprovação da lei e muito menos com o começo das vendas nas farmácias, até mesmo em áreas violentas.

https://www.youtube.com/watch?time_continue=11&v=gljSwfGKFOM

Em nossa trip conhecemos alguns brasileiros radicados no país, suas histórias e expectativas na busca da sonhada liberdade do mercado canábico. Café, clínica canábica, clube de cultivo, growshops, museu e hostels voltados à cultura canábica fizeram parte de nosso roteiro pelas terras uruguaias, onde conversamos com residentes e estrangeiros para ver de perto como vem funcionando a Lei da Marihuana para uruguaios e o que pode ou não para turistas.

Por mais que o governo uruguaio não queira o título de país mais liberal da América Latina, principalmente por conta da maconha, é fácil constatar que os turistas que estão de passagem ou tentando se estabelecer o fazem por conta do respeito à liberdade individual que se evidencia na cultura do país.

O País,  além de ser repleto de belezas naturais, é conhecido por sua história e pioneirismo, uma vez que foi o primeiro a aprovar o voto feminino na América Latina e o segundo da América do Sul a aprovar a união entre pessoas do mesmo sexo, além disso o país demonstrou que respeita as liberdades, e que é a favor da redução de danos, quando regulamentou recentemente o aborto e a maconha.

Mais fácil achar Té do que chá

O governo não quer o rótulo de Amsterdã da América Latina e busca medidas através da regulamentação para evitar a fama de destino canábico, mas o que vimos na prática serve para alertar o turista e o governo que não poderá ignorar esse segmento por muito tempo.

Legalmente, a aquisição da maconha pode ser feita de três maneiras, sendo que através de um registro os cidadãos ou estrangeiros radicados são autorizados a ser um dos 6.996 autocultivadores, ou membro de um dos 63 clubes de cultivo ou ser um dos 12.460 adquirentes da erva nas farmácias, segundo os dados atualizados no dia 15 de agosto e obtidos no Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (IRCCA). Os limites estabelecidos pela lei são de 480 gramas anuais, 40 gramas mensais ou a aquisição de até 10 gramas semanais nas farmácias, respeitando a data e hora da compra realizada anteriormente.

Alfa e Beta, esses são os dois tipos de maconha comercializados nas farmácias do Uruguai. Na Alfa I – do tipo Índica – os efeitos podem ser sentidos a nível físico, e na Beta I – do tipo Sativa – a predominância é de efeitos cerebrais. Ambas variedades possuem quantidades de médias a baixas de THC (2%) e uma taxa maior de CBD (6% e 7%), e são comercializadas em embalagens de 5 gramas, custando 187,04 pesos uruguaios, o equivalente a R$ 22,00.

Apesar da aquisição nas farmácias não ser permitida aos turistas, fumar e portar maconha no Uruguai não é crime desde 1974 e o maior problema que você encontrará será encontrar e escolher entre flores e o prensado paraguaio, o que influenciará no preço do produto, e claro o vento nas calles e ramblas. Para esse último ‘problemão’ a solução é fácil, basta apertar na aLeda que a celulose fará seu porro render

Resumindo, quem quiser fumar maconha fumará! Seja no Brasil que ainda não é regulamentado ou no Uruguai já legalizado, o usuário conseguirá, entretanto, vale observar que a aquisição da erva ainda não é legal para os turistas e isto não poderá continuar sendo ignorado pelo governo do país Hermano.

Tendo em vista que o objetivo da Lei que regulamentou a maconha no Uruguai é enfraquecer o narcotráfico, o segmento turístico não é menos importante e menor do que a própria sociedade registrada como adquirente.

Em artigo publicado recentemente mostramos que segundo um levantamento realizado em fevereiro, na região turística da Ciudad Vieja, em Montevidéu, 63% dos visitantes disseram que acenderam seus baseados durante visita ao país, 50% obtiveram flores e outros derivados, 30% degustaram de alguma comida canábica, enquanto apenas 7% tiveram que recorrer ao prensado paraguaio, produto característico do mercado negro.

Diante disso o Diretor do Observatório Latino-Americano de Pesquisa sobre Política Criminal e Reformas em Direito Penal, Dr. Pablo Galain, entende que os turistas poderiam estar inseridos nos registros levando em conta, por exemplo, a quantidade de dias no país e poderiam inclusive “pagar um imposto que permita o Estado melhorar os programas preventivos em relação ao consumo da maconha”.

Segundo um levantamento realizado em fevereiro, na região turística da Ciudad Vieja, em Montevidéu, 63% dos visitantes disseram que acenderam seus baseados durante visita ao país, 50% obtiveram flores e outros derivados – Foto: Dave Coutinho – Plaza Independência.

Já que o Uruguai tem sido vendido como um país Gay-friendly, Cannabis-friendly e entre outras coisas, faz sentido como política de turismo ser considerada a abertura do mercado canábico.

“Uma política pública baseada na proteção dos Direitos Humanos deve proteger a saúde do turista que consome Cannabis do mesmo modo que protege a saúde dos cidadãos que residem no Uruguai. Não se pode diferenciar o tratamento das pessoas por questões legais ou administrativas de cidadania e residência” – argumenta Galain à rádio uruguaia Espectador.

Cinza

Eu, este ser que relata tal trip, como qualquer turista amante da cultura canábica, assim que aterrissei no país já fiquei imaginando como conseguir una marihuana para fumar. O que não foi complicado.

Apesar de ser domingo e não estarmos nas ruas de Amsterdã, bastou uma volta pela tradicional Feira Tristán Narvaja, realizada na rua de mesmo nome e bem próxima ao centro de Montevidéu, para sentirmos o cheiro de maconha no ar e acharmos uma oferta do típico produto do mercado negro, o prensado paraguaio a 1.000 pesos uruguaios, o equivalente a R$ 100.

Além da feira, também nos deparamos com turistas que estavam de passagem pelo país e nos confidenciaram que ao verem o péssimo produto, de origem paraguaia, resolveram não adquirir, tal como fizemos, justamente pela falta de qualidade. Para fugir do prensado e recorrer às flores é necessário ter algum certo QI – Quem Indica, o que te leva a um produto de melhor qualidade, como flores e derivados, que pode custar em média 2.000 / 2.500 pesos, cerca de 220 / 270 reais, por 25 gramas de cogollos (flores).

Entretanto, mesmo ainda sendo na ilegalidade, a aquisição da erva por este meio é uma das mais discretas e seguras opções, às vezes única, a inúmeras pessoas, turistas e residentes que não querem se registrar, alimentando por fim um mercado chamado de cinza.

Para Dr. Pablo Galain, “este mercado cinza é composto por pessoas participantes do mercado regulamentado que oferecem parte de sua produção a quem não está registrado ou impossibilitado de aderir às vias legais. Uma boa parte desses consumidores podem ser turistas, menores de idade e pessoas que utilizam a cannabis com fins medicinais”.

A Maconha, a Sociedade e a Polícia

A maconha é tão onipresente no Uruguai que além de um museu há também inúmeros eventos dedicados à planta, como a Expocannabis, um dos maiores eventos da América Latina, que será realizada em dezembro no país. Seja através das growshops que vendem de tudo relacionado a cultivo, em eventos, nas rodas de conversas entre turistas e residentes e até nas pautas dos jornais nos últimos anos, a maconha tornou-se um assunto corriqueiro e normal.

Dica: leve o seu Hi-Tobacco

Todo mundo aperta um, mas nem sempre esse ‘um’ é baseado. O Tabaco é caro no Uruguai e a cultura Roll-Your-Own– aperte o seu – é bastante ativa. Então três dicas rápidas: não se espante ao ver alguém ‘apertando um’; se for tabagista leve o seu Hi-tobbaco, pois o cigarro é caro e o mais comum é encontrar o Cerrito – um fumo triturado para apertar de baixa qualidade disponível em maço; e não se anime ao ver ‘pontas e baganas’ pelo chão, pois certamente serão de tabaco. ‘Arght!’

No meu ponto de vista e olfato, mesmo diante de todo o vento do inverno uruguaio, nas calles e nas ramblas o doce aroma da erva era sentido bem discretamente, principalmente se comparado com a Lapa Carioca. Mesmo sendo uma população de mais idade e conservadora, a sociedade uruguaia convive sem dramas com a Marihuana, inclusive a polícia que em poucos momentos cruzou com a gente enquanto degustávamos alguns porros.

Em 13 dias circulando por mais de 600 km pelo país, não nos deparamos com policiamento ostensivo, do tipo blitz ou tropas de choques. Muito menos presenciamos viaturas passando por cada esquina e jogando no camburão pessoas por fumar ou portar maconha.  A notícia mais curiosa, e um tanto cômica, que vimos a respeito da polícia foi uma policial flagrada manejando uma pistola como se tivesse desatando um nó. Coitada.

Compartilhar o baseado é uma das formas mais comuns de acesso entre turistas e residentes no Uruguai. Apesar de não ser crime o consumo e a posse de até 40 gramas, o turista pode ter problemas no momento de aquisição, o que é restrito por lei a cidadãos e residentes, mas isso é assunto que você confere no próximo artigo da série Smoke Buddies no Uy.

Compartilhando “un porro con el mago Carlos Gardel”


No artigo abaixo você verá algumas dicas, como o que pode ou não pode, para turistas canábicos no Uruguai.

Turismo e maconha: veja 5 dicas para curtir sua onda no Uruguai

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Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
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