Reino Unido pode recrutar ex-traficantes se a maconha for legalizada

Caso a regulamentação da maconha seja aprovada no Reino Unido, ex-traficantes e pessoas de comunidades envolvidas com o mercado ilegal da erva podem ter uma segunda chance, só que desta vez de forma legal. Programa de reparação social já é aplicado em Massachusetts, nos EUA

Ex-traficantes de drogas devem ser recrutados e treinados para produzir maconha legal, se o Reino Unido decidir legalizar a cannabis, disse a chefe de um programa norte-americano que supervisiona a venda de narcóticos.

A Comissária responsável pelo comércio legal de maconha em Massachussetts disse que os britânicos devem seguir o exemplo de seu estado e recrutar ex-traficantes de drogas, além de pessoas de comunidades envolvidas no que antes era o mercado ilegal da maconha.

Segundo o jornal The Guardian, antes da conversa com parlamentares em Westminster, nesta semana, Shalenn Title, junto a dois especialistas americanos em regulamentação de drogas, revelou que um projeto está em andamento em seu estado – que legalizou a maconha em 2016 – para treinar antigos traficantes de cannabis para entrarem novamente na indústria da maconha, só que agora de forma legal.

Title ecoa a opinião de Michael Semple, representante especial da União Europeia no Afeganistão e negociados do Talibã afegão, disse que um futuro governo britânico teria que abrir Conversações de Paz com gangues de drogas, se o Reino Unido legalizar.

Semple acredita que o governo, a polícia e outras autoridades devem abrir um diálogo com os traficantes que enfrentam a falência. Segundo ele, ao The Guardian, os formuladores de políticas britânicas não seriam capazes de ignorar “as pessoas diretamente mais afetadas”.

“Dado o grande número de pessoas envolvidas no tráfico de drogas e, internacionalmente, a escala de violência à ‘guerra às drogas’, não deve ser difícil para os formuladores de políticas de drogas preverem um processo de paz com as quadrilhas de traficantes“, diz ele.

Massachusetts

No programa aplicado em Massachusetts, Shalenn Title disse que havia recrutado 150 pessoas até agora, entre ex-traficantes e pessoas de áreas de Boston e de todo estado onde as detenções de drogas foram maiores.

“Eles já possuem habilidades adquiridas ao longo de vários anos. É uma maneira de dar às pessoas e aos eleitores que apoiaram a legalização em nosso referendo o que eles queriam. Eles não queriam entregar o setor a algumas empresas gigantes que o explorariam”.

“Estamos no nosso primeiro projeto, com 150 pessoas, e fazemos uma oferta aos fornecedores que podem ensiná-los a produzir cannabis regulada. Também inclui um programa de propriedade para treinar pessoas que já foram empreendedores no mercado underground”.

Title defende o projeto para absorver ex-traficantes e condenados por drogas, dizendo que “o modelo geral não apenas em Massachusetts, mas também em Illinois e na Califórnia, é reinvestir a indústria legal agora nessas comunidades, porque é uma questão fundamental de justiça.”

“Se há anos sob a proibição de drogas, você tem esse foco de segurança nessas comunidades, depois da legalização, dificilmente se pode dizer a elas: ‘Ah não importa agora, as grandes corporações vão tirar esse negócio de você, vão tirar daqui’. Como isto é justo?”

Title esteve reunida, nesta semana, com outros dois especialistas americanos em legalização das drogas, Sanhoo Tree, do Institute For Policy Studies, de Washington DC e Kathryn Ledebur, diretor da rede Andina de Informação na América do Sul. Eles argumentaram pela necessidade de liberalizar as leis de drogas do Reino Unido, como muitos estados dos EUA estão fazendo. Nova York e Nova Jersey devem ser os próximos dois estados a legalizar o uso de maconha.

Tree salientou que mesmo a capital dos EUA, Washington DC, legalizou a maconha, “onde o céu não desabou, onde as pessoas ainda vão trabalhar e onde as crianças ainda vão à escola”.

Ledebur, cuja área de especialização inclui programas para permitir que os agricultores bolivianos continuem cultivando a planta de coca a partir da qual a cocaína é produzida, disse na “mudança de uma imposição americana sobre a erradicação violenta da planta, na chamada guerra às drogas, para um modelo em que a coca é racionada, os agricultores podem cultivá-la em busca de alternativas e, na verdade, trabalha na criação de renda básica, não destruindo culturas inteiras“.

O trio de especialistas foi convidado a Londres pela Transform Drugs Policy Foundation, que faz campanhas pela legalização e regulamentação das drogas no Reino Unido.

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#PraCegoVer: Em destaque (fotografia) mostra em primeiro plano uma pé de cannabis onde uma pessoa, no segundo plano, manuseia uma tesoura junto a planta.

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Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
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