Raiz Cultivo Indoor celebra dez anos de resistência, ativismo e vanguarda

Dez anos de história, três lojas físicas e milhares de cultivadores atendidos. A trajetória de uma década da Raiz Cultivo Indoor é sinônimo de pioneirismo, ativismo e quebra de paradigmas. Conheça na entrevista com os fundadores

“Qual a diferença entre loucura e ousadia?”, pergunta Amanda Giordano, sócia na Raiz Cultivo Indoor. “A gente só sabe se uma coisa é louca ou se ela foi ousada quando vê o resultado”.

E foi num misto de loucura e transgressão, de ousadia e vanguarda, de coragem e resistência que, há dez anos, um grupo de quatro amigos deu início à Raiz Cultivo Indoor, uma das primeiras growshops, ou lojas especializadas em insumos e equipamentos para cultivo, especialmente da cannabis, do Brasil.

#PraCegoVer: interior da loja da Raiz Cultivo Indoor na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Brasiliense de 41 anos, que cresceu em Salvador, mas se considera carioca, Amanda conta que a história começa com as plantas de poder. “Eu e o Carlos [Vignoli] éramos sócios em outra empresa, que exportava plantas xamânicas medicinais para a Europa e Estados Unidos”, diz. “Mas a empresa teve problema quando o Real valorizou muito e tivemos uma competição forte de outro país com plantas etnobotânicas, o México. Aí, a gente começou a montar uma empresa chamada Inspire-se que, basicamente, ao invés de vender para fora, vendia para dentro”.

Inspire-se

A história da Inspire-se, que ocupou por anos um espaço comercial na Galeria River, entre Copacabana e Ipanema, com o propósito de oferecer plantas enteógenas (como salvia divinorum, amanita muscaria, argyreia nervosa) e produtos de tabacaria para o público mainstream, diz muito sobre os valores compartilhados pelos sócios, fundadores da Raiz.

“Eu me defino como um revolucionário”, diz o carioca Carlos Vignoli, de 61 anos. “Eu não concordo com a ordem das coisas. A questão dos etnobotânicos no meio de Ipanema, na época, foi para desafiar, dentro da lei“.

 

Para Vignoli, que já foi deputado constituinte pelo Rio de Janeiro, velejador profissional, já viajou o mundo, trabalhou em garimpo e já se meteu dentro do mato, a palavra comerciante parece simples demais para definir este ofício. “Virei um comerciante, mas o que possibilitou essa transformação foi uma questão ideológica, de achar um absurdo a qualidade da cannabis no Brasil, e um senso comercial, de ver que no mundo inteiro estava explodindo esse mercado de cultivo indoor”.

“Inicialmente, são quatro sócios: eu, o Carlos, a Amanda e o Manu, que é francês e chegou aqui com todo esse universo de cultivo”, explica Álvaro Sono, cofundador e sócio da Raiz. “A gente sabia que isso ia ser o futuro do mercado, então nós pegamos empréstimo no banco, botamos uma grana legal para atender às necessidades. E nos primeiros anos, nós fomos praticamente os únicos, era um mercado que não existia.”

No flerte com a transgressão, desafiando os limites da lei, com pioneirismo e uma dose de audácia, a Raiz surgiu em um contexto de repressão às drogas – o que não impediu a criação de uma marca autêntica, com voz e (muita) atitude.

“Antes mesmo de montar a loja de grow, a gente vendia o ‘gás do riso’, aquele gás que o dentista usa para anestesia”, conta Sono. “A gente montava loja nos festivais grandes de música eletrônica e acabava com o bar da festa, porque o pessoal só ia no balãozinho. A gente usava balão biodegradável para não poluir, era todo um processo de limpeza e uma logística depois disso, mas era a festa inteira chupando o balãozinho com a logo da Inspire-se”, relembra.

 

No Universo Paralelo, icônico festival na Bahia em que eles participavam, Amanda destaca o lado educativo do trabalho, outra característica que, desde o início, marca a trajetória de uma década da Raiz.

“A gente ficava dando palestra mesmo, o dia inteiro explicando as plantas para as pessoas“, diz. “Às vezes as pessoas tinham experiências psicodélicas difíceis, e voltavam querendo conversar com alguém, mas tinha as que vinham se informar sobre o uso de drogas mesmo, o que pode misturar, o que não pode”.

Onda do cultivo indoor

Polo de cultura canábica, centro de conhecimento, espaço de acesso. A growshop que, nas palavras de Carlos, ‘abriu a porta para os cultivadores’, e hoje possui três unidades no Rio, além de um novo sócio, o Márcio Pereira, começou com o aluguel do ponto no bairro da Glória e a importação de um contêiner cheio de estufas, itens de iluminação e acessórios.

“Era o único lugar do Brasil, naquela época, que tinha esses produtos para pronta entrega”, ele lembra. “As pessoas vinham de carro de outros estados para comprar, outros faziam escala no Aeroporto Santos Dummont só para pegar os produtos”.

A vanguarda da iniciativa, porém, trouxe um desafio. Isso por que, em 2010, eram poucos os brasileiros que conheciam os equipamentos ou que se dedicavam à prática do cultivo indoor, segundo Carlos. “As pessoas usavam coisas rudimentares, estufas feitas em casa. Pouquíssimos os que vieram lá de fora e trouxeram na bagagem“.

Além disso, o contexto proibicionista que marca a existência da loja reflete no comportamento dos consumidores, como explica Sono: “as pessoas que têm essa carga do proibicionismo, nada mais justo, foram super cautelosas, chegando aos pouquinhos, com medo, com receio. Até hoje em dia, eu tenho amigos cultivadores que não vão na loja, não gostam de ser vistos em encontros de cultivadores, por exemplo”.

Por outro lado, uma década de operação permite notar a mudança de perfil do público, que acompanha acontecimentos e conquistas da cannabis em outras esferas. “O que está aumentando agora é a galera idosa, que é careta e está tendo contato com a maconha pela primeira vez por causa do medicinal, ‘as senhorinhas da Apepi’”, explica Amanda. “A gente tem visto também o crescimento da galera LGBT, casais de meninos, de meninas, de homens mais velhos. Aquela coisa de ‘quem casa quer casa’, e agora eu vejo que ‘quem casa quer estufa’”.

“Outro dia eu estava na loja de Niterói, eu, um funcionário e um amigo cliente conversando. Daqui a pouco aparece um PM fardado na porta. ‘Opa, boa tarde’. Aí meu amigo: ‘opa, galera, valeu, vou embora’. E foi. Aí ele: ‘vocês têm perlita e rapid start?’. Ele entrou, pegou, pagou, apertei a mão dele, foi embora, tchau. Isso é uma prova muito incrível de como a mudança chegou forte e tá ficando cada vez mais forte”.

E, ironicamente, no ano em que comemora sua primeira década, em plena pandemia e em meio a um governo de caráter proibicionista, para dizer o mínimo, a Raiz viu um boom no número de novos clientes interessados em aprender mais sobre o cultivo de cannabis.

“Com a pandemia, houve uma explosão de novas pessoas. Muita gente que tinha receio, que adiava seus sonhos, talvez por ter visto que o mundo podia acabar amanhã, estava procurando orientação,  começando a plantar”, explica Carlos. “E acho que as pessoas estão mais tranquilas agora do que estavam há um tempo atrás. Essa série de decisões a favor da cannabis medicinal, os habeas corpus que foram concedidos, está totalmente diferente de quando abrimos”.

Encontros 

“Pra mim, a loja é um ponto de encontro”, diz Amanda. “Amigos vem aqui e passam o dia todo conversando. Às vezes tem seis cultivadores, e vira e mexe rolam discussões homéricas, porque existem várias formas de cultivar e todo mundo acha que a sua forma é a melhor”.

O enriquecedor contato pessoal que faz parte da essência da marca, seja no atendimento, seja nos eventos presenciais promovidos pela loja, chamados Encontro Raiz, é um dos nortes que guia a atuação em um mercado que, como bem disse Sono, “a gente está desbravando na peixeira”.

#PraCegoVer: Registro de uma das edições do Encontro Raiz, que reúne clientes e interessados em aprender sobre cultivo indoor, promovendo conhecimento no assunto.

“Sempre achei importante ter um espaço onde as pessoas vejam os equipamentos, manuseiem, conversem. É isso que vai criar uma cultura. E a gente apostou nesse caminho. Algumas pessoas conseguem bater cabeça e aprender sozinhas, mas se tiver alguém ajudando, o número vai aumentar muito”, defende Carlos.

Para além de garantir o sucesso de cada cliente, estratégico para a empresa, o suporte, que vem em forma de atendimento personalizado, consultoria e eventos promovidos pela Raiz, é também uma forma de exercer a voz ativa e representatividade da marca.

“Se talvez o lado político de uma loja não seja obrigatório, o lado educativo é. E isso é o que eu tenho mais orgulho – a loja em si pode falir a qualquer minuto. Isso é uma realidade para quem vive em um ambiente hostil para pequenos negócios”, explica Amanda.

Legado

Celebrar uma década é, por si só, motivo de satisfação para qualquer empresa no Brasil. Mas, considerando os obstáculos de ser progressista em um nicho que é tabu, a data simbólica traz a oportunidade de relembrar a luta, observar o legado e projetar para o futuro a imagem que se espera do mercado legal de maconha no país.

“A gente teve que ter muita força, superar brigas, mas conseguiu porque dentro de cada um de nós tinha essa visão do ponto que nós estaríamos hoje”, conta Sono. “Nosso maior legado neste período não são as lojas que nós abrimos, não é a gama de produtos que a gente vende, nada disso. O nosso legado são as milhares de pessoas que a gente ajuda, incentiva. Essa é a nossa maior riqueza e o nosso maior orgulho”.

Se a riqueza de um negócio pudesse ser medida não em cifras, mas em outra percepção de consciência, como sugerem as plantas de poder, a Raiz pode comemorar não apenas seu legado, mas o impacto que tem na construção de uma nova sociedade. “Por isso que colocamos o slogan ‘never stop growing’’, diz Amanda. “Eu espero que a gente não pare de crescer, e que as pessoas cultivem cada vez mais”.

E para começar a próxima década fortalecendo o legado de incentivar mais e mais pessoas a cultivar, a Raiz oferece no mês de aniversário (até 30 de novembro) um desconto exclusivo no kit de cultivo ECO60, que inclui estufa, painel Led CobUt01, exaustor, temporizador analógico, vaso e um Trypack da BioBizz.

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) noturna mostra a fachada da unidade da Raiz Cultivo Indoor na Barra da Tijuca. No topo da entrada, um banner traz o logo e nome da loja, enquanto no interior é possível ver as prateleiras com produtos. Plantas penduradas e no lado externo da Raiz, iluminadas em tom verde, completam a cena. Crédito: Divulgação.

Sobre Raiz Cultivo

? Growshop fundada em 2010 especializada em cultivo indoor, orgânico, horticultura e hidroponia, com três unidades no Rio de Janeiro. Whatsapp's - Raiz Barra (21) 99262-2456, Raiz Glória (21) 98136-7121 e Raiz Niterói (21) 99613-2999
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