Racismo Estrutural: Dando a Letra

Um retrato de Elza Soares, em fundo preto, porém com parte de seu rosto, da testa à ponta do nariz, coberta por uma colagem que traz a frase "racismo estrutural", escrita em preto, com fundo amarelo, além de outro recorte, onde se lê "curadoria por Levi Kaique (@levikaiquef)", e um megafone no canto superior direito. À esquerda da imagem, em amarelo, o logo da Bem Bolado Brasil. Imagem: Divulgação.

Que fez e faz história segurando esse país no braço. O cabra aqui não se sente revoltado porque o revólver já está engatilhado e o vingador é lento, mas muito bem intencionado.” — Elza Soares, A Carne (Do Cóccix Até o Pescoço, 2002)

Socialmente, ações racistas são tratadas como doença, atribuindo ao indivíduo racista algum tipo de problema intelectual, mental ou de caráter, tratando como anormalidade e afastando a culpa.

Na verdade o racismo se coloca de forma estrutural. Isso quer dizer que o racismo constitui as relações, consciente e inconscientemente. A estrutura social gera opressões simplesmente por existir, sem a necessidade de que algo seja feito pensando em oprimir e discriminar.

A luta contra o racismo é uma luta também contra as estruturas de privilégio na sociedade. O professor Silvio Almeida aponta a estruturação do racismo em três dimensões:

  • Econômica
  • Política
  • Subjetiva

A cobrança de impostos no Brasil incide sobre consumo e salário, fazendo com que as pessoas que ganham menos e consomem menos paguem proporcionalmente mais tributos. E são as mulheres negras que recebem os menores salários.

A falta de representatividade política coloca as mulheres negras na invisibilidade, naturalizando essas relações de violência. Entre 2003 e 2013, enquanto a violência contra mulheres brancas diminuiu 10%, a violência contra mulheres negras aumentou 54,5%.

Isso não isenta indivíduos da culpa por seu racismo, mas mostra a normalidade da reprodução dessas opressões. No Brasil, jovens negros são os mais encarcerados e/ou mortos.

A ausência de pessoas negras nos espaços, principalmente de poder, não é questionada. A sociedade como um todo aceita e naturaliza essa estrutura, a partir de privilégios estabelecidos a pessoas brancas.

A luta contra o racismo é também uma luta contra as estruturas sociais de opressão.

LINHA DO TEMPO

  • 1824 – Negros eram considerados seres semoventes.
  • 1839 – Por lei, negros não podem frequentar a escola pública.
  • 1850 – Leis de Terras impedia que negros comprassem propriedades.
  • 1860 – Brasil profundamente influenciado por teorias eugenistas.
  • 1871 – Lei do Ventre Livre: aforaria a criança — pouco aplicada na prática.
  • 1872 – No primeiro Censo Brasileiro mais de 80% da população é negra.
  • 1872 – Incentivo à imigração europeia.
  • 1885 – Lei do Sexagenário: liberdade às pessoas escravizadas com mais de sessenta anos de idade — poucos sobreviviam.
  • 1888 – Lei Áurea não traz nenhum projeto de indenização ou inserção dos negros.
  • 1890 – Início do projeto de encarceramento com a lei dos “vadios e capoeiras”.
  • 1911 – Brasil decide pela miscigenação como forma de extinção dos negros.
  • 1911 – Lei concede passagens, terras, dinheiro e compensação para imigrantes europeus.
  • 1931 – Frente Negra Brasileira, que visa educação e saúde, lança a revista “A voz da raça”.
  • 1934 – Eugenia na constituição, usando escola como ferramenta para propagar o racismo.
  • 1937 – Proibição da Frente Negra Brasileira durante a implementação do “Estado Novo”.
  • 1951 – Lei Afonso Arinos tipifica racismo como mera contravenção.
  • 1990 – Mídia brasileira evidenciando padrões estéticos europeus, ‘blackface’ e outras formas de normalizar a opressão.
  • 2003 – Lei inclui “História e Cultura Afro-Brasileira” ao currículo oficial da Rede de Ensino.
  • 2012 – Cotas nas universidades para pretos, pardos, indígenas e estudantes de baixa renda.
  • 2020 – Pela primeira vez uma parcela grande dos brasileiros grandes começam a entender que precisam participar da luta antirracismo

Fonte: @adjunior_real

A estrutura social do Brasil foi baseada na exploração do povo preto! Essa base de sociedade naturaliza a opressão e a desigualdade desde sempre e até hoje, ou seja, o racismo é a própria estrutura em si.

Ainda que seja a maioria na população e na mão de obra do país, nenhum espaço e representatividade é igual para o preto por aqui…

E ainda dizem que a escravidão acabou.

Curadoria por: @levikaiquef*

*Levi Kaique é Engenheiro Civil, Diretor do Site de Cultura POP @oretalho, Colunista do @sitemundonegro, apresentador do projeto Influência Negra e colaborador dos portais Mansão Black e Pretitudes.

Texto por: Nico Cordeiro.

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#PraCegoVer: a imagem de capa é um retrato de Elza Soares, em fundo preto, porém com parte de seu rosto, da testa à ponta do nariz, coberta por uma colagem que traz a frase “racismo estrutural”, escrita em preto, com fundo amarelo, além de outro recorte, onde se lê “curadoria por Levi Kaique (@levikaiquef)”, e um megafone no canto superior direito. À esquerda da imagem, em amarelo, o logo da Bem Bolado Brasil. Imagem: Divulgação.

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