Proibições de anúncios do Facebook prejudicam empresas de cânhamo
O conservadorismo ilógico que permeia os algoritmos das plataformas de Mark Zuckerberg ainda é um obstáculo para os perfis que tratam do tema da cannabis, mesmo os que fazem comunicação restrita ao cânhamo
As empresas de cânhamo nos EUA vêm enfrentando dificuldades para fazer publicidade no Facebook e no Instagram, segundo relatou o New York Post nesta semana — apesar de o cânhamo, ou hemp, ser utilizado em produtos alimentícios há décadas no país e o congresso americano ter aprovado em 2018 uma lei que autoriza o cultivo da planta.
Mike Goose, um empresário de 41 anos que dirige uma fábrica de tortilhas de sementes de cânhamo com sede em Nova York, disse ao jornal que os anúncios de sua empresa vêm sendo rejeitados pelo Facebook desde 2019 por violar sua proibição de anúncios de “produtos ou serviços ilegais”.
“Todos os anúncios foram rejeitados”, reclamou Goose, cuja empresa se chama Let There Be Hemp. “Estamos muito confusos sobre por que eles os rejeitaram, já que o cânhamo é legal”.
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Quando o fundador reclamou com o Facebook, a empresa ofereceu pouca clareza. Em um e-mail intrigante compartilhado com o The Post, uma funcionária de suporte da plataforma disse a Goose que, embora não estivesse promovendo uma substância ilegal, alguns conteúdos podem ser marcados como inseguros.
“Nosso maior problema agora é nossa capacidade de divulgar nosso nome”, disse Goose ao jornal, explicando que a proibição prejudicou sua capacidade de encontrar clientes e expandir seus negócios.
A situação do empresário ressalta o quanto os anúncios do Facebook são cruciais para as pequenas empresas. 66% das pequenas empresas nos EUA usam o Facebook para publicidade, enquanto 41% usam o Instagram, de acordo com uma pesquisa de 2021.
As regras de anúncios da Meta, a empresa-mãe do Facebook e do Instagram, não mencionam o cânhamo pelo nome, mas proíbem “a venda ou uso de drogas ilícitas ou recreativas, ou outras substâncias, produtos ou suplementos inseguros, conforme determinado pelo Facebook a seu exclusivo critério”.
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Em agosto do ano passado, a Smoke Buddies já relatava o problema de restrição e bloqueio de perfis pelo Instagram enfrentado por empresas, associações e ativistas brasileiros que se dedicam a abordar a cannabis, bem como o recurso que o aplicativo passou a usar para limitar a entrega de conteúdos que a plataforma considera “sensíveis”.
A Wonderlab’s Doozy Pots — uma fabricante de sorvete de cânhamo com sede em Cincinnati, Ohio — encontrou uma maneira criativa de cumprir as políticas do Facebook depois de ter vários de seus anúncios banidos: remover completamente a palavra “cânhamo” de suas embalagens. Depois que eles fizeram a alteração, seus anúncios começaram a ser aprovados.
Mas o rebranding forçado pelo Facebook como “à base de plantas” em vez de “à base de cânhamo” torna difícil para empresa se destacar contra seus concorrentes, de acordo com os fundadores Kirsten e Karl Sutaria.
“Nossos concorrentes, se estiverem usando coco ou uma base de caju, podem falar sobre os benefícios de usar essa base”, disse Karl Sutaria ao The Post. “Não podemos falar de cânhamo em nossos anúncios. É uma desvantagem injusta para nós”.
A restrição e o bloqueio de perfis ligados à cultura canábica nas redes sociais não são uma novidade — em 2011, um grupo da Smoke Buddies no Facebook que reunia mais de 500 mil pessoas foi apagado pela plataforma.
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#PraTodosVerem: fotografia mostra a parte de cima de um cone branco com estampas de folhas e ramos de cannabis e cheio de buds de maconha, que ultrapassam sua borda, em fundo salmão-escuro. Imagem: THCamera Cannabis Art.
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