Produtores de cannabis buscam soluções para enfrentar problemas de água nos EUA

Fotografia mostra um vasto campo de cannabis, onde uma das colas se destaca no primeiro plano e uma faixa de árvores aparece ao fundo. Imagem: Minnesota Hemp Farms.

Enquanto agricultores do oeste estadunidense lutam para encontrar água, produtores de cannabis do leste enfrentam o problema oposto — superabundância de umidade. Saiba mais com as informações do MJBizDaily

Os produtores de cannabis no oeste dos EUA não escaparam da enorme escassez de água este ano que forçou os agricultores que cultivam safras como amêndoas e mirtilos a arrancar as plantas ou deixá-las morrer no campo.

A seca está deprimindo a área plantada com cânhamo, enquanto observa-se um aumento dos relatos de roubo de água por produtores ilícitos de maconha.

“Está um caos lá fora, para dizer o mínimo”, disse John Nores, tenente de operações especiais do Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia, que disse ao MJBizDaily que o roubo de água em seu estado nunca foi tão grave como neste ano.

“Essas plantações ilegais crescem na Costa Oeste e variam de 2.000 a 20.000 plantas; elas deixam uma enorme pegada ambiental em terras públicas e bem na beira das cabeceiras, a origem dos cursos d’água”, disse ele.

Estudos sobre uso de água

As fazendas de cannabis há muito têm a reputação de serem especialmente “sedentas”.

Mas as descobertas de um estudo recente do Centro de Pesquisa de Cannabis da Universidade da Califórnia, em Berkeley, mostram que os cultivadores de cannabis licenciados estão usando menos água do que os reguladores pensavam.

O centro, que começou a pesquisar o uso de água em fazendas de cannabis em 2017, usou dados de relatórios de uso de água dos produtores, juntamente com pesquisas anônimas.

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Com base no tamanho médio de uma fazenda de cannabis no condado de Humboldt e comparações de como outras commodities agrícolas e culturas especiais usam água, Natalynne DeLapp, diretora executiva da Aliança de Cultivadores do Condado de Humboldt na Califórnia, disse que a cannabis é “de longe o produto agrícola com melhor relação água-eficiência na Califórnia”.

Ela estima que uma única grande fazenda de amêndoas no Central Valley usa 33 vezes mais água do que todas as fazendas licenciadas de cannabis do condado de Humboldt juntas, por exemplo.

Com a seca e o uso de água sendo uma preocupação constante na Califórnia, DeLapp disse que os produtores de cannabis estão planejando o armazenamento de água e melhores medidas de eficiência hídrica.

Outras universidades também estão analisando o uso da água, incluindo um estudo coordenado pelo Centro Global de Inovação em Cânhamo da Universidade Estadual do Oregon que realiza testes de irrigação por gotejamento na Califórnia, Colorado e Oregon.

Os estudos são estabelecidos para determinar o uso da água para a produção de CBD sob diferentes regimes de irrigação e comparar as respostas das culturas com as necessidades de água estimadas, observadas em cinco locais com diferentes solos e climas.

Garantindo os direitos sobre a água

À medida que a seca se intensifica, os reguladores estão reduzindo a disponibilidade de água para as comunidades, incluindo fazendas.

Alguns agricultores estão descobrindo que vender direitos sobre a água é mais lucrativo do que cultivar este ano, disse Mike Lewis, agricultor orgânico em Kentucky e presidente da Associação das Indústrias de Cânhamo.

Ele disse que no norte da Califórnia, onde 35% de todas as safras não foram plantadas este ano por causa da falta de água, os agricultores estão sendo incentivados a vender seus direitos à água.

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Será fundamental para os produtores de cannabis garantir os direitos sobre a água, disse Christopher Strunk, sócio da Gordon Rees Scully Mansukhani em Cleveland.

Mas como os cultivadores de maconha e cânhamo geralmente não têm histórico de uso de água em terras recém-adquiridas ou reaproveitadas, isso pode ser difícil, disse Strunk no mês passado na AmericanHort Hemp Conference, em Columbus, Ohio.

De acordo com Nores, os direitos à água não são absolutos, o que significa que os produtores não podem esgotar uma fonte natural só por que ela está em suas terras, porque a vida selvagem, as operações agrícolas e os municípios também podem depender dessa fonte.

“Desviar a água de um afluente, um riacho ou um rio vai ser analisado, permitido e autorizado com muito cuidado.”

Problema oposto no leste

Enquanto os agricultores do oeste lutam para encontrar água suficiente, os produtores de cannabis do leste estão tendo o problema oposto — muita chuva e umidade, disse Lewis.

Agricultores de cânhamo de Kentucky à Flórida e em todo o meio-oeste dos EUA experimentaram uma superabundância de umidade neste verão, causando a estagnação do crescimento da safra e a disseminação de doenças.

“Minha região está toda coberta de chuva”, disse Lewis.

“Temos pressões de doenças e pragas, e as plantas estão mudando para se adaptar, o que muda o limiar de THC e os perfis de canabinoides”.

A variabilidade contínua e os padrões climáticos extremos de uma ponta a outra do país podem, em última instância, causar mudanças na paisagem agrícola, disse Lewis.

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À medida que indústrias nascentes como a maconha e o cânhamo amadurecem, os padrões climáticos e o desempenho da variedade provavelmente levarão à regionalização de diferentes tipos de produção de cannabis — e talvez de outras safras agrícolas também, de acordo com Lewis.

“É parte da realidade que temos que enfrentar… não deveríamos estar produzindo safras de uso intensivo de água em locais onde temos grande escassez de água”, disse ele.

Nores concorda, dizendo que é do interesse do país “aliviar a carga” para áreas agrícolas como a região oeste, potencialmente regionalizando a cannabis e outras culturas agrícolas.

“Podemos ter que conviver com isso, especialmente se a Costa Oeste continuar a ver seca após seca após seca.”

Grande golpe no cânhamo

A escassez de água está contribuindo para a queda da área plantada com cânhamo em todo os EUA, à medida que os agricultores buscam safras com menor volatilidade de preços.

A área plantada com cânhamo nacional para 2021 pode cair significativamente em relação ao ano passado, de acordo com as primeiras análises das áreas licenciadas.

No final de junho, a Hemp Benchmarks contava 107.702 acres (43.585 hectares) registrados para produção ao ar livre em 27 estados americanos.

Essa análise parcial sugere grandes quedas de área cultivada a partir de 2020, quando o Hemp Industry Daily contabilizou 465.787 acres (188.497 hectares) ao ar livre em 47 estados.

A falta de água certamente está contribuindo para os produtores plantarem menos safras de cânhamo no Oeste, disse Lewis.

“Estamos começando a ter um vislumbre de como será o novo normal em termos de nossos padrões climáticos agora. Está afetando absolutamente a cannabis; está afetando todas as safras”, disse ele.

Mas Matt Cyrus, um agricultor em Sisters, Oregon, que decidiu não plantar cânhamo em 2021, disse que a cannabis prospera em condições quentes e secas.

“Nossa experiência é que o cânhamo usa cerca de um terço da água que uma colheita de feno”, disse Cyrus, que foi presidente do Escritório de Agricultura do Condado de Deschutes.

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#PraTodosVerem: fotografia mostra um vasto campo de cannabis, onde uma das colas se destaca no primeiro plano e uma faixa de árvores aparece ao fundo. Imagem: Minnesota Hemp Farms.

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