Produtor de conteúdo canábico dá dicas de como atuar contra o racismo, assista

Fotografia é um retrato do produtor de conteúdo Makana que, vestindo camisa estampada e calça jeans, e sentado com as pernas cruzadas, faz o sinal de positivo com as duas mãos, enquanto olha para a câmera. No cenário, parte de uma sala de estar, com janela para uma rua arborizada, e várias plantas em vasos compõem a imagem. Crédito: Makana.

“Pessoas brancas antirracistas devem agir e não permanecer só no campo do discurso, pois elas são as detentoras do privilégio”, afirma Makana, que divulgou um vídeo com seis atitudes para transformar intenções em ações contra o racismo

Impossível não se comover profundamente com as mobilizações globais dos últimos dias contra o racismo, ainda que convivamos, ironicamente, com a desigualdade racial constante em atitudes cotidianas. E, embora com plena consciência do privilégio da pele branca, para quem não sentiu na própria alma as consequências do racismo, entre se declarar e ser antirracista há um verdadeiro abismo.

“É uma chaga tão profunda que mesmo quem quer combatê-la não sabe como fazê-lo”, diz o produtor de conteúdo Makana (29), que trabalha com comunicação sobre a maconha há seis anos e idealizou o Jornal da Maconha, com mais de 70 edições no ar. “Assim, me debrucei sobre algumas referências de pretos e pretas produtores de conteúdo que sigo e compilei algumas estratégias para aumentar a visibilidade da nossa luta e das nossas ideias”.

 

O resultado da pesquisa, do roteiro, da captação e da edição de Makana é um vídeo essencial, para dizer o mínimo, que coloca profundos questionamentos em questões práticas e que ensina o poder de iniciativas que, de fato, contribuem para o fortalecimento da luta antirracista. Confira:

Trocamos uma ideia com Makana sobre o vídeo, além de outros assuntos, como a relação entre as lutas antirracista e antiproibicionista e a importância de atitudes que vão além do discurso. Veja a seguir.

Smoke Buddies – No vídeo, você se dirige a pessoas antirracistas que querem tomar atitudes práticas e cotidianas na luta contra o racismo. Por que a necessidade de falar especificamente para estas pessoas?

Makana – A necessidade de falar especificamente com as pessoas que se identificam como antirracistas é por que acredito que abrir mão de seus privilégios tem que partir de uma vontade da própria pessoa, ela tem que estar buscando essa mudança. Infelizmente, o racismo foi tão enraizado na nossa estrutura social que reproduzimos até sem perceber e por vezes quem o comete busca artifícios para justificar e normalizá-lo, precisamos sempre desconstruir essa normalização ativamente. É uma chaga tão profunda que mesmo quem quer combatê-la não sabe como fazê-lo, assim, me debrucei sobre algumas referências de pretos e pretas produtores de conteúdo que sigo e compilei algumas estratégias para aumentar a visibilidade da nossa luta e das nossas ideias.

SB – Qual a importância de que antirracistas não apenas se considerem como tais, mas ajam?

Makana – Pessoas brancas antirracistas devem agir e não permanecer só no campo do discurso pois elas são as detentoras do privilégio, elas ainda são consideradas “mais valiosas” dentro do nosso sistema, como observamos nitidamente com o tratamento diferenciado da força policial entre brancos e pretos. Sendo assim, se essas pessoas detentoras de mais “importância”, que também não conseguem mais conviver com essa desigualdade racial, lutarem ao nosso lado o avanço será mais acelerado. Por exemplo: temos observado diversos casos de militantes brancos se colocando à frente dos negros para assim evitarem a truculência da polícia, um protesto com menos truculência dura mais, durando mais, alcança seu objetivo.

SB – Como você enxerga o impacto de ações, mesmo que pequenas e simbólicas, para mudanças estruturais tão necessárias na nossa sociedade?

Makana – Toda mudança estrutural nada mais é que um grande encadeamento de pequenas ações. À distância, é difícil ver a quantidade de pequenos esforços movidos em uma direção, mas cada um deles tem sua devida importância. Espero que esse meu vídeo tenha sido um desses pequenos esforços importantes e que a mudança chegue logo, pois é urgente.

SB – Como foi a repercussão do vídeo? Você imaginou isso quando decidiu fazê-lo? 

Makana – A repercussão do vídeo foi muito boa. Em 2 dias chegou a mais de 15 mil acessos só no Instagram. É um assunto delicado pois toca em uma ferida exposta do nosso cotidiano e isso faz com que muita gente se negue a querer entrar no debate. É chato receber aquelas DMs questionadoras e por conta de um story entrar numa discussão ancestral. Eu sei que é chato. Mas é necessário pois sem conversar sobre o assunto ele nunca vai ser explicado em sua minucias e seguirá sem ser compreendido e sendo ainda mais diminuído. Eu imaginei que teria uma boa repercussão pois dediquei bastante cuidado ao roteiro, li, fui atrás de informação, lapidei até achar que estava como eu gostaria de assistir. Sou muito crítico com o conteúdo que consumo, então quando alcanço um padrão que eu assistiria acredito que está bem explicado e esse era o objetivo. Somando isso à relevância do assunto e minha propriedade nesse lugar de fala chegamos nessa galera que se colocou disposta a agir.

SBComo você vê as convergências entre as pautas antiproibicionista e antirracista no Brasil?

Makana – As pautas antirracismo e antiproibicionismo se cruzaram nas primeiras leis que criminalizavam o uso da maconha no Brasil e associavam a erva diretamente ao povo preto. Vemos os reflexos até os dias de hoje quando enxergamos uma maioria de pretos entre os condenados por crime de tráfico, quando a justiça pune com muito menos rigor as mesmas quantidades quando portadas por um jovem branco em um bairro de classe alta. Pretos são os mais afetados e ainda assim os com menos espaço em meio a essa Guerra às Drogas. Observamos isso inclusive na representatividade nas mídias tradicionais e on-line, são pouquíssimos de nós. Já que é uma chaga que afeta mais de acordo com a cor da pele que nosso espaço seja restituído na mesma proporção. O racismo permanece intimamente ligado à proibição quando a lei de drogas persegue jovens pretos nas favelas. Precisamos desmantelar esse sistema de criminalização da droga para assim diminuir o risco de morte dos nossos jovens.

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) é um retrato do produtor de conteúdo Makana que, vestindo camisa estampada e calça jeans, e sentado com as pernas cruzadas, faz o sinal de positivo com as duas mãos, enquanto olha para a câmera. No cenário, parte de uma sala de estar, com janela para uma rua arborizada, e várias plantas em vasos compõem a imagem. Crédito: Makana.

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Sobre Thaís Ritli

Thaís Ritli é jornalista especializada em cannabis e editora-chefe na Smoke Buddies, onde também escreve perfis, crônicas e outras brisas.
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