Produção local pode reduzir custo do tratamento à base de maconha, no RJ

Fotografia que mostra uma seringa preta junto a um pequeno bud seco e duas folhas verdinhas de maconha (cannabis), sobre um pedaço de tecido que parece ser feito de algodão cru. Foto: Pixabay.

Nova legislação autoriza o Instituto Vital Brazil a desenvolver medicamentos à base de maconha para pacientes de Parkinson, epilepsia crônica e outros distúrbios. As informações são d’O Globo

A derrubada do veto do governador Wilson Witzel pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) à lei que autoriza a pesquisa e o cultivo científico da maconha por associações de pacientes, institutos e laboratórios públicos foi recebida com esperança por famílias que tratam pacientes com Parkinson, epilepsia crônica e outros distúrbios cerebrais. Com a oficialização da decisão, publicada na terça-feira (2) no Diário Oficial do Legislativo, o Instituto Vital Brazil (IVB) está autorizado a produzir o medicamento. Hoje, o IVB já faz a dosagem e a embalagem do canabidiol importado pronto. A estimativa de médicos é que a produção local reduza em até oito vezes os custos do tratamento, que chega a R$ 2 mil por mês, dependendo da dosagem diária receitada.

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A dentista Raffaella Sacchetti iniciou em março o tratamento com canabidiol do filho autista, Luiz Otávio, de 15 anos. Apesar de as condições de isolamento impostas pela pandemia do novo coronavírus limitar uma avaliação mais abrangente no comportamento dele com a substância, ela comemora a redução da quantidade de remédios que o jovem tem tomado no tratamento.

— Desde março, estamos aumentando a dosagem gradativamente, como tem orientado o médico, e ele vem mantendo um comportamento estável. Está um pouco mais comunicativo e falante. O melhor foi conseguir diminuir os anticonvulsivantes e antipsicóticos que ele tomava e causavam diversos efeitos colaterais, como problemas hepáticos e descontrole do peso. Com o canabidiol, não há qualquer efeito colateral — conta a mãe, que gastou R$ 1.300 nos últimos dois meses com o medicamento à base de maconha.

Raffaella avalia que o mais importante da nova lei é o acesso facilitado à medicação:

— Eu ainda posso pagar para o meu filho. A lei permitirá que todas as mães possam tratar seus filhos, se assim desejarem, porque o médico do SUS poderá prescrever o medicamento.

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Autor da lei, o deputado estadual Carlos Minc (PSB) diz que foi humanizando o debate que conseguiu quebrar os preconceitos ao canabidiol na Alerj e reverter 41 votos, incluindo de parlamentares conservadores, para derrubar o veto do Executivo:

— É uma lei focada em saúde, assistência social e pesquisa. Mais do que melhorar o acesso das pessoas, a nova legislação estabelece que o estado incentive pesquisas sobre a Cannabis, que pode ser de várias formas, incluindo bolsas da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) para estudos nesse seguimento. O ganho futuro pode ser ainda maior.

A importação do canabidiol foi autorizada no ano passado. O IVB faz a dosagem e a embalagem do fármaco importado pronto, como mandam as orientações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Algumas associações de familiares e pacientes já conseguiram autorização na Justiça para plantar a maconha e desenvolver o óleo de canabidiol de forma artesanal. É o caso da professora Ana Santiago, que nunca tinha entrado em contato com a planta e passou a cultivá-la com autorização judicial em sua casa em Itaipu. Assim, ela produz o medicamento do qual necessita a sua companheira Maria José Maia de Miranda, de 65 anos, que sofre de Parkinson.

— Ela tinha distúrbio do sono, pesadelos, acordava assustada, estava com o corpo muito rígido, com andar preso. Com o canabidiol, o sono e os pesadelos melhoraram de imediato. A postura corporal dela passou a ficar mais ereta, teve muita melhora no controle motor da mão. Hoje, ela toma metade dos medicamentos que ela tomava antes do canabidiol e que causavam inúmeros efeitos colaterais, como manchas em todo corpo e tremedeira nos pés. Ela não tem mais isso — conta Ana, acrescentando que gasta cerca de R$ 700 por mês com a produção artesanal.

Consultor da Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi) e da Associação Brasileira para Cannabis (ABRACannabis), o neurologista e pediatra Eduardo Faveret diz que a produção do canabidiol por laboratórios públicos ou de forma artesanal vai dar condições para baratear os custos e ampliar o acesso ao medicamento.

— Para crianças, o custo do tratamento chega a R$ 400 por conta da dosagem menor, mas para um adulto pode chegar a R$ 3 mil por mês — diz.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia que mostra uma seringa preta junto a uma pequena flor seca e duas folhas verdinhas de maconha, sobre um pedaço de tecido que parece ser feito de algodão cru. Foto: Pixabay.

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