Presidente da CBSk, Bob Burnquist quer maconha liberada no esporte

O skate fará sua estreia nos jogos olímpicos de Tóquio, em 2020, e o atual presidente da Confederação Brasileira de Skate, Bob Burnquist, declarou ser a favor da retirada da maconha do teste antidoping, uma vez que a substância ajuda no combate à dor e pode ser um substituto para os opioides. As informações são da Folha de S.Paulo.

Uma cena causou espanto na sede do COB (Comitê Olímpico do Brasil) em março deste ano, durante a eleição para a escolha do vice-presidente da entidade.

Bob Burnquist, 41, fez um pedido inusitado a Paulo Wanderley, presidente do comitê nacional e que comandava a assembleia extraordinária naquele dia. “Posso ir de skate até aí?”, perguntou.

Além de ídolo do esporte, Burnquist é presidente da CBSK (Confederação Brasileira de Skate), uma das cinco novas integrantes do programa de competições na Olimpíada de Tóquio, em 2020.

Em entrevista à Folha, o skatista fala sobre a vida de cartola e como vem encarando problemas espinhosos, como os casos de doping de integrantes da seleção brasileira. Um deles, Pedro Barros, foi flagrado com substância derivada da maconha em exame realizado em janeiro. Barros é um dos melhores do mundo na modalidade park.

Você já se acostumou com a vida de presidente de uma confederação? É uma experiência nova. Entendo a importância de estar numa posição como essa. A gente teve todo aquele imbróglio que estava rolando [com a confederação brasileira de hóquei e patinação sobre a gestão do skate olímpico]. Entrei meio que sem pensar muito, me coloquei à disposição de todos, para tudo o que eu pudesse ajudar.A quantidade de coisas a fazer realmente aumentou muito. Mas a verdade é que eu entrei mesmo para ajudar a CBSK, não ganho nada ali dentro. Quero fazer as coisas, organizar a entidade e seguir o meu caminho.

Você acha que sua presença foi decisiva para resolver a questão do reconhecimento da CBSK pelo COB? Sim, foi. Até porque eu não entraria nessa se não soubesse que eu poderia ajudar. Sei da força que eu tenho. Não poderia falar nada depois se não fizesse alguma coisa. Não sabia se iria conseguir, mas que teria a força para isso. Fiz um lobby enorme, usei todos os meus contatos, dizendo que a gente precisava resolver aquela situação e deu tudo certo.

Os skatistas brasileiros já assimilaram a cultura olímpica? Por exemplo, em relação ao doping? Recentemente houve casos positivos em uma competição que vocês organizaram. É um momento educacional. Temos dado uma atenção especial ao doping, temos que prestar atenção a isso. Obviamente que aquelas substâncias que são conhecidas como doping, todos precisam ficar ligados. O que eu mesmo venho aprendendo são situações como, por exemplo, no caso em que o atleta está com uma febre, toma um remédio que tem uma “máscara” e que é doping. Sem estar educado quanto a isso, pode entrar numa situação que não é legal. Ou se você já toma um determinado medicamento e não coloca na lista do antidoping, pois não tem esse costume. Aí, vem o resultado positivo, o atleta diz que sempre toma esse remédio, mas como não o colocou na lista…

E que tipo de orientação a confederação tem dado aos atletas? Estamos reforçando, principalmente com os atletas da seleção brasileira, que precisam ficar atentos. Foi o caso do Ítalo [Peñarrubia, que também deu positivo no exame em janeiro], que tomava um medicamento controlado, mas não comunicou na hora do exame.

O que você pensa do fato da maconha ser considerada doping? Acho que substâncias como THC ou o Canabidiol não deveriam estar na lista da Wada, mas elas estão. Se queremos fazer parte do movimento olímpico, enquanto elas estiverem na lista, temos que respeitar as regras. Não pode usar em competição, simples assim.Mas em minha opinião, deveríamos iniciar um movimento para que ela deixe de ser considerada proibida pela Wada. A cannabis em si é uma substância que ajuda no combate a dor e a não usar os opioides. Existem certos opioides que não são doping, mas te viciam, te estragam o organismo. A pior coisa a fazer é consumir este tipo de remédio. Já a cannabis, que é natural, não tem efeito colateral e acaba sendo a melhor forma de lidar com a dor, não pode. Mas enquanto estiver no código antidoping, tem que prestar atenção, regra é regra.

Que tipo de apoio que a CBSK está dando aos atletas que testaram positivo? Estamos dando um suporte, indicando advogados para ajudar no processo do recurso, a coisa já está bem encaminhada e eles estão bem assessorados. Individualmente, cada um está cuidando de seu próprio caso. Agora é educar os atletas. O que podemos fazer é direcionar estes casos aos advogados.

Gazeta Press

#PraCegoVer: fotografia de Bob Burnquist prestes a descer uma enorme rampa durante o “Oi Mega Rampa” de 2009. Créditos: Gazeta Press.

Você pretende ficar mais um mandato à frente da CBSK? Olha, não vou ficar 20 anos (risos). Estou aqui para ajudar, enquanto sentir que estou ajudando, seguirei. Quero ajudar a confederação, construir mais pistas, fazer com que esta minha força política faça com que as coisas aconteçam, conseguir as coisas para o skate. Mas eu não nasci querendo ser presidente de confederação. Ano passado, nesta mesma época, não tinha a menor ideia de que seria presidente da CBSK. Foi tudo muito rápido. Além disso, eu continuo competindo. Como o presidente da confederação vai competir? Como não recebo salário na CBSK, tenho que continuar ganhando dinheiro competindo. Em alguns momentos, existe um conflito. Mas por enquanto, tenho diminuído minhas participações.

Qual a expectativa que vocês têm em relação a resultados para Tóquio-2020? A gente acredita muito nos nossos skatistas, basta ver que estão sempre no pódio nas competições internacionais. Obviamente a expectativa para a Olimpíada é pódio. Mas temos nomes novos aparecendo também e outros que podem aparecer no ano que vem. O skate tem essa dinâmica que do nada, aparece alguém ganhando as provas. Temos tudo para ter um ótimo resultado na Olimpíada de 2020.

RAIO-X

Filho de mãe brasileira e pai americano, Bob Burnquist começou a andar de skate aos 11 anos. Conquistou 30 medalhas nos X-Games, e foi dez vezes campeão mundial. Foi eleito sete vezes o melhor skatista do ano. Tem 41 anos.

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#PraCegoVer: fotografia em primeiro plano de Bob Burnquist usando um capacete de proteção.

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