Pesquisa mostra apoio de 70% dos brasileiros ao uso medicinal da cannabis

Fotografia de um top bud de cannabis com pistilos laranjas e brancos, repleto de tricomas, e um morro do Rio de Janeiro ao fundo, desfocado. Imagem: Dave Coutinho | Smoke Buddies.

Apesar do expressivo volume favorável à medicina canábica, percentual de pessoas beneficiadas ainda é baixo e país avança lentamente na regulamentação. Saiba mais, a seguir

O uso medicinal da cannabis tem apoio de 70% da população brasileira. Essa é a principal constatação da pesquisa “Cannabis é Saúde”, realizada pelo Civi-co, polo de negócios de impacto cívico-sócio-ambiental, sediado em São Paulo. O levantamento ouviu mil pessoas englobando todas as regiões do país, por meio de painel on-line.

A pesquisa também identificou outro ponto importante: a propensão ao uso. No total, 48% dos respondentes estão muito abertos ao tratamento à base de cannabis, caso recebam indicação médica. Já 29% consideram baixa a probabilidade de adesão às terapias.

O percentual do conjunto favorável aos tratamentos com medicamentos à base de cannabis contrasta com outras descobertas apontadas pelos números. No total, 76% do público já sabiam da possibilidade de aplicação terapêutica. Porém, 59% ainda não conhecem as patologias para as quais é possível aplicar a medicina canabinoide.

O desconhecimento sobre as indicações impacta o comportamento. De acordo com os dados, 14% da amostra sabiam que os médicos podem prescrever fármacos à base de cannabis como parte do tratamento e 19% já haviam considerado utilizar a planta para fins terapêuticos. Com relação à utilização, 3% dos entrevistados receberam indicação clínica para o uso medicinal da cannabis e 10% conhecem alguém que já recebeu prescrição médica.

Aqueles que já conheciam algumas das aplicações medicinais citaram o tratamento de enfermidades como epilepsia, dores, ansiedade e câncer. No grupo dos que já consideraram recorrer à cannabis medicinal, as patologias mais prevalentes são ansiedade, insônia e dores.

Embora sete em cada dez pessoas desejem a consolidação da cannabis medicinal, o Brasil avança timidamente. Há pouco mais de um ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a fabricação de produtos de cannabis no Brasil, bem como a comercialização em farmácias. Também existe um grupo de pacientes que possui autorização da Anvisa para importar os medicamentos, outro que realiza o cultivo doméstico de maconha sob a égide de habeas corpus preventivos e associações com permissão para cultivar a cannabis e extrair o óleo. No entanto, o cultivo da planta para pesquisa e produção continua proibido.

Segundo Patrícia Villela Marino, cofundadora do Civi-co e cofundadora e presidente do Instituto Humanitas360, o cenário no país está configurado de forma a tornar o tratamento inacessível para a grande maioria da população. “A falta de regulamentação para o cultivo da cannabis voltado a fins medicinais leva à importação da matéria-prima, encarecendo muito o preço dos produtos. Por enquanto, somente tem acesso aos medicamentos aqueles com poder financeiro para comprar o produto nas farmácias ou arcar com os custos da judicialização. Desta forma, a maior parte dos brasileiros, especialmente a parcela mais vulnerável, tem seus direitos à saúde e melhor qualidade de vida ceifados de maneira impiedosa”, enfatiza.

A pandemia de Covid-19 canalizou a atenção das pessoas para os cuidados com a saúde. Com isso, o reflexo natural é a maior abertura para novas terapias e, nesse contexto, o uso medicinal da cannabis vem despertando atenção crescente.

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Cannabis é saúde

O movimento pela legalização da cannabis teve início nos anos 1960, nos EUA. Em janeiro de 1965, o poeta beat Allen Ginsberg e Ed Sanders (Fugs) lideraram uma pequena marcha pró-maconha do lado de fora da Casa de Detenção Feminina de Nova York, onde vários resistentes de esquerda antiguerra foram presos por desobediência civil. Em 1986, o ativismo pela maconha legal iniciava sua marcha em terras tupiniquins, na cidade de São Paulo, quando, em meio às eleições para o governo do estado, cerca de 80 manifestantes foram agredidos pela polícia militar ao se reunirem em frente ao Teatro Municipal em protesto pela liberalização da erva.

A opinião pública voltou sua atenção ao uso medicinal da cannabis na década de 1990, a partir da luta de ativistas e mães para que seus filhos pudessem ter acesso a tratamentos à base de maconha, buscando melhora em condições graves como, por exemplo, epilepsia refratária. O movimento teve grande repercussão e abriu portas internacionalmente à utilização com finalidade médica legal. Atualmente, cerca de 60 países têm regulamentações específicas para o uso medicinal da cannabis.

Esses avanços não acontecem à toa. Há um conjunto cada vez mais robusto de evidências científicas apontando os inúmeros benefícios da planta para a medicina, com aplicação terapêutica bem sucedida em casos de esclerose múltipla, transtorno de estresse pós-traumático, dor neuropática crônica, epilepsia e quadros convulsivos. Bons resultados também são registrados no tratamento de sintomas como náusea e vômito induzidos por quimioterapia, distúrbios do sono, ansiedade, perda de peso em pacientes com HIV, além de características ocasionadas por cânceres e doenças do neurônio motor.

A pesquisa “Cannabis é Saúde” ouviu mil pessoas, distribuídas nas cinco regiões do Brasil. A composição da amostra teve homens e mulheres, acima dos 18 anos, abrangendo as classes sociais A, B1, B2, C1 e C2. O levantamento realizado pelo Civi-Co tem apoio do Instituto Humanitas360, Instituto de Pesquisas Sociais e Econômicas da Cannabis (IPSEC), Centro de Excelência Canabinoide (CEC) e The Green Hub.

Leia também: Mais de 70% dos brasileiros é a favor da legalização da maconha medicinal, segundo pesquisa

Sobre o Civi-co

O Civi-co é um hub que reúne organizações sociais e negócios de impacto, formando uma comunidade de empreendedores e ativistas que trabalham para gerar transformações positivas na sociedade. Saiba mais: http://www.civi-co.net/.

Sobre o Instituto Humanitas360

O Instituto Humanitas360 atua desde 2015 desenvolvendo projetos e facilitando a coalizão de organizações sociais, profissionais e gestores públicos focados na diminuição da violência, na promoção da cidadania ativa e no aumento da transparência. Sua missão é promover a pesquisa e o conhecimento e envolver os cidadãos para alcançar uma melhoria sustentável dos padrões de vida na América Latina. Atualmente, o Instituto tem como principal vertente de atuação a criação de cooperativas sociais em penitenciárias brasileiras, visando reduzir a reincidência criminal a partir do fornecimento de conhecimento técnico e de estrutura para a criação de um negócio social. Saiba mais: http://humanitas360.org/.

Instituto de Pesquisas Sociais e Econômicas da Cannabis (IPSEC)

O IPSEC é um instituto de pesquisa que busca dados e informações validadas do mercado de cannabis e cânhamo, com o objetivo de viabilizar uma legislação que seja adequada à realidade do país e que cumpra os anseios da sociedade brasileira. Saiba mais: http://ipsecbrasil.org/.

Centro de Excelência Canabinoide (CEC)

O Centro de Excelência Canabinoide (CEC) é um centro especializado em saúde, com foco no atendimento humanizado, pioneirismo e excelência em medicina canabinoide. O empreendimento é estruturado em três frentes: o CEC Medical, focado na aplicação clínica de tratamentos eficientes e seguros para quem busca qualidade de vida; o CEC Academy, centro de educação especializado em cannabis para uso medicinal; e o CEC Science, que gera conhecimento por meio de pesquisas científicas, validações de aplicação clínicas e certificações de produtos. Saiba mais: http://www.cecmedic.com.br/.

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