Paraisópolis: lei do silêncio, baile funk e guerra às drogas são pano de fundo de ações policiais

Fotografia em vista inferior de um jovem dançando em meio a vários outros e sendo iluminado por um feixe de luz esverdeada que vem da esquerda e contrasta com o céu à noite; ao fundo, na parte direita da imagem, pode-se ver um muro sem reboco e com pixos. Baile funk.

Especialistas alegam que territórios que dão suporte a festas como a que acabou com nove mortos, na Zona Sul de São Paulo, são alvos de invasões e truculências policiais. Com informações da Época

Lei do Silêncio, baile funk e guerra às drogas são o pano de fundo usado pela polícia para legitimar a invasão e a truculência ao entrar em uma festa na favela. É o que defendem especialistas sobre a tragédia com nove jovens mortos — entre 14 e 23 anos de idade — durante um baile funk na comunidade de Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo, no último fim de semana. Para eles, há um aumento da repressão a espaços ocupados por pessoas majoritariamente negras e pobres.

Segundo a antropóloga Amanda Amparo, cientista social e membro do Núcleo de Antropologia Urbana da USP (NAU), os eventos conhecidos como pancadões não são alvo da polícia, mas sim os territórios que dão suporte a esse tipo de festa.

Não podemos tirar a atenção dos atores principais. A grande maioria das pessoas que estão construindo o cenário são negras e pobres. Cinco mil pessoas ouvindo funk ou jazz em Paraisópolis vão gerar confusão, independentemente da música. Não é o pancadão o problema”, criticou Amparo.

Para a antropóloga, festas regadas a bebidas e drogas ao som de funk, próximas a uma universidade particular de Higienópolis, bairro nobre da capital paulista, não são alvo de operações policiais, o que confirma o preconceito contra bailes em favelas.

“Todas as sextas-feiras há um pancadão muito organizado com um grupo grande de pessoas. Nem por isso ouve-se falar em uma invasão catastrófica que gere algum tipo de morte. Nem invasão, muito menos violência letal.”

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A ideia de que existe uma naturalização da violência em favelas, tendo como pano de fundo o funk, também é defendida pelo musicólogo Felipe Trotta, membro do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Responsável pela pesquisa “A música que incomoda”, finalizada pela Capes neste ano, o especialista identificou “desdenho em relação à emergência da periferia“, além de perceber um claro incômodo na relação entre as pessoas no que diz respeito à classe social.

“O barulho da favela incomoda mais porque aciona todos os preconceitos. Vem à tona o universo de desqualificação de classe social e raça, e é entendido que a vida dessas pessoas vale menos.”

A truculência em operações policiais dentro de bailes funk no país não é algo raro de acontecer. Em 17 de novembro do ano passado, três pessoas morreram pisoteadas após um tumulto em uma festa em Guarulhos, na Grande São Paulo. Assim como ocorreu em Paraisópolis, o corre-corre teria começado, segundo depoimento de testemunhas, depois de uma entrada violenta da polícia na festa.

No mesmo cenário de repressão a bailes, em 10 de novembro deste ano, uma jovem de 16 anos também foi vítima: atingida por um tiro de bala de borracha que teria partido de um policial no baile conhecido como Beira Rio, Zona Leste de São Paulo, a menina acabou perdendo a visão do olho esquerdo.

Segundo Trotta, o Brasil passa por um momento de “intensificação da validação da violência”, o que é agravado em comunidades carentes.

“O menino já não tem direitos básicos como educação e infraestrutura, não tem cidadania completa, e ainda vai ouvir funk? É entendido que a vida dessas pessoas vale menos. Essa ótica tem dominado parte dos governantes, políticas de Estado e parte da população. Tem um óbvio preconceito de classe e raça promovido pelo Estado brasileiro, e a polícia exerce a violência de uma forma absurdamente desequilibrada e inadequada.”

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#PraCegoVer: fotografia (em destaque) em vista inferior de um jovem dançando em meio a vários outros e sendo iluminado por um feixe de luz esverdeada que vem da esquerda e contrasta com o céu à noite; ao fundo, na parte direita da imagem, pode-se ver um muro sem reboco e com pixos. Foto: Jardiel Carvalho | R.U.A. Foto Coletivo.

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