Óculos de cânhamo: sustentabilidade e inovação na indústria argentina
Gaia Eyewear é uma experiência concreta na industrialização da cannabis na Argentina. Da cidade de Bernal, o designer industrial Mariano Percivale desenvolveu este projeto que alia sustentabilidade à eficiência e funcionalidade. As informações são do Industria Cannabis
O surgimento da Gaia Eyewear aconteceu entre 2013 e 2014. Seu criador, Mariano Percivale, afirmou ao Industria Cannabis que a Gaia nasceu “de uma necessidade minha de iniciar um projeto com uma nuance sustentável, mas que atendesse às minhas necessidades como estudante de design industrial, e entrar no mundo da concepção e criação de um projeto bastante inovador”.
Os óculos desenvolvidos por Percivale possuem diferentes componentes sustentáveis, como madeira ou acrílico reciclados e cânhamo. A este respeito, explicou por que escolheu o cânhamo como insumo para a produção: “a história do cânhamo remonta a ver um amigo a colher as nossas plantas, agarrar num caule e fazer uma pulseira com algumas fibras. Aquele momento foi fundamental na minha vida, porque vi aquela imagem e minha cabeça explodiu em mil pedaços, milhares de imagens vieram do que eu podia fazer e comecei a investigar o que era o cânhamo, porque não tinha ideia. Vi que se meu amigo fez uma pulseira com uma fibra daquela planta, tinha que ter muito mais”. E destacou: “Encontrei um mundo infinito”.
O processo de produção atual da Gaia Eyewear consiste em um moldado a pressão com microfibra de cânhamo e um aglutinante; e envolve duas pessoas atualmente. O volume de produção é médio, embora, em janeiro de 2020, eles tenham exportado para o Uruguai. “Fomos a primeira empresa argentina a exportar um manufaturado à base de cânhamo no país e agora vamos exportar para a Colômbia e Barcelona. De Barcelona também irá para a Holanda, portanto seremos a primeira empresa argentina a exportar esses produtos para outro continente. Esperamos que seja positivo e que possibilite exportar para outros países”, disse Percivale a esse respeito, acrescentando que “tínhamos a possibilidade de exportar para os EUA, mas havia muita burocracia”.
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A projeção que Percivale tem para o empreendimento para 2021 é a venda de 2 mil unidades por mês para Holanda, Barcelona, França, Bélgica, Colômbia e Estados Unidos. No entanto, a ideia é gerar uma presença maior no mercado local, com um faturamento de 4 milhões de pesos argentinos (R$ 240 mil) por mês, em média. A esse respeito, destaca que esses números se baseiam em uma empresa que utiliza matérias-primas que, ainda, não podem ser cultivadas legalmente no país e que mesmo com essa questão há receitas da ordem de aproximadamente 50 milhões de pesos (R$ 3 milhões) por ano. “Se pudesse ser explorado, milhares de empresas poderiam ganhar bilhões a mais”, diz ele.
Em relação à inserção no mercado, o designer industrial indicou que houve uma boa introdução, pois “o produto não é apenas a parte simbólica do cânhamo, mas também responde a comportamentos técnicos, físicos e de sustentabilidade. É mais duro do que um plástico de acetato comum, e mais leve, ou seja, é mais confortável para o usuário. E existe uma tendência de busca por objetos sustentáveis hoje em dia porque há muito mais consciência”.
Além disso, Percivale alertou que “atualmente, podemos fazer isso em volume médio ou baixo, mas se a demanda aumentar, teremos mais complicações para conseguir a matéria-prima”, já que“ tem que trazer de fora, o que aumenta o custo”. Ao mesmo tempo, ele disse que tem um projeto para fabricar helicópteros e bicicletas de corrida à base de cânhamo, mas que o considera complexo pelo mesmo motivo. No contexto atual, o criador da Gaia Eyewear disse que “nossas mãos estão atadas para qualquer outra ideia que possamos ter”.
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Porém, um horizonte de esperança se abre para o cânhamo no país. A deputada Mara Brawer, da Frente de Todos, apresentou um projeto para promover a industrialização e o cultivo da planta. A este respeito, Percivale está otimista: “as melhores cabeças trabalharam no projeto que foi apresentado”, disse ele, mencionando Diana Barreneche e Adriana Friedheim, advogadas e especialistas do “Proyecto Cáñamo Argentina”, que colaboraram com o desenvolvimento da legislação. “A discussão vai continuar junto aos deputados e senadores com essas mesmas pessoas, que me parecem as mais capazes de defender essa ideia”, disse.
Sobre as perspectivas de futuro com a indústria do cânhamo na Argentina, o criador da Gaia Eyewear disse que tem “as mesmas perspectivas de quando comecei há 7 ou 8 anos com essas pesquisas e com esse empreendimento, que são as melhores. Acredito que a Argentina será uma potência mundial sustentável, que isso nos permitirá curar nossos solos, curar nossas florestas. Da mesma forma, desenvolver uma indústria que dará trabalho a todos eliminará a fome na Argentina; vai dar mais legitimidade às mulheres, pois vão ter mais empresas onde elas podem assumir posições de relevância”.
Em termos de futuro político, Percivale confia que o desenvolvimento do cânhamo vai trazer unidade aos argentinos, “porque o cânhamo traz uma mensagem intrínseca do que está por vir: trabalhar junto. Com isso vejo uma mudança de paradigma, para que os políticos também formem uma linha de consenso e que o caminho para a industrialização e a prosperidade que merecemos como país possa continuar, não importa qual governo passe”.
Quanto ao empreendedorismo, o designer industrial vê um bom futuro, onde pretende continuar no mundo do design, dos óculos e da moda, para além dos projetos em que continua a pensar. A título de equilíbrio, expressou: “Sonhei isso há muitos anos e está acontecendo. Obviamente, é o começo. Como eu sempre digo: cortaram a planta, mas não sabiam que a semente estava germinando”.
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#PraCegoVer: na imagem de capa, uma foto dos óculos de cânhamo sobre uma rocha e apoiados em outras duas, e uma sebe viva ao fundo. Crédito: divulgação / Gaia Eyewear.
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