Nos EUA, agricultores de cânhamo de pequeno porte sofrem com a superprodução

Fotografia de uma linda inflorescência de cannabis, ao centro da imagem, e um fundo branco com mais algumas plantas no canto inferior esquerdo, fora de foco. Agricultores.

Seduzidos por especulações de que o cânhamo traria altos lucros, agricultores apostaram na colheita. Agora, cerca de 65% deles não têm compradores para a safra desta temporada. Com informações da Reuters

Dan Maclure plantou três hectares de cânhamo em sua fazenda em Vermont pela primeira vez este ano, com o objetivo de lucrar com a crescente demanda por CBD, um derivado da planta que tem a reputação de aliviar a ansiedade e outros males sem a alta de sua prima próxima, a maconha.

Ele perseverou quando algumas de suas plantas de cânhamo ficaram brancas de mofo e outras falharam nos testes de laboratório e tiveram que ser destruídas. Com sua safra agora concluída, Maclure tem mais um desafio a superar: vender sua colheita sobrevivente e recuperar um investimento estimado em US$ 140.000.

“É emocionante pensar em todo o trabalho e dinheiro que você coloca nele”, disse Maclure, que cultiva em Barton, Vermont, cerca de 55 quilômetros ao sul da fronteira EUA-Canadá. “Não tenho certeza se vou me aventurar nisso novamente”.

Maclure é um dos milhares de agricultores estadunidenses que entraram na colheita após a aprovação da Lei Agrícola de 2018, que legalizou o cultivo de cânhamo, uma forma de cannabis com baixas concentrações de THC, o principal agente psicoativo da maconha.

Muitos deles agora estão tentando sobreviver a um excesso que inundou o mercado, dizem os especialistas da área, reduzindo os preços e, em alguns casos, deixando os agricultores com poucos compradores.

Cerca de 65% dos agricultores de cânhamo dos EUA não têm comprador para a colheita nesta temporada, deixando poucas alternativas, de acordo com uma pesquisa de julho da Whitney Economics. O cânhamo tem menos infraestrutura do que outras culturas, portanto, os agricultores não podem confiar na venda de suas culturas por um elevador de grãos local.

“As pessoas começaram a especular”, disse Chase Hubbard, analista de produtos de cânhamo da The Jacobsen, uma agência de relatórios de preços. “Os resultados podem ser trágicos para alguns pequenos agricultores”.

A Lei Agrícola coincidiu com um boom no mercado de alimentos, bebidas e produtos cosméticos ligados ao CBD, um setor para o qual a empresa de Wall Street Cowen & Co estimou um crescimento de US$ 16 bilhões até 2025.

Seduzidos por projeções de que o cânhamo traria US$ 750 em lucros por acre (0,4 hectare) – bem acima dos US$ 150 ou menos de um acre típico de soja – os agricultores apostaram em uma colheita que era ilegal durante a maior parte de sua vida.

Em abril passado, quando os agricultores plantaram, um quilo de biomassa de cânhamo era vendido por cerca de US$ 40. Agora, à medida que os agricultores colhem e colocam suas colheitas no mercado, a mesma quantidade é vendida por US$ 18 a US$ 25, de acordo com a PanXchange, uma plataforma de commodities.

Sam Baker, um produtor de tabaco de quinta geração da Carolina do Norte, cultiva sementes de tabaco, cânhamo e mudas de cânhamo. Depois de vender milhões de mudas para os produtores neste ano, cerca de 400 pessoas ligaram para ele, perguntando como vender sua colheita.

“As equipes plantaram 75, 80, 90 acres e não sabiam o que fazer com isso no final”, disse ele.

Alguns agricultores estão descobrindo que a colheita é mais trabalhosa e apresenta mais riscos do que muitos defensores do cânhamo alegavam. Como consequência, muitos estão expostos a tudo, desde mofo ao risco de as culturas cultivadas conterem níveis acima do permitido do químico psicoativo THC, que dá aos usuários uma alta, e precisarem ser destruídas.

Algumas das plantas de Maclure testaram “hot” (“quente”) para THC este ano, então sua equipe teve que cortar as plantas ofensivas e triturá-las ao ar livre.

“Você cultivou nada além de lixo”, disse Maclure.

À medida que o cânhamo se torna uma commodity, as pequenas fazendas não conseguem acompanhar as operações maiores que podem vender suas colheitas a granel a preços mais baixos, dizem os compradores no atacado.

“Mamãe e papai não serão capazes de competir nesse campo”, disse Michael Gordon, coCEO da Kush.com, um importante mercado atacadista de cânhamo. “A indústria do cânhamo é mais como óleo de canola do que fabricação de cerveja artesanal”.

Apesar das dificuldades, alguns agricultores permanecem otimistas em relação à indústria emergente. Agricultores com cadeias de suprimentos estabelecidas e experiência relatam que estão lucrando nesta temporada.

As novas regras interinas do Departamento de Agricultura dos EUA, divulgadas nesta semana, provavelmente abrirão o caminho para os agricultores de cânhamo se qualificarem para melhores seguros e financiamento, diminuindo seus riscos em caso de mau tempo ou se o comprador desaparecer, disse Ken Anderson, fundador da empresa processadora de cânhamo Legacy Hemp, em Wisconsin.

Enquanto isso, os profissionais da indústria preveem que muitos produtores de cânhamo novatos partirão após esta decepcionante primeira colheita.

Tradução: Joel Rodrigues | Smoke Buddies.

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) de uma linda inflorescência de cannabis, ao centro da imagem, e um fundo branco com mais algumas plantas no canto inferior esquerdo, fora de foco. Foto: Reuters.

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