No Canadá, construtores estão trocando cimento por cânhamo
Empresas de construção estão substituindo o cimento tradicional por concreto feito de cânhamo como uma alternativa mais ecológica ao meio ambiente, visando reduzir a poluição emitida em uma obra
Os campos de cânhamo que brotam em uma parte do Canadá mais conhecida por sua gigante reserva de petróleo mostram como as mudanças climáticas têm transformado o setor de construção.
Seis anos depois de se estabelecer à sombra do campo de petróleo de Calgary, Mac Radford, 64 anos, diz que não consegue atender todos os pedidos de materiais ecológicos de construtoras que tentam diminuir suas pegadas de carbono. Seu negócio, a JustBioFiber Structural Solutions, está na vanguarda das empresas que usam o cânhamo – o tedioso primo da maconha, sem substâncias psicoativas – para mitigar os gases de efeito estufa que causam o aquecimento global, segundo artigo da Bloomberg.
Em todo o mundo, construtoras estão usando soluções modernas em métodos de construção antigos que empregam o saudável cânhamo. Engenheiros romanos usavam as fortes fibras da planta na argamassa que misturavam para sustentar pontes. Mais recentemente, o ex-consultor da Casa Branca Steve Bannon considerou o uso do chamado concreto de cânhamo para construir paredes. Os primeiros resultados indicam que é possível explorar a demanda por alternativas mais limpas ao cimento.
“Temos muito mais demanda do que podemos atender”, disse Radford, em sua fábrica em Airdrie, que está em expansão e logo espera produzir um volume anual de tijolos de cânhamo suficiente para construir 2.000 casas.
Leia mais: Maconha vs. Cânhamo, o que você precisa saber
Poluição
Emissões de aço, cimento e edificações superam carros e caminhões em 2017. Alternativas mais verdes ao cimento aumentam a pressão sobre empresas como LafargeHolcim e Votorantim Cimentos, diante dos esforços globais para reduzir as emissões.
Fabricantes de cimento são responsáveis por cerca de 7% do dióxido de carbono global emitido na atmosfera todos os anos. Os fabricantes dizem que é um desafio encontrar mercados para alternativas mais ecológicas, abrindo caminho para empreendedores como Radford, que atendem a clientes preocupados com o impacto de seus negócios no planeta.
“Eles adoram quando entendem”, disse Radford sobre os construtores que conheceram e adoraram os tijolos modulares e intertravados que ele inventou para seus projetos. “Precisamos mudar nossas antigas práticas”.
Enquanto arquitetos e desenvolvedores tradicionalmente se concentram na energia usada por seus edifícios quando estão prontos, na verdade são os materiais utilizados em sua construção que representam o impacto da pegada de carbono de forma vitalícia em sua estrutura. Substituir materiais de alta intensidade de carbono, como cimento, por alternativas mais ecológicas, como cânhamo, pode reduzir drasticamente ou até compensar a poluição e gases de efeito estufa.
Absorção de Carbono
Os campos de cânhamo absorvem carbono quando estão crescendo. Após a colheita, secas e misturada com cal ou argila, sua absorção continua com os gases de efeito estufa. As estruturas de cânhamo também apresentam melhor ventilação, resistência ao fogo e regulação da temperatura.
Em toda indústria da construção civil, os números variam dependendo do processo, mas a Just BioFiber diz que o cânhamo captura 130 Kg de dióxido de carbono por cada metro cúbico construído. Essas estruturas feitas com seus tijolos sequestram mais gases de efeito estufa do que emitem na produção. Em contrapartida, cada tonelada de cimento produzido emite meia tonelada de dióxido de carbono, de acordo com a Associação Europeia de Cimento.
Leia também: Cânhamo vira alternativa ao concreto na Costa Rica
Desenvolvido na França há mais de 30 anos, o cânhamo foi usado inicialmente para a renovação de casas antigas, pois misturava pedra e cal. Isso progrediu para novas casa, escritórios e prédios municipais, com até sete andares, de acordo com Quentin Pichon, fundador da Can-Ingenieurs Architectes, especializada em construções com cânhamo.
O cultivo de cânhamo na França vem crescendo na última década como resultado de um aumento no uso na construção, mas também porque as mesmas plantas podem ser usadas para produzir canabidiol, disse Pichon. As vendas de cânhamo no Canadá podem chegar a US$ 1 bilhão em cinco anos,frente aos US$ 140 milhões no ano passado, segundo o Instituto de Tecnologia do Norte de Alberta.
Leia também:
#PraCegoVer: fotografia (de capa) em plano fechado que mostra parte de um muro que está sendo construído com tijolos modulares feitos à base de cânhamo, com detalhe para as mãos da pessoa (atrás do muro) que está assentando um dos blocos.
- Smoke Buddies: 13 anos em constante evolução e transformação - 25 de janeiro de 2024
- Anvisa terá que explicar na justiça a proibição de importação de flores de cannabis - 24 de julho de 2023
- Proibir flores de cannabis é vetar acesso à saúde e ao bem-estar - 27 de junho de 2023
- Ricardo Petraglia lança campanha para incluir o cultivo pessoal de maconha no PL 89/2023 - 23 de junho de 2023
- STF pode ficar mais conservador com Zanin, advogado de Lula - 23 de junho de 2023
- Uma crítica a quem acredita que decisão do STF possa prejudicar mercado medicinal da maconha - 12 de junho de 2023