Na Paraíba, cerca de 600 pacientes de maconha medicinal são atendidos
Na região do Nordeste, a maconha para fins medicinais segue triunfando rumo à legalização. A associação paraibana Abrace Esperança foi autorizada, no final de novembro, a manter o cultivo e manipulação da cannabis para uso terapêutico dos pacientes que, de 151 na época, hoje somam cerca de 600 associados. As informações são do Diário de Pernambuco.
Uma decisão da Justiça Federal na Paraíba (JFPB) que autorizou a Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace), em João Pessoa, a manter o cultivo e manipulação da maconha (Cannabis sativa) para fins medicinais, também foi comemorada por pelo menos 60 famílias pernambucanas. Cerca de 10% das famílias associadas à Abrace são do estado.
No Recife, a família de Alice Mucarbel, dois anos e oito meses, recebeu a notícia com alívio. A menina tem síndrome de Aicardi, uma doença genética rara caracterizada pela ausência parcial ou total do corpo caloso (estrutura que faz a ligação entre os dois hemisférios do cérebro), anomalias na retina e convulsões. Antes de começar a usar medicamentos, Alice tinha cerca de 300 convulsões por dia. Com o uso do derivado da maconha, os episódios diminuíram para no máximo quatro. Agora, a família pode receber o óleo de canabidiol sem medo.
Até a deliberação judicial ser divulgada, a Abrace se valia de uma liminar da Justiça paraibana para continuar fornecendo o óleo às famílias associadas, entre elas a de Alice. “No entanto, sempre existia o medo de a liminar ser derrubada e perdermos o direito”, conta a advogada Aline Mucarbel, 34, mãe da menina. A decisão de novembro confirmou a liminar de 27 de abril de 2017. À época, 151 famílias associadas foram atendidas pela determinação. Hoje, a Abrace tem cerca de 600 pacientes associados (sendo 60 pernambucanos), que serão beneficiados.
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Segundo Aline, a qualidade de vida da filha mudou radicalmente desde que ela começou a fazer uso da substância. A mãe lembra que os primeiros espasmos começaram a aparecer quando Alice tinha apenas 40 dias de vida. “Nesse período, ela usou oito medicamentos. Chegou a tomar cinco remédios por dia, quando as convulsões diminuíram de 300 para 20 diariamente. Foi quando propomos à neuropediatra o uso do canabidiol. Com isso, o número baixou para dois ou quatro por dia”, relata.
Mais do que diminuir as convulsões, o uso do canabidiol – uma das 113 substâncias químicas canabinoides encontradas na maconha – “devolveu” a menina ao convívio familiar. “Quando usava os medicamentos convencionais, ela passava o dia dopada. Não conseguia interagir e não se alimentava. Agora, Alice sorri, se alimenta e balbucia palavras como ‘mamãe’, ‘vovó’, ‘não’ e ‘papai’. Isso não tem preço”, ressalta Aline.
Decisão histórica
A juíza federal substituta da 2ª Vara Federal da Paraíba, Wanessa Figueiredo, tomou a decisão que permite a Abrace manter o cultivo e manipulação da maconha. A magistrada considerou que a medida decorre do “direito à saúde e da garantia da dignidade da pessoa humana, constitucionalmente assegurados”. A julgadora também considerou o custo da importação dos medicamentos à base da Cannabis que pode chega a R$ 1 mil por mês.
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