Muitos atletas dizem que o CBD é um analgésico melhor. Isso é verdade?

Fotografia em primeiro plano de Riley Cote agachado ao lado de um pé de maconha, em floração, de um cultivo a céu aberto; ao fundo, pode-se ver um gramado. CBD.

Para atletas pró-CBD, um apoio científico mais sólido pode ajudar a provar suas reivindicações e a mudar as políticas de doping por maconha. As informações são da Wired

Em suas oito temporadas na Liga Nacional de Hóquei, Riley Cote estima que ele tenha participado de centenas de brigas. Cote era um enforcer – um cara durão cujo trabalho era manter os jogadores do outro time sob controle. Se um oponente ficasse muito bruto no gelo, Cote o colocava na linha.

Aposentou-se em 2010, tendo sofrido traumas repetidos no cérebro e no corpo. Cote sofria de dor crônica e se preocupava com o que poderia acontecer com sua mente danificada à medida que envelhecia. Então, em 2013, ele experimentou canabidiol, mais conhecido como CBD. “Isto foi um divisor de águas, com certeza”, diz Cote. Agora ele relata que o usa pelo menos duas vezes por dia.

Após a crise dos opioides e com um crescente corpo de evidências mostrando os perigos de lesões cerebrais repetidas, a cannabis e seu extrato de canabidiol parecem promissores medicamentos maravilhosos que podem reduzir a dependência dos opioides. Em 2017, a Agência Mundial Antidoping removeu o CBD de sua lista de substâncias proibidas. No mesmo ano, o ex-comissário da Associação Nacional de Basquete David Stern disse que a liga deve mudar suas políticas para permitir que os jogadores usem maconha medicinal. E este ano, a Associação Nacional de Jogadores da Liga de Futebol Americano fez parceria com a NFL para estudar a maconha e o CBD como alternativas a outras terapias da dor, a saber, os opioides.

O CBD, que não é psicotrópico nem viciante, conquistou várias estrelas defensoras. Entusiastas como o ex-recebedor do New York Giants Tiki Barber, o ex-Boston Celtic Paul Pierce e o recém-aposentado Rob Gronkowski, estrela do New England Patriots, todos têm suas próprias empresas de CBD que promovem a substância como uma poderosa ferramenta de cura que pode controlar a dor e, no caso de Pierce, ajuda com ansiedade incapacitante. Sua defesa elevou o perfil da droga e ajudou a iniciar uma conversa nacional.

Leia ~ Maconha no esporte: atletas pedem retirada da cannabis da lista de proibições da Wada

Mas a ciência é tão convincente quanto seu discurso de vendas? Os cientistas acreditam que o CBD está fazendo algo para aliviar a dor crônica e a inflamação, mas o que exatamente é isso e quais são as doses adequadas ou os melhores métodos de administração continuam sendo um mistério. “Um grande número de pessoas está vendo benefícios anedóticos, então há algo lá”, diz Jeffrey Raber, químico e CEO da Werc Shop, um laboratório de cannabis na Califórnia. “Eu não acho que estamos muito perto de descobrir isso ainda”.

Como o THC, o composto psicoativo mais famoso da erva, o CBD é derivado da maconha ou cânhamo. Atua no sistema endocanabinoide, interagindo com os receptores CB1 e CB2 em todo o corpo, ajudando a regular muitas funções, incluindo sono, memória, apetite, dor, metabolismo e sistema reprodutivo. O CBD não deixa você chapado, mas pesquisas com roedores sugerem que ele pode ter poderes curativos significativos.

Um estudo, por exemplo, descobriu que esfregar creme de CBD nas articulações de ratos com artrite pode ajudar a tratar sua doença reduzindo a inflamação. Outro descobriu que o CBD também poderia reduzir a dor da osteoartrite. Os pesquisadores mostraram que os ratos foram capazes de suportar mais peso em seus membros afetados e tiveram menos inflamação nas articulações após tomar o CBD.

Roedores, no entanto, não são pessoas. Seus metabolismos funcionam de maneira diferente. Eles não sofrem das mesmas condições que os humanos. E algo tão complexo quanto a dor, com suas muitas causas, é melhor estudado em seres humanos quando possível. “Nós realmente precisamos de mais ensaios clínicos e mais pesquisas”, diz Andrea Hohmann, pesquisadora de canabidiol da Universidade de Indiana que estuda o potencial do CBD como uma terapia da dor não-aditiva.

O CBD a intriga porque parece ser um composto relativamente seguro em comparação com analgésicos mais poderosos, como oxycontin ou fentanil. Dado que um número significativo de jogadores aposentados da NFL relata o uso de opioides, uma nova opção de medicamento pode fazer uma grande diferença.

Os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, nas siglas em inglês) pensam o mesmo. Neste mês, o NIH anunciou nove novas bolsas de pesquisa dedicadas à investigação do potencial do CBD como uma terapia anti-inflamatória e de alívio da dor.

Cote, que também iniciou seu próprio negócio de CBD, passa seus dias com a droga. Ele toma uma pílula pela manhã para ajudar no controle da dor e inflamação e uma tintura à noite para ajudá-lo a dormir. Se estiver com dor de um treino, ele pode usar um creme tópico durante o dia nos músculos ou nas articulações.

Mas, diferentemente dos remédios para dor sem receita, como aspirina e ibuprofeno, não existe uma caixa ou conjunto de estudos rotulados informando a Cote o quanto tomar. Cote teve que descobrir isso por si mesmo, monitorando como seu corpo respondia a diferentes doses e mecanismos de administração. “Certamente há um elemento de autoexperimentação”, diz ele.

Além disso, é apenas o CBD puro que está ajudando a Cote? Isso também não está claro. Nada sobre esses produtos é padronizado. Alguns deles podem ser adulterados, especialmente em estados onde a maconha ainda é ilegal e onde não há uma infraestrutura de teste estatal. E há uma enorme quantidade de variação entre produtos. Cada creme, tintura e tônico tem sua própria receita única. Alguns incluem produtos químicos adicionais à maconha; outros não. Comprimidos ingeríveis feitos por empresas diferentes podem não ter a mesma absorção.

“O CBD é provavelmente o que se pode chamar de droga suja”, diz Hohmann, o que significa que seus mecanismos são altamente sensíveis ao ambiente e ao modo de consumo. Os muitos outros compostos da maconha – terpenoides, THC e outros – podem afetar o modo como o corpo processa o CBD. E a variação genética também faz as pessoas reagirem de maneira muito diferente. No momento, não há dados sobre quais formatos ou formulações são os mais eficientes, muito menos seguros. “Saberíamos muito mais a respeito”, diz Raber, “se não a tornássemos ilegal”.

Para atletas pró-CBD, um apoio científico mais sólido pode ajudar a provar suas reivindicações e mudar as políticas das ligas. Um teste positivo de drogas na maioria dos esportes profissionais, incluindo a Associação Nacional de Basquete e a Liga Principal de Beisebol, pode levar você a um programa de abuso de substâncias juntamente com uma multa pesada. Na NFL, você pode perder jogos ou até ser banido do esporte. Somente a Liga Nacional de Hóquei parou de penalizar os jogadores que testam positivo para a maconha.

Mas as próprias ligas não são o único obstáculo: o CBD ainda não é legal em todos os estados. Os atletas promotores do CBD terão que fazer mais do que mudar as regras da liga para colocar o analgésico de sua escolha no mainstream. Eles também terão que mudar as políticas nacionais de drogas.

Tradução: Joel Rodrigues | Smoke Buddies.

Leia também:

Por que os atletas estão trocando o ibuprofeno por CBD?

#PraCegoVer: fotografia (de capa) em primeiro plano de Riley Cote agachado ao lado de um pé de maconha, em floração, de um cultivo a céu aberto; ao fundo, pode-se ver um gramado.

mm

Sobre Smoke Buddies

A Smoke Buddies é a sua referência sobre maconha no Brasil e no mundo. Aperte e fique por dentro do que acontece no Mundo da Maconha. http://www.smokebuddies.com.br
Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!