Motoristas reclamam de erros em resultados de exames toxicológicos no RS

Fotografia de uma caminhão baú grande branco que segue por uma estrada (vindo da direita da foto), no primeiro plano, e ao fundo um campo gramado com árvores e o pôr do sol. Exames.

Motorista de app e caminhoneiro afirmam que não usam drogas, porém elas aparecem nos laudos. Como o sistema só aceita um novo exame após 90 dias, eles ficaram sem habilitação. Enquanto isso muitos motoristas estão apresentando laudos falsos para continuarem dirigindo.

Um motorista de aplicativo e um caminhoneiro do Rio Grande do Sul acusam laboratórios de erros nas análises de exames toxicológicos e até troca de materiais coletados, segundo noticiou o G1.

O motorista Arno Maciel afirma que nunca usou drogas. No exame toxicológico que fez para renovar a CNH de categoria C, em Porto Alegre, o resultado apontou que ele havia consumido cocaína. Ele mostrou o exame ao seu médico.

“Meu médico, sobre essa quantidade que veio aqui, disse que era coisa de usuário contumaz, de uma pessoa que usava quase todo dia”, diz o motorista, que nega ser usuário de drogas. “Nunca experimentei, nunca usei”, diz.

Para comprovar que não é usuário, Arno fez outros três testes em dois laboratórios diferentes. Todos deram negativo. Mas como o sistema só aceita um novo exame após 90 dias, ele ficou três meses sem poder dirigir.

Ele diz que teve prejuízo moral, além de financeiro. “Fiquei sem carro, sem poder dirigir por uma coisa que eu não uso”, lamenta.

O caso dele é parecido com o de outro caminhoneiro, de Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Ele prefere ter a identidade preservada.

“Deu positivo pra cocaína. Eu nunca usei entorpecente, droga nenhuma, não uso nem rebite, nada”, afirma. “Eu não tenho como sobreviver sem a minha carteira, é a única profissão que eu tenho”, salienta.

Como a carteira do motorista vence na próxima semana, ele contratou um advogado para entrar na Justiça e fazer com que o Detran aceite um novo exame. O caminhoneiro suspeita que os pelos coletados para análise foram trocados.

O material foi retirado dos braços do motorista no dia 6 de março deste ano, às 13h50. Mas o resultado do exame diz que a coleta ocorreu no dia 8, às 7h49.

#PraCegoVer: fotografia do comprovante de coleta dos pelos do braço do motorista emitido pelo laboratório, onde está ampliado e circulado com uma linha amarela fluorescente a data e horário “06/03/2019 13:50:47”.

“É um erro grosseiro, que no reteste deveria ter sido identificado pela empresa, mas não foi tomada nenhuma providência”, diz o advogado Livio Antonio Sabatti.

No Rio Grande do Sul, o Detran diz que não tem responsabilidade sobre a fiscalização dos laboratórios, mas vai encaminhar a denúncia ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em Brasília.

Em nota, o Denatran disse que uma resolução exige uma série de documentos e procedimentos para garantir segurança e precisão dos exames. E que está revisando seus processos para aprimorar os controles.

O laboratório Sodré, que fez o exame do motorista Arno Maciel, disse que cada nova coleta determina novo perfil do exame, que não pode ser comparado ao anterior. E que a parte técnica das análises segue normas reconhecidas internacionalmente.

O laboratório Labet garantiu que não houve troca de material e que a diferença de datas no exame do caminhoneiro se deve à compensação do pagamento, que ocorreu dois dias após a coleta.

Laudos falsos

No último domingo (21), o programa Fantástico, da TV Globo, exibiu uma reportagem que mostrou outra situação envolvendo exames toxicológicos: a compra de laudos falsos por caminhoneiros usuários de drogas, para poderem continuar dirigindo. Em cinco meses, o Ministério Público de Santa Catarina identificou quase 300 motoristas, de quatro estados, que pagaram propina para forjar resultados de exames antidrogas.

No Rio Grande do Sul, o MP-SC apontou que caminhoneiros de seis cidades compravam laudos toxicológicos falsos para garantir o resultado negativo do exame. Eles são de Alegrete, Flores da Cunha, Osório, São Sepé, Caxias do Sul e Três Cachoeiras.

O promotor de Justiça responsável pela investigação, Gustavo Wiggers, diz que eles pagaram até R$ 1,2 mil em troca do resultado negativo.

Os clientes eram motoristas usuários de drogas. Um deles admitiu consumir a droga rebite e diz ter comprado o exame. “Precisava para cumprir os horários de carga que eu tinha que descarregar”, justifica o motorista.

O diretor do Detran do Rio Grande do Sul diz que vai bloquear a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) dos caminhoneiros envolvidos na fraude.

Taxistas investigados

Já o Ministério Público do Rio Grande do Sul investiga cerca de 100 taxistas de Porto Alegre suspeitos de apresentarem exames toxicológicos falsos, indicando que não seriam usuários de drogas. Desde 2018, a capital gaúcha exige os laudos dos condutores.

A Prefeitura de Porto Alegre descobriu a fraude ao perceber inconsistências no preenchimento dos laudos. O caso começou a ser apurado após denúncias de que haveria um comércio de exames em pontos de táxi da cidade.

Foram identificadas pelo menos duas formas de falsificação. Em algumas situações, o resultado positivo para drogas como cocaína e crack era simplesmente alterado para negativo. Mas, na maioria dos casos, os motoristas investigados usavam as informações de exames de taxistas que deram negativo e adulteravam o documento entregue à prefeitura.

A prefeitura informou que abriria um processo administrativo que pode cassar as licenças dos taxistas. Os 6.175 laudos entregues serão conferidos junto aos laboratórios e, segundo a prefeitura, o número pode crescer.

Leia também: Exames toxicológicos passam a ser obrigatórios para taxistas de Porto Alegre

#PraCegoVer: fotografia (de capa) de um caminhão baú grande branco que segue por uma estrada (vindo da direita da foto), no primeiro plano, e ao fundo um campo gramado com árvores e o pôr do sol.

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