Monark, cannabis e liberdade de expressão: que lições podemos aprender?

Além de que nem todo consumidor de maconha pode ser uma “boa influência” para a causa, entenda a seguir o que o caso do podcaster tem a nos ensinar
Se você vive neste universo ou até no metaverso deve ter tomado conhecimento dos despautérios do podcaster Bruno Aiub, mais conhecido como Monark, ex-apresentador e cofundador do Flow Podcast, em uma fala que defendia o nazismo.
Caso não tenha visto, o episódio 545 do podcast, já retirado do ar pela produtora (ainda bem!), contou com a presença dos deputados Kim Kataguiri (DEM-SP) e Tabata Amaral (PSB-SP) e, quando o tema liberdade de expressão era discutido, Monark falou:
“A esquerda radical tem muito mais espaço do que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço. Eu sou mais louco que todos vocês. Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista, reconhecido pela lei”.
Tabata, contrária a ambos, rebateu o comentário e falou que a “liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca em risco a vida do outro”. “O nazismo é contra a população judaica e isso coloca uma população inteira em risco”, afirmou a parlamentar.
No mesmo episódio, Kataguiri afirmou considerar que a Alemanha errou ao ter criminalizado o partido nazista, após ser questionado por Amaral. Depois, o deputado comentou o caso. “O que eu realmente disse sobre o nazismo: muito melhor expor a crueldade dessa ideologia nefasta para que todos vejam o quanto ela é absurda. Sufocar o debate só faz com que grupos extremistas cresçam na escuridão e não sejam devidamente combatidos e rechaçados”.
Após a repercussão negativa de sua fala, Monark publicou um vídeo dizendo que suas falas haviam saído de contexto e que ele considera o nazismo abominável. O podcaster argumentou no vídeo que defende a liberdade de expressão para “saber quem é idiota para que a gente possa educar essa pessoa, se for possível afastar essa pessoa, e, se ela estiver cometendo um crime, punir essa pessoa”. “É muito mais fácil descobrir quem ela é se a gente deixa ela falar”, argumentou. Ele também se disse vítima da “cultura do cancelamento”.
Depois, publicou um novo vídeo dizendo que errou e pediu desculpas. Monark afirmou que estava bêbado durante o programa, pediu compreensão e convidou pessoas da comunidade judaica a irem ao seu programa para conversar e explicar mais “sobre toda a história”.
Interrompendo os absurdos jogados ao vento, como se fossem palavras inofensivas, já temos algumas lições.
Liberdade de expressão NÃO é carta coringa para abomináveis declarações
Resposta padrão para todo influenciador ou pessoa com poder e alcance de público pego por proferir algum absurdo é o argumento da dita “liberdade de expressão”.
Mas o que muita gente esquece, ou prefere fazer de conta que desconhece, é que “a Constituição consagra o binômio: liberdade e responsabilidade”, conforme disse o ministro do Supremo Tribunal Alexandre de Moraes ao comentar o ocorrido nas redes sociais, ponderando que: “O direito fundamental à liberdade de expressão não autoriza declarações abomináveis e criminosas, como apologia ao nazismo”.
A Constituição consagra o binômio: liberdade e responsabilidade. O direito fundamental à liberdade de expressão não autoriza a abominável e criminosa apologia ao nazismo.
— Alexandre de Moraes (@alexandre) February 8, 2022
Falas que incentivam crimes de ódio ou que afetem a integridade de terceiros não devem ser baseadas pela argumentação da liberdade de expressão e, caso o façam, que paguem, da forma mais custosa possível, as consequências.
Não culpe o abuso de substâncias
O uso e/ou abuso de substâncias lícitas ou ilícitas não deve ser culpado pelas besteiras ditas ou atos errôneos de qualquer pessoa. É sabido dos efeitos de várias substâncias em nosso organismo, ao menos álcool, maconha e outras drogas mais comuns, mas colocá-los como o motivo de atos condenáveis serve para estigmatizar ainda mais as substâncias e desresponsabilizar quem os cometeu.
Mas, e a maconha nisso tudo?
Não é de hoje. Ora ou outra a maconha vinha à tona nos episódios do Flow Podcast — quando não era diretamente pautada em conversa com os convidados, era consumida por Monark durante os programas, muitas vezes rendendo mais do que a própria pauta da conversa, como no episódio com o pré-candidato à presidência Sérgio Moro, ou na presença de alguma persona mais proibicionista.
Logo, isso é uma mostra de que nem todo consumidor de maconha terá a mesma linha de pensamentos e ideais, ou que poderá ser uma “boa influência” para a causa, mesmo tendo grande alcance, como possuem Monark e o programa Flow Podcast.
Entretanto, vale ressaltar que este é também um consumidor, sujeito a direito e deveres, como seus semelhantes que possuem ideologias diferentes. O perfil do consumidor de cannabis é tão plural como a planta.
Bruno Aiub, o Monark, já foi desligado do Flow Podcast, servindo de exemplo, entre tantos outros, de que todos nós como cidadãos temos direitos e deveres, que estamos em constantes mudanças sociais e que é nosso dever se atentar ao que fala e é falado.
Em tempos deixamos o nosso repúdio às declarações feitas por Monark e pelo deputado Kim Kataguiri, e que paguem frente à Justiça as consequências de suas falas, estando sóbrios ou não.
#PraTodosVerem: fotografia de capa mostra Monark com fones de ouvido e os olhos arregalados, enquanto segura um cigarro, no estúdio do podcast, onde se vê uma cortina azul ao fundo. Foto: reprodução / Twitter.

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