Tabu: Mesmo sob anonimato Ministros do STF não dizem se já fumaram maconha
Sob condição de anonimato, reportagem questiona aos integrantes do tribunal se, no período da juventude, fumaram maconha ou tinham amigos com esse hábito. As informações são da Folha de S. Paulo
Ainda criança, ela foi matriculada em um internato de freiras. Arrumar a cama e tomar banho em tempo cronometrado eram regras diárias.
Outro, nos tempos de juventude, tinha o hábito de surfar nas praias do Rio de Janeiro e foi guitarrista da banda de rock “The five thunders” (os cinco trovões).
No mesmo período, o atual colega de tribunal prestava serviço militar e chegou à patente de segundo-tenente do Exército brasileiro.
Com trajetória e formação distintas, 11 ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) devem retomar nesta quarta-feira (9) o julgamento que decidirá se portar drogas para consumo pessoal deixará ou não de ser crime no país.
E qual é a experiência pessoal desse grupo de ministros com a maconha, droga que motivou todo esse debate?
Sob condição de anonimato, a Folha questionou os integrantes do tribunal se, no período da juventude, fumaram maconha ou tinham amigos com esse hábito.
Cinco ministros do Supremo afirmaram nunca ter consumido a erva. Seis preferiram não responder a pergunta da reportagem.
Até mesmo no tribunal que vai esmiuçar o tema, o consumo de drogas é um tabu.
Para o ministro Marco Aurélio Mello, a única experiência que teve, ainda nos tempos da juventude, não deixou uma boa lembrança. Ele conta que um amigo o levou “a cheirar, momentaneamente, lança-perfume”. O resultado não foi satisfatório.
“Eu passei mal, vomitei, botei o cabrito para berrar, foi uma coisa horrorosa. Foi a única coisa”, disse o ministro, que se recusou a falar sob anonimato. Com maconha, afirma, não teve contato.
“Nunca tive amigo maconheiro e nunca cheguei perto de um cigarro de maconha. E olha que curiosidade não me falta”, afirmou, entre risos.
E por que nunca fumou então? “Porque para mim é mais ou menos um tabu, é algo que não está na minha existência”, justificou o ministro.
Hoje, conta, bebe socialmente e gosta de fumar ocasionalmente um charuto, “para atender até o preto-velho”.
ROMARIA
Diante desse debate controverso, se é crime ou não portar e consumir drogas, uma romaria de religiosos, autoridades médicas e juristas vem mudando a rotina de alguns gabinetes do Supremo Tribunal Federal.
Esse movimento se intensificou após o voto do relator da matéria, ministro Gilmar Mendes –o julgamento foi interrompido após esse voto.
Desde que defendeu a descriminalização das drogas, entretanto, ele vem destacando que sua posição não significa um “liberou geral”.
Para Mendes, a pessoa flagrada com entorpecente para consumo próprio deve estar sujeita a sanções, como aulas e advertência verbal.
Atualmente, quem é pego nessa situação também está sujeito a penas –como prestação de serviço à comunidade, mas pode perder a condição de réu primário.
O argumento do ministro é que a criminalização do porte de drogas para consumo próprio desrespeita “a decisão da pessoa de colocar em risco a própria saúde”.
NOVO INTEGRANTE
O julgamento foi suspenso há pouco mais de duas semanas após o ministro Luiz Edson Fachin pedir maior prazo para analisar o assunto.
Entre colegas e advogados, a expectativa é que o mais novo integrante da Corte vote pela manutenção das regras.
Durante sabatina no Senado antes de assumir o cargo, em maio passado, Fachin indicou ter resistências à descriminalização e ponderou que o tema exige cautela, porque “onde passa um boi, passa uma boiada”.
Na ocasião, lembrou ainda aos senadores relato de amigos que têm a “dolorosa experiência” de um filho envolvido com drogas.
“É uma tragédia. Acaba com o adolescente e acaba, às vezes, com a família.”
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