minha amiga, a maconha

Fotografia em plano fechado de uma inflorescência de maconha, com pistilos em tons de creme e folíolos de coloração arroxeada, próximo ao centro, que variam de cor ao longo do comprimento — os menores, no primeiro plano, têm as pontas amareladas; na parte esquerda da imagem, em desfoque, vê-se um fundo roxo. Foto: THCamera Cannabis Art. mercado março

quem avisa, amigo é, e ela me fala na lata tudo que preciso ouvir. me faz refletir e ponderar sobre quem posso ser se ousar me despir de velhas máscaras. Por Laura Maria*

meus amigos e eu compartilhamos muitos gostos em comum, entre eles o gosto por boas brisas. claro que o conceito de “boa brisa” foi mudando (e pra melhor) ao longo dos anos, mas a ideia central é a mesma há tempos: se reunir, falar da vida, acender um, falar mais ainda, dar risada e/ou chorar, ouvir música, comer algo, tomar um negócio. boas brisas. brisas profundas, ou não.

não sou a pessoa mais sociável do mundo, me considero um tanto desconfiada, mas a ganja faz aparecer meu lado mais amigável. note que não é que eu viro outra pessoa quando tô chapada: é que eu me sinto confortável pra mostrar esse aspecto que já existe em mim, mas que acaba ficando meio embotado por sentimentos de insegurança/menos valia. a minha sensação é de que a cannabis me despe desses sentimentos e me permite ser mais confiante em relação a quem eu sou em essência. me sinto menos presa do ego, mais caçadora de mim, e gosto disso.

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boa professora que é, ao mesmo tempo que me mostra o que tenho de bom, me acorda pro que posso melhorar em mim. ganho uma clareza afiada quando a brisa que bate é mais que só uma onda legal. tem vezes que bate forte e doído, em outras o tapa na cara é dado como um afago, como um tapinha encorajador, um empurrão pra seguir firme e forte no intento de ser cada vez mais o que eu vim ser. acontece também de ser uma onda mais forte, e o aprendizado fica quase como a lembrança de um sonho. mesmo assim, confio que o que é pra ser vigora, e o que tem que ser absorvido é absorvido, mesmo que num nível mais sutil da consciência.

essa possibilidade de reflexão é um presente. aprendo muito sobre mim nesses mergulhos esfumaçados, e como ávida conhecedora de mim mesma, me vejo cada vez mais rodeada das pessoas nessa mesma frequência. as que não vibram nessa ideia de crescer e melhorar acabam se afastando, sumindo da minha vida, se tornando cada vez mais parte do meu passado.

a ganja permeia minha teia de afetos. dá abertura, atrai, filtra, barra, expulsa. é uma força a ser reconhecida e respeitada, por ter me dado – e tirado, e me livrado de – tanto. a força dela somada à minha, porque a semente importa tanto quanto a qualidade do solo. eu sou o resultado de todas as minhas experiências, e muitas delas tiveram a influência dessa entidade que é a maconha. minhas amizades sabem do meu relacionamento com ela, e, se não concordam, hoje respeitam, porque sabem o tanto que isso me faz bem, o tanto que significa essa parceria. o quanto eu já me transformei, e o quanto dessa transformação se deu através das reflexões que ela me proporciona.

*Laura Maria. escrevo como quem pensa. escrevo como quem viaja nas voltas da mente, no jeito que as palavras são escritas e no peso de cada uma delas. a ganja é uma velha amiga, daquelas que me abraçam forte enquanto me dizem verdades duras na cara.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia em plano fechado de uma flor de maconha, com pistilos em tons de creme e folíolos de coloração arroxeada, próximo ao centro, que variam de cor ao longo do comprimento — os menores, no primeiro plano, têm as pontas amareladas; na parte esquerda da imagem, em desfoque, vê-se um fundo roxo. Foto: thcameraphoto.

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