Mineira lança primeiro coworking para empresas de cannabis nos EUA

Fotografia da mineira Maria Cordeiro, dos ombros para cima, com cabelos escuros que contrastam com a roupa e fundo claros. Foto: divulgação.

“Nossa meta é levar as empresas a entenderem que dá para fazer negócio por meio da colaboração, e não só competindo umas com as outras”, segundo Maria Cordeiro para o Projeto Draft

Hoje a cannabis é legalizada em 33 dos 50 estados norte-americanos. Nenhum tem um mercado tão desenvolvido quanto a Califórnia. Só em 2019, foram 3 bilhões de dólares em vendas no estado, segundo a BDS Analytics.

A ideia de que não havia lugar melhor no mundo para lançar um projeto de cannabis motivou três empreendedores — incluindo a brasileira Maria Cordeiro — a se mexer para desbravar esse mercado. Em 2018, ela e os sócios começaram a estruturar a My Green Network, criada para oferecer espaço de coworking a empresas do setor.

A Califórnia, diz Maria, tem uma lei de licença muito específica sobre cannabis, e uma dessas licenças é a Type-S, para uso compartilhado de espaços de fabricação.

“Estivemos entre os primeiros a solicitar essa licença. Ninguém tinha uma iniciativa como a nossa, em que o empresário aluga um espaço para criar seu próprio negócio de cannabis. Se não tivéssemos investido no modelo, outra pessoa iria”.

 

 

Após dois anos desenvolvendo o projeto, os sócios foram surpreendidos pela pandemia, que atrasou as obras e adiou os planos por alguns meses. Maria afirma que o primeiro espaço de coworking — no Condado de Orange, próximo a Los Angeles — será inaugurado em novembro.

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Bióloga de formação, ela acabou migrando para o mundo do marketing

Maria, 25, é natural de Minas. Diz que nunca usou cannabis, mas começou a se interessar pelo tema por meio da leitura de artigos científicos, durante a graduação em biologia pela Universidade Federal Fluminense, pela qual se formou.

Acabou migrando da biologia para o marketing. Em 2017, pilotava sua própria agência, a Goesto Studio, quando conheceu o advogado americano James Shih, da firma de advocacia SMS Law, cliente da empresa.

Os dois engataram um relacionamento. James e um amigo, o também advogado Ken Hwang, já vinham discutindo a ideia de criar um negócio para facilitar o processo de retirada de licença por pessoas interessadas em ingressar no ramo da cannabis.

Em 2018, numa visita ao namorado nos EUA, Maria embarcou no projeto e os três começaram, a discutir como ampliar o escopo da empresa que James e Ken vislumbravam:

O custo para abrir um negócio de cannabis nos EUA normalmente é muito alto, porque para pedir a licença a pessoa já precisa ter um lugar pronto para a produção, num valor total de cerca de 700 mil dólares. Com a MyGN, o preço da aquisição da licença fica em 40 mil dólares — e a pessoa só precisaria pagar pela mensalidade do coworking”.

A proposta de valor da My Green Network seria essa: reduzir drasticamente os custos de empreendedores do mercado de cannabis com licenciamento e produção.

Para conhecer melhor a indústria, Maria se mudou de vez para os EUA

Enquanto James e Ken se focavam nos aspectos jurídicos do negócio, Maria ficou incumbida de tocar a frente de marketing. Entre 2018 e 2019, ela se dividia entre os dois países, com visitas regulares aos EUA (sua agência aqui no Brasil funciona até hoje).

Em outubro de 2019, porém ela percebeu que para conhecer de verdade essa indústria, precisaria estar mais perto.

“Minha ideia inicial não era permanecer. Mas queria entender como funcionavam as empresas, e vi que precisava ficar para de fato avançar. Então vim para os EUA e estou aqui até hoje”.

A principal dificuldade era encontrar um endereço para abrigar a primeira unidade de coworking da My Green Network. Na Califórnia, a pesquisa e fabricação de produtos com cannabis são restritas a algumas poucas áreas, conhecidas como “green zones”. “Em termos imobiliários, são áreas muito caras para se ter esse tipo de negócio”, diz Maria.

Por fim, acharam um espaço adequado com 800 m² no Condado de Orange. O investimento inicial foi de 1,5 milhão de dólares; um terço veio do bolso dos sócios e o outro 1 milhão de dólares de investidores. Assim, em 2019, eles davam início às obras.

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A pandemia atrasou as obras e transferiu os eventos para o digital

Além de tocar as redes sociais e cuidar de marketing digital, Maria passou a organizar palestras, seminários e workshops sobre empreendedorismo de cannabis. Aqueles eventos, presenciais, ajudavam a divulgar a proposta da empresa.

“Estava dando certo, as pessoas gostavam do nosso conteúdo, chegaram a nos pedir para fazer eventos em outros estados… Mas aí a pandemia aconteceu”.

Em março, começou a vigorar a quarentena na Califórnia. Os eventos da My Green Network migraram para o on-line e ritmo das obras do coworking precisou ser reduzido.

“Tivemos que desacelerar por uns meses”, diz Maria. “Agora já voltamos à velocidade normal, tomando todas as medidas para que essas pessoas estejam seguras”.

No geral, ela diz que a pandemia tem afetado pouco o mercado de cannabis no país, já que o produto é considerado essencial em vários estados. Os estabelecimentos que vendem cannabis seguiram funcionando.

Mesmo antes de abrir, o coworking já tem 15 empresas cadastradas

Com as pessoas mais tempo em casa, ela diz que a Califórnia viu o consumo de cannabis aumentar no início da pandemia.

Segundo Maria, esses fatores têm levado empresas de outros ramos a investirem em produtos à base da droga para continuar operando.

“Temos um acordo com uma empresa da área alimentícia, por exemplo, que decidiu entrar no setor da cannabis por que a fábrica deles vai fechar”.

Mesmo antes de abrir as portas, o coworking da My Green Network tem 15 empresas cadastradas, diz Maria. Os interessados puderam reservar espaço por meio de uma taxa reduzida de 1 mil dólares (a ser devolvido em caso de desistência antes da inauguração).

Entre os clientes que já assinaram estão a HighBridge, do Colorado, que deve usar o espaço para produzir cervejas com cannabis, a canadense Seven Point Edibles, de alimentos congelados, e a Canbiance, que vai fabricar suplementos à base do produto, além de empreendimentos menores, em estágio inicial.

Outras empresas maiores, inclusive uma farmacêutica, diz Maria, também devem utilizar o espaço; acordos de confidencialidade impedem a divulgação dos nomes.

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As mensalidades variam de 1.450 dólares até 36 mil dólares

A capacidade total do coworking do Condado de Orange será de 30 empresas funcionando por mês, em esquema rotativo — com até sete empreendimentos dividindo o espaço por dia.

Além de desembolsar 40 mil dólares pela licença de funcionamento, as empresas-clientes têm quatro planos à disposição. O mais básico custa 1.450 dólares e dá direito ao uso das estações de trabalho por apenas um dia ao mês (ou dois em meio período), além de espaço permanente para armazenagem da produção.

Por 4.150 dólares, os clientes têm acesso a dois dias de uso do espaço (ou quatro em meio expediente), cinco horas de sala de conferência e 250 gramas do extrato de cannabis à sua escolha. Outro plano, de 7.400 dólares, duplica o tempo de uso do espaço e da sala, e também o fornecimento do extrato.

Há ainda um plano top de linha (36 mil dólares). Entre os benefícios, uso de espaço privado de produção sem limite de tempo, unidade de armazenamento de tamanho extra, 1 kg de extrato, estacionamento privativo, 20 horas de uso da sala de conferência, serviço de recepcionista e até 100 entregas de produtos em varejo para qualquer endereço em Los Angeles.

Para dar suporte, a startup conta com engenheiros, designers e um chef

As companhias que assinam com a My Green Network, afirma Maria, podem equipar o espaço com todas as ferramentas necessárias para a produção. Caso não possuam o material, a startup se propõe a ajudar na aquisição.

É o coworking, também, que se encarrega de fazer a solicitação da licença de funcionamento junto ao empreendedor (que, segundo a lei, deve ter mais de 21 anos para atuar na área).

“Um diferencial enorme é que conseguimos garantir que a sua licença será aprovada, porque a solicitação é feita por meio do espaço de produção — e a nossa unidade já tem licença para funcionar”.

Maria diz que a My Green Network oferecerá apoio inclusive no desenvolvimento do produto em si ou em eventuais ajustes na fórmula. Para isso, conta com uma equipe de engenheiros, designers e um chef de cozinha.

A startup firmou uma parceria com uma produtora, que ajudará os clientes a criar eventos personalizados para suas marcas. “É um suporte do início ao fim do processo”, diz Maria.

A My Green Network desenvolve ainda uma plataforma (“Find Your Green”), gratuita para os clientes e hoje em fase de testes, para criar uma rede conectando players do setor.

“Nossa meta é levar as empresas a entenderem que dá para fazer negócio por meio da colaboração, e não só competindo umas com as outras”.

Um “Shark Tank Canábico” quer ajudar a tornar a indústria mais diversa

A empresa projeta uma linha própria de produtos; o primeiro serão brigadeiros à base de cannabis (com a promessa de aliviar sintomas da TPM).

Os sócios buscam investidores e já sonham com pelo menos mais dois coworkings: um segundo no Condado de Orange e outro em Los Angeles. No futuro, diz Maria, a expectativa é expandir para Brasil e México.

“Depende de os países avançarem na legalização. Creio que, no Brasil, isso leve pelo menos cinco anos — e com uma legislação mais restrita [do que nos EUA]. Mesmo que não aconteça, pensamos em entrar no mercado brasileiro apostando na área medicinal”.

Enquanto isso, a My Green Network lançou o Green Quest, que se propõe a ser um shark tank canábico.

A iniciativa vai selecionar e premiar um projeto (pilotado por pessoas ligadas a alguma minoria) com uma licença de funcionamento e um ano de coworking gratuito, além de assistência legal para a montagem da empresa e auxílio em branding.

Para participar, é preciso enviar um vídeo de 2 minutos e um texto de 420 palavras (abordando, inclusive, seu background minoritário). “Pode participar gente do mundo todo”, diz Maria. “A única questão é que quem for escolhido vai precisar se mudar para a Califórnia”.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia de Maria Cordeiro, dos ombros para cima, com cabelos escuros que contrastam com a roupa e fundo claros. Foto: divulgação.

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