Mercado da maconha cresce e falta mão-de-obra qualificada nos EUA
Nos EUA, o mercado da maconha legal cresce tão rapidamente que se criou um gargalo de mão-de-obra qualificada. A expectativa é que mais de 400 mil empregos sejam gerados no país. As informações são da Folha de S.Paulo.
Em meio à crescente legalização do cânabis, a indústria da maconha dos Estados Unidos enfrenta gargalos como a carência de mão de obra especializada, serviços bancários e suporte ao consumidor. Hoje, cerca de 30 dos 50 estados permitem o uso medicinal ou recreativo do produto.
O setor movimentou US$ 16 bilhões (R$ 62 bilhões) em 2017. Até 2021, deve saltar para US$ 40 bilhões (R$ 154,8 bilhões), segundo estimativas das consultorias especializadas Arcview e BDS Analytics.
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Há ainda a expectativa de geração de 414 mil empregos no país. Levantamento da empresa de pesquisa New Frontier Data apontou 200 mil empregos neste mercado no primeiro semestre deste ano.
Para a BDS, a legalização no Colorado, pioneiro na liberação do comércio da maconha nos EUA em 2014, pode ter contribuído para reduzir o desemprego no estado, cuja taxa está hoje entre as mais baixas do país.
“As oportunidades criadas pela indústria do cânabis abrangem desde postos no varejo até funções ligadas a ciência, tecnologia e outros”, diz Tom Adams, analista da BDS.
O site Indeed.com, plataforma de seleção de trabalhadores para esse mercado, apresentava 2.669 vagas ligadas nesta sexta-feira (5) —700 postos acima do volume ofertado um mês antes. Grande parte exige experiência.
Ainda se trata de um nicho, que tem o desafio de preencher funções mais básicas como o “budtender” —termo usado no meio para designar o atendente, que seria o equivalente do bartender, mas para a erva. Não é um vendedor qualquer.
No varejo do cânabis medicinal, ele precisa orientar o paciente sobre qual produto melhor se adapta à concentração prescrita pelo médico.
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Considerando que a planta pode ser usada em mais de 20 tipos de tratamento, desde a epilepsia até dores de cabeça, atrair profissionais com conhecimento do assunto seria o ideal.
Para aumentar a complexidade, os remédios podem aparecer na forma de cápsulas, supositórios, pomadas ou vaporizadores.
“A experiência que eu tive antes, trabalhando na Apple, foi o que atraiu a atenção no meu currículo”, diz Yartemy Pinheiro, assistente na farmacêutica Knox, em Orlando.
“Mesmo sendo produtos tão diferentes, existe semelhança no relacionamento com o cliente pela necessidade de explicar um produto tão cheio de detalhes.”
Já no varejo da erva recreativa, o vendedor capacitado é aquele que orienta o cliente sobre cada produto com diferentes graus de THC, substância que provoca a alteração no usuário.
Entre as sugestões estão um maço, um cigarro vendido individualmente, a substância na forma de uma pasta acobreada ou até um doce semelhante a um brigadeiro.
As vagas para budtenders oferecem os salários mais baixos do varejo, medidos em hora, em torno de US$ 15 (R$ 58) por hora.
A remuneração, porém, pode subir conforme a experiência —um gerente de loja chega ganhar mais de US$ 40 mil por ano (R$ 154,8 mil).
Na indústria, a remuneração de um gerente da produção supera US$ 70 mil por ano (R$ 270,9 mil), conforme os anúncios ofertados nos sites.
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A carência por mão de obra qualificada se estende por categorias como químicos e advogados.
Apesar da legalização nos estados, a assessoria jurídica é necessária porque a legislação federal ainda considera a substância ilegal. É aí que surge um outro nó neste mercado bilionário.
No início deste ano, o Departamento de Justiça do governo Donald Trump revogou proteções dadas às leis estaduais no caso da erva. Isso contrariou posicionamento do antecessor Barack Obama.
A entrada dos bancos neste setor está ocorrendo timidamente, em razão do risco de enquadramento no crime de lavagem de dinheiro.
Há outros desafios na regulação. Em Denver, empreendedores lamentam que o modelo adotado recentemente para a localização de estabelecimentos livres para consumo seja muito restritivo.
Na prática, espanta turistas, que, hospedados em quartos de não fumantes de hotéis e proibidos de fumarem nas ruas, ficam impossibilitados de consumir.
Um turista que comprasse um cigarro de maconha em uma loja autorizada em Denver em um domingo e perguntasse onde poderia acendê-lo não teria muitas opções.
Havia três endereços disponíveis: um em uma região industrial distante do centro; o outro estava fechado, por ser domingo; e a última opção cobrava US$ 50 (R$ 193,50), taxa acima da média de US$ 10 (R$ 38,70) dos concorrentes.
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#PraCegoVer: fotografia (de capa) de uma flor de maconha sendo podada por uma pessoa que veste luvas brancas e está atrás da câmera.
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