Marcha da Maconha reúne milhares de manifestantes na orla do Rio
No último sábado (07/05), aconteceu na orla carioca a Marcha da Maconha 2016. Com cerca de 5 mil pessoas, as causas da erva recreacional, medicinal e até mesmo industrial eram defendidas pelos manifestantes. E o Smoke Buddies foi conferir bem de perto como foi toda a movimentação. Veja o que rolou na MM do Rio de Janeiro.
Mais de 5000 militantes se reuniram na tarde deste sábado (07) em Ipanema, zona sul carioca, para a 13ª edição da Marcha da Maconha. Com o tema “A proibição mata todo dia”, em referência às vítimas da guerra às drogas, o ato começou a concentração por volta das 14h, e às 16h20 uma multidão saiu em caminhada pelos 2,6 km da orla na praia de Ipanema até o Arpoador.
Quem chegava na altura do Canal de Alah na tarde de sábado (07), não tão ensolarada como de costume carioca, notava instantaneamente a carreta de som da Claps e o companheiro de causa, Raoni Mouchoque da Rádio Legalize, que recepcionava a galera entre um salve e outros. Ao mesmo tempo, do outro lado da rua também era notável o grande e desnecessário contingente policial ocupando três ônibus e mais alguns policiais montados a cavalo, do 23º BPM (Leblon).
Quem participou da concentração do ato pode notar o nítido interesse de grandes mídias entrevistando alguns ativistas e os advogados André Barros e Emílio Figueiredo. A equipe da Globo acompanhou grande parte da manifestação, nem na frente e nem atrás e sim, no meio de muita marola.
Ainda na concentração e durante algumas manifestações livres no microfone por alguns especialistas e representantes de coletivos, o nome de Rafael Braga foi lembrado junto com um pedido de liberdade feito pelo Coletivo Periferia. O advogado André Barros, que também é vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio, aproveitou para informar e ressaltar que a manifestação é garantida pela Constituição Federal e por duas decisões do Supremo Tribunal Federal, e que a negociação com o coronel do Batalhão da PM do Leblon foi tranquila.
“A polícia hoje tá aqui com uma postura diferente. A polícia está aqui para garantir o nosso direito de manifestação, o nosso direito de realizar a marcha da maconha”. O que realmente foi feito sem maiores problemas.
Apesar de vendida e consumida em toda a cidade, a repressão à maconha tem caráter classista e racista, disse André Barros à agência EBC. “A repressão só acontece onde moram os negros e pobres”, denunciou. “Nossa luta não é só pela legalização, é contra essa guerra”, complementou.
Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania e líder da campanha “Da proibição Nasce o Tráfico“, que defende a legalização de todas as drogas, também marcou presença na Marcha da Maconha distribuindo a cartilha da companha que ilustra cinco motivos para ser contra a proibição.
Na cartilha da campanha, um dos primeiros motivos para ser contra a proibição é que 230 mil pessoas morreram na guerra às drogas entre 2009 e 2013, das quais deste número 1.770 são policiais.
Linha de frente
Como nos anos anteriores a linha de frente da manifestação foi composta por mais de 30 pessoas, entre pais e pacientes, da Associação de Pais de Pessoas com Epilepsia de Difícil Controle – Apeppi, que defende o fim da proibição do uso medicinal da maconha e seus derivados como o canabidiol.
Marcos Fernandes, de 43 anos, pai de uma menina de 8 anos portadora de Síndrome de Rett, que tem como um dos principais sintomas fortes ataques de epilepsia, disse ao G1 que sua filha começou a tomar sem autorização e que só depois eles conseguiram que a ANVISA liberasse o canabidiol.
Marcos, que participou pela terceira vez da marcha da Maconha, alertou que a luta agora é para que o óleo seja produzido no Brasil. A empresária Aline Voigt, que estava acompanhando seu filho de sete anos, portador da Síndrome de Rett, disse em entrevista ao jornal O Globo que só consegue o medicamento importado dos EUA. Um vidro de 60 ml custa 350 dólares e demora cerca de 20 dias para chegar.
— Queremos a produção nacional, pois o preço vai se tornar mais acessível, ou a legalização da plantação, para fazermos extratos caseiros. Isso é coisa séria, questão de saúde. Não pode haver essa burocracia. As autoridades tem que entender que a maconha tem um poder fitoterápico e medicinal altíssimo, e que isso não tem a ver com segurança pública ou tráfico — criticou Aline.
O neurologista pediátrico Dr. Eduardo Favere, que estava ao lado desses pais, diz que a legalização da maconha para o uso medicinal é de alta importância para a sociedade.
— Além de aliviar as dores de pacientes epilépticos, que têm convulsões, a cannabis medicinal pode gerar muitos empregos e rendas. É um atraso do nosso país ainda criar empecilhos para esse fim — afirmou Favere.
Marcha das alas, dos sons e de todas as tribos
Como nas edições anteriores a marcha da maconha contou com a ala feminista, que luta contra o encarceramento de mulheres por causa do tráfico. “Representamos as mulheres presas por causa de drogas, as que sofrem com a perda de seus filhos na guerra ao tráfico e aquelas que passam por violência para comprar a droga em áreas perigosas”, disse Graziela Areas à EBC.
A marcha da maconha contou também com o tradicional Bloco Planta na Mente que anima, canta e encanta quem acompanha as manifestações pró maconha no Rio e da Ala dos Psicodélicos que a cada ano que passa aumenta mais.
A diversidade sonora ficou por conta da Claps que ora ou outra transportava para outro ritmo quem passasse pela carretinha durante a Marcha.
Falando em som, quem marcou presença na Marcha da Maconha foi Leonardo Mota, o MC Leonardo, que fez sucesso no cenário do funk carioca na década de 90. Para ele a proibição da maconha está muito estigmatizada com a violência.
— Esse estigma relacionado ao tráfico de drogas e ao armamento pesado tem que acabar. A maconha é algo que pode ser plantado, não é algo refinado ou produzido pelo homem. Não acredito que a descriminalização irá acabar com o tráfico, até que porque existem outras drogas além dela. Mas defendo o plantio e também a venda regularizada. A proibição afeta o direito de ir e vir das pessoas — argumentou em entrevista ao jornal O Globo.
Contra a proibição e a favor da vida, vimos uma marcha não tão grande como nos anos anteriores, mas foi uma marcha mais mista, com mais mulheres, mais negros, mais pessoas das periferias e defensores das causas LGBT, com gente de mais idade, crianças que acompanhavam seus pais, ativistas e especialistas.
Com ares de festa e celebração a marcha da maconha percorreu a orla de Ipanema até o Arpoador, onde finalizou ao som do baile Claps com direito a show do BNegão.
Veja mais fotos da Marcha da Maconha Rio de Janeiro 2016:
Fotografia artigo e capa: Dave Coutinho | Smoke Buddies
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