MARCHA DA MACONHA NA SOCIEDADE DE CONTROLE

MARCHA DA MACONHA NA SOCIEDADE DE CONTROLE - Smoke Buddies

“A guerra às drogas é uma farsa, pois os ditos traficantes são milionários e bilionários, que transportam toneladas em helicópteros, aviões, caminhões de carga, barcos e navios… Essa guerra às drogas é a justificativa para a realização da guerra aos pobres. Vemos apenas o elitista sistema penal colocar na ponta policiais jovens, negros e pobres trocando tiros com vendedores do comércio varejista de drogas proibidas, esses, também, jovens, negros e pobres.”

A maconha não tem nada a ver com essa sociedade hipócrita, na qual o dinheiro serve como justificativa para tudo, violenta, apressada, individualista, gananciosa e careta. Uma sociedade moralista e intolerante que busca controlar as vidas das classes pobres, declaradas falsamente pela elite como perigosas.

A guerra às drogas é uma farsa, pois os ditos traficantes são milionários e bilionários, que transportam toneladas em helicópteros, aviões, caminhões de carga, barcos e navios. Há bem pouco tempo, a mídia noticiou que meia tonelada de pasta básica de cocaína foi apreendida num helicóptero dentro de uma fazenda, tudo registrado, tanto o móvel quanto o imóvel. Mas o noticiário ficou por aí. Essa guerra às drogas é a justificativa para a realização da guerra aos pobres. Vemos apenas o elitista sistema penal colocar na ponta policiais jovens, negros e pobres trocando tiros com vendedores do comércio varejista de drogas proibidas, esses, também, jovens, negros e pobres. Essas são as vítimas do maior símbolo da sociedade disciplinar, o presídio, e da sociedade de controle, vidas tiradas a bala.

Cerca de dois anos depois da guitarra de Jimi Hendrix entoar o hino americano em Woodstock, a guerra às drogas foi declarada pelo presidente dos Estados Unidos da América, Richard Nixon, do Partido Republicano. Recordamos que o festival de Woodstock reuniu, no estado de Nova York, meio milhão de jovens fumando maconha e fazendo amor livre ao ar livre, realizando o lema “paz e amor”.

Este presidente moralista, que declarou, em 1971, guerra à maconha e às drogas, renunciou à Presidência, em 1974, para não sofrer um impeachment, no maior escândalo de corrupção dos Estados Unidos da América, conhecido como Watergate. Esse exemplo histórico, onde o moralista contra as drogas era na realidade um corrupto, tem um grande significado na luta contra essa hipócrita sociedade de controle.

A Marcha da Maconha nasceu com as novas máquinas de computadores e a difusão da informática, numa etapa da história chamada de sociedade de controle. É um movimento convocado pelas redes sociais. A repressão que sofremos veio de todos os lados, polícia, ministério público, judiciário, de ataques moralistas característicos de toda essa hipocrisia. Queriam impedir que a multidão das marchas da maconha do Brasil exercesse as garantias constitucionais da liberdade de pensamento, expressão e reunião. Agora, prendem nossos ativistas plantadores, porque não conseguem disciplinar essa produção impossível de controlar, que pode ser realizada dentro de um armário, na própria casa. Os plantadores são vítimas dessa sociedade de controle, em regra dedurados por pessoas próximas e vingativas, vizinhos ou familiares moralistas.

Nossa resposta só pode ser coletiva, com milhares de pessoas em cada cidade do país. As Marchas da Maconha são lutas travadas concretamente em cada cidade contra toda essa hipocrisia. A luta contra a caretice é material e ocorre na sua cidade. Em muitos municípios, o controle moralista é tão forte que ninguém sequer se atreve a propor uma reunião da Marcha. Aqui, no Rio de Janeiro, por exemplo, é diferente, pois sempre tivemos territórios de tolerância ao uso da maconha, conquistados ao longo de anos de enfrentamentos. Mas estamos vivendo um verdadeiro retrocesso. Essa intolerância é refletida na prisão de plantadores de maconha desarmados e com pequenas quantidades, além de muitas detenções de usuários na Lapa e mortes nas UPP’s. Tudo isso apoiado pelo falso discurso do combate ao “tráfico”. Nossa resposta a toda essa hipocrisia precisa ser expressada na MARCHA DA MACONHA do dia 9 de maio de 2015, às 4:20 da tarde no Jardim de Alah.

Sobre André Barros

ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
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