Marcelo D2 estreia novo show no Rio: ‘Já tive tanta luta que não dá para amolecer agora’

Fotografia frontal e em primeiro plano de Marcelo D2 com um baseado à boca, em meio a um pouco de fumaça, vestindo uma camiseta branca; e um fundo desfocado.

Em 2018, Marcelo D2 foi eleito o artista do ano na música pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). E marcou o ano com o lançamento de seu décimo álbum de estúdio. Saiba mais na entrevista concedida pelo rapper para O Globo.

Entre uma tuitada polêmica e outra, Marcelo D2 marcou 2018 com o lançamento de seu décimo álbum de estúdio, “Amar é para os fortes”, em que se obrigou a fazer diferente. A começar pela origem: um projeto transmídia em que as músicas servissem como áudio e base do roteiro de um filme homônimo, que marcou a estreia do carioca de 51 anos na direção.

Eleito o artista do ano na música pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), ele prepara agora o próximo capítulo dessa história: o show de estreia no Morro da Urca no domingo (6), em evento que contará ainda com DJs, exposição e diversas exibições do filme estrelado pelo filho de D2, Stephan Peixoto.

Como foi 2018 para você?

Individualmente, foi um bom ano. Escrevi, produzi, dirigi, fiz roteiro, lancei um filme, abri um novo campo de criatividade. Conforme eu envelheço, mais sinto a necessidade de criar. E o Planet Hemp voltou a tocar com vontade mesmo, a ser uma banda, teve esse prêmio… Fora o peso político todo. Nesse sentido, é um ano que não vamos esquecer tão cedo.

Você transformou uma frase que leu, “Amar é para os fortes”, no conceito que gerou um disco e um filme.

São duas histórias que se juntaram. A mãe de uma amiga minha foi assassinada na Gávea, num assalto. Estávamos todos muito chocados, e nesse mesmo dia o cara que atropelou o Rafa, filho da Cissa ( Guimarães) e irmão do João ( Velho, ator ) foi julgado e condenado a serviços comunitários. João escreveu essa frase num texto no Facebook. Na hora em que eu li, o disco entrou em mim. Eu sabia qual era o mote, o que eu tinha que falar. Falo de amor, mas de amor próprio, amor pelo próximo, não aquele de fazer coraçãozinho.

Como fazer o roteiro do filme e o álbum em si fluírem de maneira natural, sem forçar para nenhum dos lados?

Fui fazendo os dois juntos. A ideia era fazer o filme como eu faço um disco, sampleando, usando referências de outras coisas. Tem “Cidade de Deus”, “O poderoso chefão”, “Kids”, Kubrick, campanha da Dolce & Gabbana… Minha maior preocupação era que as obras conseguissem viver isoladas, principalmente o disco longe do filme. Foi o maior desafio da minha carreira, mais até do que o primeiro disco do Planet, quando eu não sabia porra nenhuma de música. Quero continuar estudando para fazer mais trabalhos no audiovisual.

Por que a opção por compor o elenco do filme com seu filho e os amigos, e não com atores profissionais?

Tem duas coisas nessa balança. Pode rolar um certo receio meu de trabalhar com atores, de me sentir um pouco intimidade por dirigir gente mais experiente que eu. Mas o desafio de trabalhar com não atores foi interessante. Eu li uma crítica que dizia que o filme era uma carta de amor ao meu filho e a essas moleques, saca? E eu concordo muito com isso. Eles se sentiam importantes por estarem participando daquilo. E, quando eu tinha 20 e poucos anos, tudo o que eu queria era me sentir importante. “Amar é para os fortes” fala sobre isso, sobre sentir que o mundo é seu também, que você faz parte de alguma coisa.

Sua discografia é marcada pela junção das referências do hip-hop com o samba. É difícil fazer algo novo em cima disso?

Esse é o meu décimo disco. Queria fazer diferente ou não queria fazer. Se fosse há uns três anos, eu não estava mais a fim de fazer disco, queria parar. Mas agora era um filme também, e isso me obrigava a inovar, a criar climas diferentes. Decidi usar mais banda, mais músicos tocando do que samplear. Só tem uma música, a faixa-título, em que uso sample. São tipo 38 músicos tocando no disco ( entre eles nomes como Gilberto Gil, Seu Jorge, Kassin, Rodrigo Amarante e Marcelo Jeneci ), gravei em 12 estúdios. Ao mesmo tempo, tive a sorte, talento ou perseverança de achar uma parada que fosse minha. Quando alguém faz parecido, falam “pô, parece Marcelo D2”. Essa fórmula me levou a 27 países. Não quero fugir disso, mas sempre fazer algo novo. Eu estou muito mais para fazer do que para acontecer. Não tenho saco de ser número 1, quero fazer algo relevante e deixar uma obra maneira. Olhando para trás na minha carreira, já tive tanta luta que não dá para amolecer agora. Tô querendo envelhecer com dignidade.

Como levar todo esse trabalho, que envolveu quase 40 músicos, para um show? Foi por isso que demorou tanto para a estreia?

Não, eu queria deixar a galera ouvir o disco. Estou indo no meu tempo, esse tempo da indústria não me pega mais. Não quero ser o cara que vai brigar por view no YouTube. Queria fazer de um jeito que fosse legal, que fizesse sentido. Show novo, com banda nova e coisa nova. Eu escrevi um outro roteiro, próprio para o show. Para contar a mesma história com uma visão diferente. Percebi que músicas antigas cabem na história do filme, como “1967”, “Mantenha o respeito”, “Desabafo”, “Qual é”… Talvez seja um dos meus shows mais longos, com 20 minutos, 1h30m. Para mim, o show tem que ser o intervalo entre uma mijada e outra. Mija antes e consegue segurar até depois ( risos ).

Como você vê o D2 com 70 anos?

Quero estar fumando maconha, lendo livro e fazendo um show por mês (risos ). Tô brincando. Não sei se vou conseguir parar de criar. Tenho 51 anos e sou muito workaholic. Passei a virada em Los Angeles, e no dia 31 trabalhei com o Mario ( Caldato Jr., que produziu o disco ao lado de Nave e D2 ) até às 20h. Na verdade, sou o Marcelo D2 que vive o Marcelo Peixoto, não vice-versa. Espero estar fazendo coisas relevantes, como fazem Caetano, Gil e Chico com 70 e pouco. Vou morrer jovem, sem ser aquele tiozinho comédia de quem as pessoas riem.

Em 2018 você se tornou especialmente ativo no Twitter, batendo boca frequentemente com eleitores de Bolsonaro. Por que decidiu botar a cara?

Eu não usava o Twitter há uns dois ou três anos. Percebi que o Bolsonaro era ativo para caralho lá, e eu estava com muita coisa engasgada. Pela minha história, por tudo o que eu fiz. Quase abandonei a divulgação do meu disco para fazer isso. Foi interessante para mim, aprendi muito, tomei umas porradas, dei outras. Ativou de novo aquela gana que eu sempre tive de luta, me deixou, de uma certa maneira, jovem. Tem uma galera que precisa de voz, a maioria do país não votou nesse cara, então eles querem alguém que fale. Me senti nessa obrigação.

Leita também:

http://www.smokebuddies.com.br/biografia-de-planet-hemp-narra-tragedias-e-perseguicoes/

#PraCegoVer: fotografia (capa) frontal e em primeiro plano de Marcelo D2 com um baseado à boca, em meio a um pouco de fumaça, vestindo uma camiseta branca; e um fundo desfocado.

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