Maconha pode ser alternativa mais segura para pessoas que usam drogas durante o sexo
Estudo realizado por pesquisadores canadenses sugere que a maconha pode ser uma alternativa mais segura para substâncias tipicamente associadas com o ‘chemsex’, incluindo a metanfetamina. Saiba mais com as informações do Conversation, traduzidas pela Smoke Buddies
Nem todo mundo é fã de rock-and-roll, mas, para muitas pessoas, sexo e drogas fazem uma ótima combinação. Emparelhar os dois pode levar a uma experiência altamente agradável, com efeitos físicos e psicológicos intensificados, incluindo sentimentos aumentados de intimidade, confiança e prazer.
Infelizmente, algumas combinações de sexo e drogas estão associadas a danos significativos. Por exemplo, usado sozinho ou em combinação com outras substâncias, o uso sexualizado de metanfetamina cristal (meth) por gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens em uma prática frequentemente referida como “chemsex” ou “party‘n’play” foi identificado como uma das principais causas da infecção pelo HIV, depressão, ansiedade e suicídio. Para muitos homens de minorias sexuais e de gênero, a participação em chemsex é motivada pelo desejo de maximizar o prazer, diminuir as inibições e reduzir os sentimentos de ansiedade e vergonha.
Infelizmente, não se tem conhecimento até o momento de estratégias eficazes para reduzir os riscos associados ao uso sexualizado de drogas como a metanfetamina. No entanto, em um estudo produzido por pesquisadores do Centro sobre Uso de Substâncias da Colúmbia Britânica (BCCSU), foram encontradas evidências convincentes de que a cannabis pode ter um papel a desempenhar no tratamento desses danos.
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Cannabis e sexo
No estudo, os pesquisadores descobriram que o uso de cannabis durante o sexo funcionou como um recurso estratégico para um grupo de jovens cisgênero e transgênero, gays, bissexual e homens de minorias sexuais entre 15 e 30 anos em Vancouver, no Canadá. Os participantes do estudo relataram que usaram cannabis para atingir certos efeitos físicos e psicológicos, incluindo maximizar o prazer e a sociabilidade com parceiros sexuais e diminuir a ansiedade e inibições.
As descobertas sugerem que a cannabis pode ter o potencial de ser usada como uma alternativa mais segura para substâncias tipicamente associadas com o chemsex, incluindo a metanfetamina cristal.
A pesquisa começou a descobrir alguns dos efeitos benéficos do uso de cannabis. Estudos descobriram que a cannabis é eficaz no tratamento da dor e é útil na redução dos sintomas de ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.
O estudo sugere que alguns desses efeitos também podem ser transportados para ambientes sexualizados: os jovens homens de minorias sexuais e de gênero entrevistados para esta pesquisa relataram usar cannabis para aumentar as sensações físicas prazerosas e diminuir a dor durante o sexo anal receptivo, bem como para diminuir as inibições e gerenciar sentimentos de ansiedade em torno de encontros sexuais.
O estudo descobriu que o uso de cannabis pode permitir que os homens tenham acesso a um senso mais profundo de liberdade sexual e intimidade em um contexto onde o sexo entre pessoas do mesmo sexo é historicamente estigmatizado. Em outras palavras, o uso sexualizado de cannabis pode ajudar os homens de minorias sexuais e de gênero a superar sentimentos de ansiedade e vergonha resultantes da homofobia, bifobia e/ou transfobia internalizada, para que possam desfrutar mais plenamente do sexo que desejam.
Fazer sexo sob efeito de maconha é melhor que transar bêbado
Além dos altos níveis de estresse experimentados por homens de minorias sexuais e de gênero devido às suas identidades, os pesquisadores também descobriram que o uso generalizado de aplicativos de conexão sexual (como Grindr e SCRUFF) contribuiu para aumentar as experiências de ansiedade em torno de encontros sexuais para este grupo.
Especificamente, alguns homens descrevem que se sentem ansiosos com sua aparência física e expressam preocupação sobre encontrar novos parceiros sexuais pela primeira vez. Por exemplo, um participante disse:
“Aplicativos de namoro podem abalar sua autoestima porque todos nós ficamos melhor nas fotos do que na vida real. Portanto, há muita ansiedade que vem com o fato de conhecer a pessoa (na vida real) e, você sabe, as expectativas”.
Para esses homens, o uso de cannabis pode ajudar a aliviar algumas de suas preocupações em relação aos encontros sexuais, reduzindo as inibições e ajudando-os a criar intimidade e conexão.
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O contexto atual da Covid-19
Essa ideia de criar intimidade e conexão pode ser particularmente importante durante a pandemia de Covid-19, em que as diretrizes de distanciamento físico pedem que as pessoas fiquem em casa e evitem passeios desnecessários. Globalmente, as pessoas estão sendo solicitadas a parar de se conectar pessoalmente.
Este período sem precedentes fez com que muitos se sentissem solitários e isolados. A cannabis pode ser útil nestes tempos para ajudar a cultivar sentimentos de intimidade e conexão em ambientes virtuais e, assim, facilitar conexões on-line.
Por exemplo, a cannabis pode funcionar como uma espécie de lubrificante social e quebrar as fronteiras socialmente condicionadas, permitindo desinibições e, ao mesmo tempo, permitindo que as pessoas permaneçam seguras e sigam as diretrizes de saúde pública. Ou seja, a cannabis pode ajudar a facilitar experiências sexuais on-line satisfatórias sem o risco adicional de uma conexão física.
Dado que os contextos, padrões e motivações para o uso de cannabis para sexo se alinham intimamente com aqueles tipicamente associados ao chemsex, os pesquisadores continuarão observando como a cannabis pode ser capaz de reduzir ou substituir drogas mais nocivas usadas com sexo. Estudos recentes no Canadá e em outros lugares mostraram que o uso de cannabis pode ser útil para diminuir e/ou substituir outras drogas potencialmente mais prejudiciais.
O trabalho dos pesquisadores canadenses se baseia nisso, sugerindo que a cannabis também pode ser usada como uma medida de redução de danos em contextos sexuais. Seja por causa de uma pandemia ou devido a danos associados ao chemsex, a necessidade de manter seguros homens das minorias sexuais e de gênero continua vital.
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#PraCegoVer: em destaque, fotografia em close-up, na diagonal, do topo de uma flor de maconha com pistilos alaranjados e cálices repletos de tricomas, e um fundo em tons de amarelo. Foto: Needpix.
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