Maconha ou “Maconha Sintética”? O que o erro da Quatro Rodas tem a nos ensinar

A Smoke Buddies tem um recado à imprensa brasileira: se atentem aos seus títulos. Em um ótimo exemplo, a revista Quatro Rodas fala de maconha sintética como se fosse a natural. Errou feio! Entenda mais no texto abaixo.

Um dos grandes desafios do jornalismo é decidir qual título terá o texto. Na era da internet, com seus mecanismos de buscas e técnicas que ajudam a colocar o artigo nos primeiros lugares dos sites de pesquisas, essa missão ganha um peso ainda maior. O que não significa, por exemplo, fazer um título que não condiz com o que o fato em si diz.

Foi o que fez a redação da revista Quatro Rodas, especializada no mundo dos automotores, ao informar uma situação que envolve o uso de drogas numa fábrica da BMW em Munique, na Alemanha. A publicação “Operários da BMW fumam maconha e causam prejuízo milionário”, realizada nesta quarta-feira (22) às 9:35 no site da revista movimentou a redação da Smoke Buddies e alguns ativistas, mas não pela defesa do uso da cannabis em horário de trabalho (o que não é muito recomendado em uma fábrica), mas sim pelo conteúdo publicado e o mal uso do termo “maconha” no título do artigo da Quatro Rodas. A matéria, na realidade, tratava  da famosa maconha sintética e não a nossa tão querida erva naturalíssima.

Antes de tudo, alertamos que tal substância que é comumente chamada de maconha sintética NÃO é a mesma coisa que cannabis, maconha, ganja e suas milhares formas de se chamar. Se você quiser entender a diferença, os riscos e problemas causados por essa droga sintética, que também é conhecida por Spice e K2, clique aqui e entenda porque arriscar a vida não vale a brisa.

Normalizar para não Banalizar

Voltando a publicação da Quatro Rodas, que cita como fonte o diário alemão Bild, é notável que o título do artigo do diário informa “Mega-Schaden bei BMW nach Drogen-Party”, que sem precisar ser expert no alemão e usando Google Translate traduz ao pé da letra como ” Mega danos na BMW após festa com drogas”.

Comparação dos três títulos, o primeiro da Quatro Rodas, seguidos da Bild -fonte dos artigos e da DW.

O título do Bild realmente condiz com o assunto já que o mesmo informa que dois funcionários aproveitaram uma pausa na linha de montagem para fumarem uma mistura de ervas sintéticas ou em alemão Kräutermischung synthetischen. Além disso, um dos funcionários tinham ingerido bastante álcool, enquanto o outro teria tomado anfetaminas. Ambos acabaram desmaiando, e tiveram de ser atendidos pelo serviço médico, o que obrigou a linha de montagem de Munique paralisar as operações por 40 minutos.

Levando em consideração que a maconha natural (cannabis) é 114 vezes mais segura que o álcool e certamente ainda mais segura que anfetaminas, a palavra maconha era a única droga que não deveria textualizar o titulo do artigo de um portal brasileiro.

O que a Quatro Rodas fez foi banalizar o assunto ao usar apenas maconha, no título ao tempo que o real problema foi o consumo de drogas como o álcool. Por curiosidade o portal DW, que também utilizou a mesma fonte, trouxe de título “Trabalhadores bêbados da BMW interrompem produção de automóveis” e dentro do artigo faz menção ao mix de ervas como maconha sintética.

O que queremos com este post é alertar a mídia tradicional, principalmente aos que não são especializados em maconha, que de pré-conceitos, tabus e falácias o proibicionismo que alimenta uma guerra falha e falida contra às drogas já está cheio. Então reflitam antes de banalizar.

Consumir maconha, de preferência fora do horário de trabalho, não causa prejuízo de milhões de euros, vide grandes empresários que fumam ou são defensores da causa. Richard Branson, fundador da Virgin, ou até mesmo Michael Bloomberg, isso mesmo o CEO fundador e dono da empresa midiática Bloomberg , entre outros mega-empresários que já foram divulgados pela revista Forbes.

Logo, a maconha natural do pé tem que perder o posto de “Bruxa Má”: quando utilizada de forma correta como qualquer outro produto só proporciona benefícios. Já passamos da década de 30 dos tempos do Reefer Madness. 

Normalizar o assunto, de forma correta e sem entre linhas, evita que a lei injusta e racista criminalize a parcela pobre e negra da população que consome maconha. Trazer a tona o debate de forma natural, baseado em estudos e pesquisas, mas sem achismos, crenças e misticismos ajuda a corrigir um erro de décadas ao informarem e por fim formarem péssimas opiniões acerca da cannabis.

Entretanto, o mais importante em normalizar com todos esses requisitos é impedir que a população seja enganada ao ler que a substância que recebe o nome de K2, Spice e até ‘incenso’ para burlar a proibição em algumas parte do mundo, seja maconha – o que não é.

K2 para o mundo, K9 no Brasil

Com aparência e efeitos semelhantes aos da erva natural, porém causando convulsões e danos irreparáveis ao cérebro, a maconha sintética é uma droga de alto risco podendo leva a morte. Segundo Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra e pesquisador da Unifesp, “a  cada 8 usuários de maconha sintética, 1 vai buscar ajuda médica de urgência”, e complementa: “Isso é um dado impactante que nunca acontece com a maconha natural”.

Leia também: Estudo detecta uso de maconha sintética no Brasil

Por isso reforçamos o frequente alerta para que o consumidor que realmente busca a erva natural, não utilize esse substância que muitas das vezes são chamadas de K2, Spice, High Legal, Black Mamba, Cannabis Blends.

Disfarçada de ‘maconha sintética’, que na sua essência é uma mistura de produtos químicos industriais com moléculas sintéticas de THC pulverizado sobre qualquer erva seca como capim, a substância começa a ganhar espaço no tráfico de drogas sendo comercializada como K9 e até mesmo como se fosse a versão hidropônica da erva natural.

Sendo comercializada pelo tráfico a um custo menor que a maconha natural, a “maconha sintética” tem que ser considerado um risco eminente à saúde dos usuários. Regulamentar a planta natural é mais um passo importante para reduzir os danos que essa e outras drogas possam causar.

Veja algumas fotos que mostram que o consumo de K2, Spice e até K9, como alguns já apelidam aqui no Brasil começa a se espalhar, inclusive sendo comercializado pelo tráfico:

Com isso aprendemos que o assunto é recorrente e sério, por isso voltaremos a falar sobre em breve. E às mídias tradicionais  ressaltamos o pedido, cuidem dos seus títulos e alertem aos seus editorias que, para prender atenção de um leitor, basta um bom e verdadeiro conteúdo. Continuem falando MACONHA, mas quando realmente for maconha.

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Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
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