Maconha ou álcool: o que é pior para a sua saúde?

Estudos científicos sobre o uso do álcool são realizados há décadas e seus resultados mostram claramente como a droga absolutamente causa mais malefícios do que benefícios à saúde. Em razão da proibição, as pesquisas com a maconha não são tão numerosas, porém deixam evidente que a planta e seus derivados trazem inúmeros benefícios e muito poucos malefícios à saúde de quem usa. Saiba mais sobre o tema no artigo de Matheus Gonçalves* para a Climatologia Geográfica.

É uma pergunta difícil, mas com base na ciência, parece existir uma resposta, é claro.

Tenha em mente que existem dezenas de fatores a serem considerados, inclusive como as substâncias afetam o coração, o cérebro e o comportamento, além da probabilidade de você se viciar.

O tempo também é importante – enquanto alguns efeitos são visíveis imediatamente, outros só começam a serem notados após meses ou anos de uso.

A comparação é ligeiramente injusta por outro motivo: enquanto os cientistas têm pesquisado os efeitos do álcool durante décadas, a ciência em torno da maconha é muito mais fraca devido ao seu status de ilegalidade na maior parte do mundo. Mas vamos aos fatos.

1. 30.722 estadunidenses morreram de causas induzidas pelo álcool em 2014. Houveram 0 óbitos documentados por consumo de maconha sozinha.

Apesar do alto número, o cálculo não conta com acidentes ou homicídios relacionados com o consumo de álcool. Se essas mortes fossem incluídas, o número seria próximo de 90.000.

Enquanto isso, não foram relatadas mortes por sobredosagem de maconha, de acordo com a US Drug Enforcement Agency (DEA).

Um estudo que durou 16 anos e envolveu mais de 65.000 estadunidenses,publicado no American Journal of Public Health, descobriu que os usuários saudáveis de maconha não eram mais suscetíveis a morrer de forma mais precoce que os homens e mulheres saudáveis que não usavam maconha.

2. A maconha parece ser significativamente menos viciante do que o álcool

Estima-se que cerca de metade de todos os adultos usaram maconha pelo menos uma vez, tornando-a uma das drogas ilegais mais amplamente utilizadas. No entanto, pesquisas sugerem que uma percentagem relativamente pequena de pessoas se torna viciada.

Para uma pesquisa de 1994, epidemiologistas pesquisaram mais de 8.000 pessoas entre 15 e 64 anos que usavam drogas.

Daqueles que utilizaram maconha pelo menos uma vez, cerca de 9% eventualmente se encaixou em um diagnóstico de dependência. Para o álcool, o valor era de aproximadamente 15%. Para colocar isso em perspectiva, a taxa de dependência da cocaína foi de 17%, enquanto a da heroína era de 23% e da nicotina era de 32%.

3. A maconha pode ser mais prejudicial ao coração, enquanto beber moderadamente pode ser benéfico

Ao contrário do álcool, que diminui o ritmo cardíaco, a maconha acelera, o que pode ter efeitos negativos a curto prazo sobre o coração.

Ainda assim, o maior relatório de cannabis da Academia Nacional de Ciências dos EUA, que foi lançado em janeiro do ano passado, não encontrou evidências suficientes para apoiar ou refutar a ideia de que a maconha pode aumentar o risco de ataque cardíaco.

Por outro lado, beber pouco – cerca de um copo por dia – foi associado a um menor risco de ataque cardíaco e AVC quando comparado com a abstenção completa.

Ainda assim, James Nicholls, diretor da Alcohol Research UK, disse que essas descobertas deveriam ser consideradas com cuidado, já que “quaisquer efeitos protetores tendem a ser cancelados até mesmo por situações que envolvam beber mais”.

4. O álcool está fortemente ligado a vários tipos de câncer; a maconha não.

Em novembro, um grupo de médicos que trabalham com pacientes com câncer nos EUA emitiu uma declaração pedindo que as pessoas bebessem menos. Eles citam fortes evidências de que beber álcool – tão pouco quanto uma taça de vinho ou um copo de cerveja por dia – aumenta o risco de desenvolver câncer de mama pré e pós-menopausa.

O Departamento de Saúde dos EUA lista o álcool como um cancerígeno humano conhecido. Pesquisas destacadas pelo Instituto Nacional do Câncer dos EUA sugerem que quanto mais álcool você bebe – especialmente quando você bebe regularmente – maior o risco de desenvolver câncer.

O relatório de janeiro passado descobriu que a maconha não está conectada a nenhum risco aumentado de câncer de pulmão ou câncer de cabeça e pescoço que são ligados ao tabagismo.

5. Ambas as substâncias podem estar associados a riscos durante a direção, mas o álcool é pior

Uma nota de pesquisa publicada pela National Highway Traffic Safety Administration dos EUA concluiu que ter uma quantidade detectável de THC (o principal ingrediente psicoativo da maconha) em seu sangue não aumentou o risco de acidentes de carro.

Ter um nível de álcool no sangue de 0,05% ou mais aumentou as chances de estar em um acidente em 575%.

Ainda assim, combinar ambos parece ter os piores resultados.

“O risco de conduzir sob a influência do álcool e da maconha é maior do que o risco de conduzir sob a influência de um deles sozinho”, escreveram os autores de uma revisão de 2009 no American Journal of Addiction.

6. Vários estudos ligam álcool com a violência. Isso não foi encontrado para a maconha

É impossível dizer se beber álcool ou usar maconha causa violência, mas vários estudos sugerem uma ligação entre álcool e comportamento violento.

De acordo com o Conselho Nacional sobre Alcoolismo e Dependência de Drogas dos EUA, o álcool é um fator presente em 40% de todos os crimes violentos no país.

Por outro lado, não parece existir tal relação para a cannabis.

Um estudo recente analisou a relação entre o uso de cannabis e a violência de casais na primeira década do casamento e descobriu que os usuários de maconha eram significativamente menos propensos a serem violentos contra o parceiro do que aqueles que não usavam a droga.

7. Ambas as drogas afetam negativamente a memória, mas de maneiras diferentes

Esses efeitos são os mais comuns em usuários freqüentes ou compulsivos.

Tanto a maconha quanto o álcool prejudicam temporariamente a memória enquanto estão sendo usados e o álcool pode causar “apagões” ao tornar o cérebro incapaz de retomar memórias.

Em termos de seus efeitos a longo prazo, os impactos mais graves são vistos em usuários crônicos ou compulsivos que começam a usar em sua adolescência.

Para a maconha, estudos mostram que esses efeitos podem persistir por várias semanas depois de interromper o uso da maconha. Também pode haver uma ligação entre o uso diário de maconha e a memória verbal mais pobre em adultos que começaram a fumar jovens.

Os usuários crônicos de álcool exibem reduções na memória, atenção e planejamento, bem como prejuízos nos processos emocionais e de cognição social – e estes podem persistir mesmo após anos de abstinência.

8. Ambos estão ligados a um risco aumentado de doença psiquiátrica

Para usuários de maconha, psicose e esquizofrenia são a principal preocupação; com álcool é a depressão e a ansiedade.

A maior revisão existente dos estudos de maconha encontrou evidências substanciais de um risco aumentado no desenvolvimento de esquizofrenia entre os usuários frequentes de maconha – o que é uma preocupação particular para pessoas com risco de ter a doença.

A maconha também pode desencadear sentimentos temporários de paranoia, mas ainda não é claro se esse sintoma está ligados a um risco aumentado de psicose a longo prazo.

Por outro lado, a automutilação e o suicídio são muito mais comuns entre as pessoas que bebem com freqüência.

Os cientistas tiveram dificuldades para decifrar se o uso excessivo de álcool causa depressão e ansiedade ou se as pessoas com depressão e ansiedade bebem na tentativa de aliviar esses sintomas.

9. O álcool parece estar mais ligado ao ganho de peso do que a maconha, apesar da tendência de sentir fome após usar maconha

A maconha faz com que você sinta fome, reduz os sinais naturais que lhe dizem que você está cheio e pode até fazer com que o gosto da comida seja melhor.

Mas, apesar de comer mais de 600 calorias extras ao fumar, os usuários de maconha no geral não possuem IMCs mais elevados. Na verdade, estudos sugerem que os fumantes regulares estão com um risco ligeiramente reduzido de obesidade.

O álcool, por outro lado, parece estar ligado ao ganho de peso. Um estudo publicado no American Journal of Preventative Medicine descobriu que as pessoas que bebem muito apresentam maior risco de ficar acima do peso ou obesas.

Além disso, o próprio álcool é calórico: uma lata de cerveja tem aproximadamente 150 calorias; um copo de vinho tem cerca de 120.

10. Após todas as considerações, os efeitos do álcool parecem mais extremos – e arriscados – do que os da maconha

Quando se trata de seu perfil de dependência e seu risco de morte ou overdose, assim como seus vínculos com câncer, acidentes de carro, violência e obesidade, a pesquisa sugere que a maconha pode ter menos um risco menor para a saúde do que o álcool.

Ainda assim, por causa do status em grande parte ilegal da maconha, estudos de longo prazo sobre todos os seus efeitos na saúde têm sido limitados – o que significa que mais pesquisas são necessárias.

*Matheus Gonçalves: porto-alegrense de 21 anos e estudante de Administração na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde também cursou alguns semestres de Engenharia de Energia. Profundamente interessado por ciência, filosofia e literatura, produz conteúdo para a Climatologia Geográfica desde abril de 2013.

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