Maconha movimenta o mercado americano ao impulsionar indústria

Em um mercado onde a maconha é legal, diariamente aparecem novas marcas, produtos e nichos para atender a crescente demanda verde. Não foi diferente nos EUA, que já registra mudanças nas leis de 28 de seus Estados. Conheça essa nova onda que veio para ficar, nas informações da revista Vogue.

No primeiro dia de 2017, quem acordou cedo em Los Angeles e olhou para o Mount Lee teve de focar melhor para acreditar no que estava vendo: no lugar do famoso letreiro escrito Hollywood, lia-se Hollyweed, numa referência à maconha. Nas redes sociais, todo tipo de meme surgiu em torno da “obra” feita por um artista local – inspirado, vale lembrar, por uma ação idêntica de 1976, ano em que a posse de até 28 gramas da droga deixou de ser crime na Califórnia.

A intervenção aconteceu menos de dois meses depois da votação que liberou o uso recreativo da erva nesse Estado americano para maiores de 21 anos (o uso medicinal já era permitido) e em Massachusetts, no Maine e em Nevada, acendendo – desculpem o trocadilho – ainda mais a chama de jovens investidores e grandes empresas de olho nesse mercado nos Estados Unidos.

Agora legalizada para pelo menos um desses dois tipos de uso em 28 Estados americanos, a maconha movimentou US$ 6,7 bilhões no país no ano passado. Os empreendedores dessa indústria em rápida expansão já ganharam até nome próprio por lá: são os ganjapreneurs (fusão de ganja, uma das muitas alcunhas da planta mundo afora, e entrepreneur).

Segundo o instituto de pesquisa Arcview Market, especializado nesse nicho, o mercado legalizado da maconha deve ultrapassar a cifra dos US$ 20,2 bilhões no mundo todo até 2021. “Nunca vi nada parecido na minha vida”, disse sobre o atual boom de negócios Al Foreman, presidente do fundo Tuatara, que vai levantar US$ 80 milhões para investir nessa área, quando fizemos no ano passado um especial sobre o assunto no MundoS/A, programa sobre inovação e empreendedorismo que apresento na GloboNews.

Esse potencial está começando a ser explorado por nichos poderosos, como o de cosméticos, já responsável por 26% do faturamento de todos os produtos feitos com cannabis nos Estados Unidos.

A inglesa The Body Shop foi a primeira gigante da beleza a entrar na área. Quando a linha Hemp foi lançada, em 1998, manifestantes enfurecidos e chocados com a ousadia da empresa fizeram protestos em frente às suas lojas no Reino Unido. Hoje, o hidratante para as mãos – um dos oito produtos com o ingrediente – é um dos best-sellers da marca. “A cannabis é rica em Ômega-3, 6 e 9, o que garante uma hidratação profunda”, me explicou Jeremy Schwartz, CEO global da The Body Shop.

Leia mais: Estas roupas permitem fumar maconha de uma maneira mais discreta

No Brasil, a rede não vende a linha Hemp, já que as leis nacionais criminalizam a produção, o comércio, o consumo e o uso da maconha em produtos, salvo em casos específicos para tratamentos médicos – no mês passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu pela primeira vez o registro a um medicamento à base de cannabis no País, para o tratamento da espasticidade relacionada à esclerose múltipla.

Nos EUA, até a atriz Whoopi Goldberg resolveu investir nessa indústria, com a recém-lançada Whoopi & Maya, especializada em artigos medicinais que utilizam a maconha em sua fórmula.

A marca aposta no efeito analgésico da planta para aliviar desconfortos do ciclo menstrual – a cliente pode escolher entre um banho de infusãoc om sais, uma esfoliação poderosa no abdômen ou uma boa colherada de manteiga de cacau que garante curar qualquer TPM. “Estamos muito entusiasmadas com a abertura desse mercado. A cannabis pode ser altamente estigmatizada, mas sentimos que isso já está mudando por aqui”, diz Maya Elisabeth, sócia de Whoopi na empreitada.

Já a recente liberação do uso recreativo da maconha – hoje uma realidade em oito Estados americanos – abriu espaço para empresas irem além, criando todo um universo em torno da erva. Os vaporizadores, por exemplo, gadgets feitos para fumá-la sem precisar enrolar um cigarro (inala-se apenas o THC, princípio ativo da cannabis, evitando substâncias tóxicas), já são o carro-chefe desse segmento.

O vaporizador digital da marca Volcano, uma das mais famosas do segmento (Foto: Divulgação)

As cifras são tão altas, e o potencial de crescimento tamanho (30% só em 2016) que até o mercado de luxo já está atento ao produto. Ainda no início deste ano, a marca Beboe será lançada, vendendo artigos como pastilhas de cannabis e vaporizadores com a erva, sempre com baixo teor de THC – mesmo para os não fumantes, a latinha usada como embalagem deve virar desejo.

O empreendimento tem por trás Clement Kwan, ex-presidente do braço americano do Yoox Net-a-Porter, um dos principais grupos de venda de produtos de luxo on-line do mundo. Na Califórnia, versões prime de cannabis podem custar até US$ 700 o pacote com 28 gramas – e degustados em jantares do Beverly Hills Cannabis Club, circuito de eventos privé capitaneado pela megaempresária Cheryl Shuman, considerada a “rainha da cannabis” por consumidores high-end.

Casaco com estampa de maconha de Alexander Wang, inverno 2017 (Foto: Getty Images)

E a moda, claro, também está tirando sua casquinha. O estilista Alexander Wang encerrou o desfile do inverno 2016/17 de sua marca com looks decorados com a folha da erva, enquanto a Vetements criou um pingente que é um triturador de fumo. Lançada logo após a aprovação do uso recreativo na Califórnia, a peça, vendida a US$ 750, já está sold out no site da multimarcas americana The Webster. Maconha, afinal, é o assunto do momento por lá.

RAIO X
Em 2016, a indústria da maconha legalizada movimentou US$ 6,7 bilhões nos Estados Unidos. A indústria dos vaporizadores eletrônicos cresceu 30% no ano passado. O segmento da beleza é responsável por 26% do faturamento desse mercado. Em 2021, o setor deve movimentar US$ 20,2 bilhões globalmente.

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