Psicoacústica: maconha fez parte da criação do emblemático disco do Ira!

Desenho de uma folha de maconha envolta em símbolos de notas musicais de uma partitura em forma circular.

Um dos álbuns mais ousados do rock nacional teve a participação de um elemento que também fez sucesso no litoral fluminense: a maconha da lata. Saiba mais sobre a gravação do disco Psicoacústica com as informações d’O Globo.

O diretor Rogério Sganzerla e seu “Bandido da Luz Vermelha”, a maconha das latas que foram dar na costa fluminense no verão de 1987 e uma banda inquieta, a bordo de um rock brasileiro à deriva: componentes mais e menos importantes para a criação de “Psicoacústica”, cultuado disco da música brasileira que completa 30 anos em 2018.

Potente, denso, fragmentado, difícil, mas principalmente visionário, o terceiro álbum do grupo paulistano Ira! é tema neste sábado, às 19h, da palestra de Vital Cavalcante (vocalista do Jason e Poindexter, além de professor da rede pública) no projeto Rock on The Roof no terraço do Imperator. No próximo sábado (10/11), é a vez de o próprio Ira! fazer o show do “Psicoacústica” no Circo Voador, ao lado dos contemporâneos do Defalla (cujo tresloucado disco de 1987 também será dissecado hoje por Vital).

Banda que vinha de um segundo álbum para lá de bem-sucedido (“Vivendo e não aprendendo”, de 1986, dos hits “Envelheço na cidade”, “Dias de luta” e “Flores em você”, que foi tema de abertura da novela “O outro”), o Ira! entrou em 1987 no estúdio Nas Nuvens, no Rio, com apoio irrestrito da gravadora Warner: conseguira o direito de dispensar os produtores estrelados do mercado e dirigir a si mesmo na gravação, junto com o técnico de som português Paulo Junqueiro (então um novato em estúdios brasileiros, hoje presidente da Sony Music Brasil).

— A gente queria quebrar expectativas, as nossas e as da gravadora, mas não tinha o objetivo de fazer o disco que foi feito. Tudo aconteceu ao longo do processo, e quando a gente viu, lá estava o Frankenstein e a gente gritando “It’s alive!” ( “Está vivo!” ) — brinca o vocalista Nasi, que toca o Ira! nos dias de hoje com seu grande parceiro, o guitarrista Edgard Scandurra. — “Psicoacústica” foi o nosso erro mais acertado.

Com a experiência de terem produzido algumas das primeiras faixas do rap brasileiro, do rapper Thaíde, Nasi e o baterista André Jung trouxeram para o Ira! de “Psicoacústica” a novidade do sampler — em faixas como “Rubro zorro”, colaram falas do filme “O Bandido da Luz Vermelha”. Nasi chegou a conversar com Rogério Sganzerla para que ele fizesse um clipe do “Zorro”, com cenas do filme. Apesar de a gravadora ter vetado a ideia, o diretor montou o vídeo, que anos depois apareceu no YouTube.

A influência do hip hop aparece ainda em “Advogado do diabo”, de Nasi e André: um rap com pandeiro de maracatu, que se tornaria uma das músicas favoritas de Chico Science, artífice do mangue bit nos anos 1990. Por outro lado, Edgard Scandurra e o baixista Ricardo Gaspa puxavam o disco para o rock com inclinações psicodélicas e pesadas, de Jimi Hendrix. A tendência foi exacerbada pelos dois em “Farto do rock’n’roll” — um rock-rap, que ainda tem scratches de Nasi.

— Eu me sentia injustiçado por causa do rap, que deixava a guitarra meio de lado. Essa nossa música era um desabafo, falando de “novos sons, novas batidas, novas pulsações”. E o engraçado é que depois eu fui fazer música eletrônica — conta Scandurra, saudoso das gravações de “Psicoacústica”, nas quais fez várias experiências com guitarras ao sabor da maconha do verão da lata. — Isso acabou fazendo parte do folclore do disco, mas era um uso recreativo, para relaxar, não foi decisivo para a criação.

Nasi, Edgard Scandurra, André Jung e Ricardo Gaspa posando para foto de divulgação do álbum Psicoacústica, em 1988.

#PraCegoVer: fotografia de Nasi, Edgard Scandurra, André Jung e Ricardo Gaspa posando com óculos 3D para foto de divulgação do álbum Psicoacústica, em 1988.

A gravadora reagiu com pânico quando o Ira! apresentou a ela o “Psicoacústica” — ainda mais porque os músicos insistiram em um LP de capa dupla, com efeito 3D que só poderia ser apreciado com o óculos especial encartado. O disco vendeu pouco à época, mas arrebanhou algumas almas, como a de Vital Cavalcante, então com 15 anos:

— O “Psicoacústica” é um disco que não tem ranço de anos 1980. Dava para ver que o Ira! estava na vanguarda do rock nacional.

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#PraCegoVer: ilustração (de capa) do desenho de uma folha de maconha envolta em símbolos de notas musicais de uma partitura em forma circular.

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