Maconha é a substância ilícita mais consumida no mundo, aponta ONU
Relatório Mundial Sobre Drogas da Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que o cultivo de cannabis ao ar livre ultrapassa o de recintos fechados. São quase 200 milhões de consumidores de maconha
A cannabis foi a substância ilícita mais usada em todo o mundo em 2017, com cerca de 188 milhões de consumidores naquele ano, de acordo com o novo relatório da ONU. Lançado no Dia Mundial contra Abuso de Drogas (26), o World Drug Report, mais novo relatório anual do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), traz um panorama geral sobre a demanda e oferta de maconha, além de outras substâncias ilegais, como opioides.
Os dados também destacam os desafios e as oportunidades que os governos e empresas enfrentam para oferecer acesso seguro à cannabis medicinal através de canais regulamentados.
O UNODC estima que aproximadamente 3,8% da população global entre 15 e 64 anos de idade consumiu maconha pelo menos uma vez naquele ano, elevando o número total de usuários anuais de cannabis em 30% nas duas últimas décadas.
O uso de maconha está aumentando na América do Norte, mas segue estável e ou em queda em outros lugares.
Nas Américas, o consumo de maconha no ano passado aumentou em 7% na população de 15 a 64 anos (42 milhões de pessoas) em 2007 para 8,4% (57 milhões) em 2017.
A prevalência anual de uso de maconha na Oceania caiu drasticamente, de quase 18% da população com 14 anos ou mais em 1998 para cerca de 10% duas décadas depois.
O uso é muito menor na Europa Ocidental e Central, de acordo com o UNODC, com 6% a 7% da população de 15 a 64 anos usaram cannabis no ano passado.
A Ásia foi a mais baixa, aproximadamente, a uma taxa de prevalência anual de 2% (54 milhões de pessoas).
Afinal, aumentou ou não o consumo de maconha?
Para o pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), Renato Filev em artigo para o Jornal O Globo, o aumento de 30% no número de usuários de drogas nos últimos dez anos acompanha, além do próprio aumento populacional, uma série de outras transformações.
- De dez anos para cá, mais países passaram a liberar substâncias e mais pessoas passaram, também, a se assumirem usuários com menos medo de serem estigmatizados por isso – avalia Filev, biomédico e doutor em Neurociência. – O crescimento ainda acompanha o aumento dos registros de consumo por países que, antes, podiam subnotificar isso, por falta de pesquisas, por exemplo.
Outras descobertas:
- No Canadá, o uso de maconha no ano passado em 2017 foi de 15% da população com 15 anos ou mais; 37% desse grupo usou maconha para fins médicos;
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Quase um quarto de todos os usuários de cannabis no ano passado eram diários ou quase diários, de acordo com os dados;
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Desde 2013, o consumo de maconha no Canadá diminuiu entre aqueles com 19 anos ou menos;
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Nos Estados Unidos, o relatório diz que o uso anual de cannabis aumentou de 9,9% da população adulta em 2007 para 15,3% uma década depois.
Como relatado em pesquisa da Fiocruz
Os dados referentes ao Brasil no relatório coincidem com aqueles registrados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira (Lenud), pesquisa que foi engavetada pelo governo e na qual o ministro da Cidadania, Osmar Terra, diz que “não confia”.
Com relação ao uso de opioides, por exemplo, a ONU especifica que o dado referente ao Brasil é relativo à substância na forma de heroína. Segundo o relatório mundial de drogas, 0,1% da população brasileira usou a droga no ano anterior. Esta estatística também consta da pesquisa da Fiocruz.
O mesmo se dá com relação à maconha. Segundo a ONU, 2,5% da população brasileira fez uso de cannabis no ano anterior. O percentual é idêntico ao apresentado no levantamento da Fiocruz que acabou engavetado pelo governo brasileiro.
Estima-se que, ao redor do mundo, 271 milhões de pessoas usaram drogas no ano anterior, segundo relatório de 2017. É o equivalente a 5,5% da população mundial entre 15 e 64 anos. Segundo a ONU, isso se explica tanto pelo crescimento de 10% da população mundial na faixa etária entre 15 e 64 anos, quanto pelo crescente uso de opioides na África, na Europa e na América do Norte, em comparação com 2009.
Fontes: MJBiz / O Globo / 5º Livro do Word Drug Report 2019 – Cannabis and Hallucinogens
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