Lutador canadense de MMA luta pela reforma das políticas de cannabis nos esportes profissionais

Fotografia do lutador Elias Theodorou em primeiro plano, onde o lutador aparece com o punho próximo ao rosto, mostrando uma luva de boxe com o tema da bandeira do Canadá personalizada com a folha da maconha, e usando uma camiseta preta que tem o desenho de uma folha de cannabis e a palavra "cafe" bordados em branco no peito, à frente de um ringue. Imagem: CAFE.

Elias Theodorou é o primeiro atleta profissional norte-americano conhecido publicamente a receber uma isenção de uso terapêutico para cannabis medicinal. Segundo o lutador, que foi diagnosticado com neuropatia bilateral e usa cannabis para mitigar a dor, o UFC negou a isenção durante sua época com a organização. As informações são da CBS News, traduzidas pela Smoke Buddies

Quando o lutador de MMA Elias Theodorou entrou na gaiola no sábado, ele não estava olhando apenas para lutar contra seu oponente, Bryan Baker — ele também estava lutando pelos direitos da cannabis medicinal.

Embora essa luta marque a segunda luta profissional de Theodorou com uma isenção de uso terapêutico para a cannabis medicinal, foi sua primeira luta desde que obteve uma isenção de uma comissão atlética estadual dentro dos Estados Unidos.

A luta, hospedada e promovida pelo Colorado Combat Club, vem depois que Theodorou — cujo recorde profissional é de 18 vitórias e 3 derrotas — recebeu a isenção da Comissão de Esportes Combativos do Colorado em maio.

Como as regras da cannabis variam por estado e por diferentes organizações que regem os esportes — como as comissões atléticas estaduais, o UFC e a Agência Antidoping dos EUA (USADA) —, os atletas que buscam uma isenção médica para ela enfrentam muitos desafios.

Theodorou foi diagnosticado com neuropatia bilateral, resultado de uma lesão nos nervos localizados fora do cérebro e da medula espinhal. Ele usa cannabis para mitigar a “dor e desconforto” que sente regularmente. Mas ele diz que o UFC negou a isenção durante sua época como lutador com eles.

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“Eles continuaram me dizendo para tomar mais drogas prescritas, quando meu médico e eu sabíamos que a cannabis era certa para mim”, disse Theodorou, um peso médio que está invicto em duas lutas desde que deixou o UFC em 2019. “Eles estavam me dizendo para tomar antidepressivos e opioides, ao mesmo tempo em que, irônica ou tristemente, fazem uma campanha sobre a crise dos opioides”.

Em janeiro, o UFC anunciou que estava mudando sua política para permitir maconha para atletas em competição, a menos que houvesse evidências de que eles o faziam “para propósitos de melhoria de desempenho”. O CEO da USADA, Travis T. Tygart, disse em um comunicado que seu programa UFC “não está vinculado ao Código Mundial Antidoping”, que lista o THC, um componente-chave da cannabis, como uma substância proibida. Mas ele acrescentou: “Também é importante observar que as comissões atléticas estaduais têm regras próprias sobre a maconha que podem proibir o consumo”.

No ano passado, Theodorou se tornou o primeiro atleta profissional na América do Norte conhecido publicamente a receber uma isenção de uso terapêutico para cannabis medicinal, concedida pela Comissão Atlética da Colúmbia Britânica no Canadá. Mas ele está longe de ser o único a exigir mudanças nas políticas de seu uso.

Alguns atletas foram perseguidos por causa de seus medicamentos, mas também penalizados, tirando qualquer tipo de vitória, seja no MMA ou, obviamente, nas Olimpíadas”, disse Theodorou. “E isso vem de uma mentalidade desatualizada, no que diz respeito a ver a cannabis como uma droga”.

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A Drug Enforcement Administration (agência antidrogas) dos EUA lista a cannabis como uma droga de Classe I, colocando-a na mesma categoria da cocaína e da heroína, e definindo-a como não tendo uso médico atualmente aceito e um alto potencial para abuso. Essa categorização permaneceu a mesma até com 36 estados, Washington DC e três territórios dos EUA agora permitindo o uso médico de produtos de cannabis.

Embora a USADA opere como uma empresa privada sem fins lucrativos, a maior parte de sua receita em 2020  veio de fundos do governo por meio do Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas.

Theodorou diz que classificar a cannabis como uma droga de Classe I tornou mais difícil para atletas como ele exigir isenções médicas.

“Foi como uma impossibilidade de conseguir que a cannabis fosse reconhecida como um medicamento. E, você sabe, esse processo durou muitos anos”, disse ele.

“Você pode esmagar um punhado de Percocet antes de uma luta, e ninguém vai lhe fazer perguntas”, acrescentou. “Mas se por acaso você fumar um baseado uma ou duas semanas antes, pode ser penalizado por isso.”

O impacto dessas regulamentações foi colocado sob os holofotes no verão passado, quando o teste positivo para cannabis da velocista norte-americana Sha’Carri Richardson resultou em sua desqualificação para competir nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Richardson disse que ela usou cannabis para ajudá-la a lidar com a morte recente de sua mãe biológica e observou que era legal sob a lei estadual.

A decisão de suspender Richardson gerou amplo debate público e questionamentos sobre o manejo do uso de cannabis por atletas profissionais. Com o THC incluído na lista de substâncias proibidas da Agência Mundial Antidoping (WADA), cresceu a pressão sobre a organização para considerar se esses regulamentos estão desatualizados e precisam ser alterados, já que as opiniões da sociedade em relação ao uso de cannabis mudaram.

Posteriormente, a agência decidiu revisar o status da cannabis como uma substância proibida, após receber solicitações de “várias partes interessadas”. Além da revisão que será conduzida em 2022 pelo Grupo Consultivo de Especialistas da Lista Proibida da WADA, não se sabe muito sobre como o processo funcionará. A WADA não ofereceu nenhum comentário quando a CBS News perguntou sobre a revisão.

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Alguns especialistas dizem que a autorização médica da cannabis nos esportes profissionais está atrasada.

O Dr. Craig Antell, um médico especializado em lesões esportivas que tem prática em cannabis medicinal, atribui o lento movimento nas mudanças nas políticas antidoping do governo e das organizações esportivas à falta de educação sobre THC e CBD e aos estigmas culturais da cannabis — enraizados na discriminação histórica.

“A NHL, a NFL, todas essas organizações sabem que existem alternativas, elas apenas hesitam em dar esse passo e precisam”, disse Antell, que trabalhou com medicina física e reabilitação por mais de 20 anos.

Antell acredita que os profissionais médicos precisam ser “mais receptivos às alternativas” para o controle da dor, como a cannabis medicinal, que ainda não são populares.

Embora o CBD, outro componente da cannabis — que muitas organizações esportivas nacionais e internacionais subscrevem —, não esteja na lista de substâncias proibidas da WADA, Antell diz que o CBD tem que ter THC suficiente para ativar suas propriedades medicinais. O limite federal para THC em produtos com CBD é de 0,3%, o que Antell diz não ser suficiente para fornecer os benefícios medicinais frequentemente descritos.

“Um miligrama de THC para 20 ou 40 de CBD é provável que seja suficiente para ativar o sistema endocanabinoide para se livrar da dor”, disse Antell, explicando como sua prática equilibra CBD e THC para atender às necessidades de cada paciente.

“Você nunca obterá qualquer efeito cognitivo disso tudo, então você será capaz de trabalhar o dia todo, você estará funcional.”

Enquanto Theodorou continua a treinar para sua próxima luta, ele diz que já está “muito orgulhoso” do que ele conquistou na defesa da cannabis medicinal.

“Procuro fazer história mais uma vez, não só para mim, mas para todos os atletas, e procuro ter minha mão levantada novamente, dentro e fora da gaiola”, disse Theodorou.

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#PraTodosVerem: fotografia de Elias Theodorou em primeiro plano, onde o lutador aparece com o punho próximo ao rosto, mostrando uma luva de boxe com o tema da bandeira do Canadá personalizada com a folha da maconha, e usando uma camiseta preta que tem o desenho de uma folha de cannabis e a palavra “cafe” bordados em branco no peito, à frente de um ringue. Imagem: CAFE.

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