Smoke Buddies indica: livros nacionais que analisam a guerra às drogas

A política de combate às drogas inspira uma bibliografia nacional com títulos que propõem explicar a história, apontar suas consequências e vislumbrar modelos alternativos ao proibicionismo, no Brasil e no mundo, confira
Dentro do vasto universo de conhecimento em torno da maconha, a política de proibição imposta à planta em nome da chamada guerra às drogas é um dos temas mais importantes a ser esclarecido, como registro histórico e ferramenta de transformação social.
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Felizmente, autores brasileiros que se debruçam sobre os aspectos históricos, sociais e jurídicos relacionados ao tema dividem sua sabedoria em livros que explicam a história e apontam novos caminhos. A série Smoke Buddies indica reúne alguns títulos de autores nacionais que abordam a guerra às drogas, no Brasil e no mundo. Confira a seguir:
O direito penal da guerra às drogas – Luis Carlos Valois
Finalista no 59º Prêmio Jabuti de Literatura, o livro deriva da tese de doutorado pela USP de Valois, juiz titular da Vara de Execuções Penais do Amazonas, que traz um relato pessoal e uma análise crítica sobre o papel e o impacto do direito penal na guerra às drogas.
“De uma metáfora utilizada para congregar esforços contra as drogas, o termo guerra às drogas tem mostrado a sua incoerência e passa a poder ser ironicamente usado para desvendar uma guerra real contra as pessoas”, escreve em um trecho da introdução do livro.
Drogas: a história do proibicionismo – Henrique Carneiro
A obra do doutor em história social e professor do Departamento de História da USP, Henrique Carneiro, nos conduz pela política proibicionista de determinadas drogas em vários países, como Estados Unidos, Canadá, China e Rússia, e traça paralelos entre os interesses por trás de iniciativas de combate ao uso de substâncias.
O Juvenicídio brasileiro: racismo, guerra às drogas e prisões – Andréa Pires Rocha
Sob a ótica do Serviço Social, a autora retrata no livro o lugar do racismo e da guerra às drogas como parte de uma política de destruição do jovem brasileiro e da dinâmica de segregação da população marginalizada dentro das prisões. A autora aponta ainda alternativas para o combate e enfrentamento ao juvenicídio no Brasil.
“(…) o juvenicídio, como expressão, talvez tenha um uso recente no país, mas, como realidade que atinge a vida de jovens negros e pobres, acompanha todos os momentos históricos brasileiros”, escreve a autora na introdução.
Drogas: as histórias que não te contaram – Ilona Szabó e Isabel Clemente
A especialista em segurança pública e política de drogas e diretora-executiva do Instituto Igarapé, Ilona Szabó, e a jornalista Isabel Clemente assinam o livro que reúne cinco histórias de personagens semificcionais, que traçam os perfis de pessoas impactadas, de formas diferentes, pela política de combate às drogas.
O Fim da Guerra – A maconha e a criação de um novo sistema para lidar com as drogas – Denis Russo Burgierman
O jornalista apresenta, neste livro de 2011, alguns exemplos de políticas públicas relacionadas à maconha em lugares como Holanda, Califórnia, Espanha, Portugal e Marrocos e propõe abordagens sobre o assunto que não passem pelas questões policiais e jurídicas — para isso, conta com relatos de especialistas, pacientes e cultivadores.
Guerra às drogas e a manutenção da hierarquia racial – Daniela Ferrugem
A assistente social e pesquisadora Daniela Ferrugem aborda a relação entre a política proibicionista e belicista brasileira de combate às drogas, o genocídio e o encarceramento da população negra em um livro que evidencia a guerra às drogas sob o viés da desigualdade social, do racismo estrutural e do ódio de classes.
Sonhos da diamba, controles do cotidiano: uma história da criminalização da maconha no Brasil republicano – Jorge Emanuel Luz de Souza
Publicado em 2015 pela editora da Universidade Federal da Bahia, o livro explica o processo histórico da criminalização da maconha pós 1930 e sua relação com demandas de controle social do Brasil e apresenta um perfil dos maconheiros e sua contribuição cultural e social em torno da planta.
“A polêmica atual em torno da ‘questão das drogas’ e os discursos e práticas que daí emergem têm raízes profundas e mascaram posicionamentos autoritários de setores sociais que partilham interesses nem sempre visíveis”, escreve o autor.
A criminologia das drogas no Brasil – Plínio Leite Nunes
Lançado em 2020, o livro é resultado da tese de doutorado do advogado defendida na USP, e analisa os resultados da política de guerra às drogas, em termos de redução de consumo e de circulação, encarceramento, níveis de violência e mortes por overdose, assim como modelos de outros países, como Uruguai e Portugal.
Acionistas do nada: quem são os traficantes de drogas – Orlando Zaccone
Nesta obra da criminologia crítica publicada em 2007, o autor, que é delegado de Polícia Civil e doutor em Ciência Política, explica o modelo de proibição através da perspectiva de pessoas presas e condenadas pela conduta conhecida por tráfico de drogas, e revela a relação de controle social neste contexto.
Dichavando o Poder: Drogas e Autonomia – Coletivo DAR
Uma coletânea de artigos do coletivo Desentorpecendo a Razão (DAR) sobre a guerra às drogas deu origem a este livro que conta com ilustrações de André Dahmer, uma versão em quadrinhos para os textos de Walter Benjamin sobre haxixe, de Luciano Thomé, e a colaboração de antropólogos, filósofos, sociólogos, historiadores e movimentos sociais sobre o tema.
“Fumo de Negro”: a criminalização da maconha no pós-abolição – Luisa Saad
Resultado de uma pesquisa cuidadosa sobre concepções científicas, razões políticas e mecanismos sociais que colaboraram para a proibição da maconha no Brasil no século XX, o livro desvenda os planos eugenistas do processo de criminalização e estigmatização da planta.
“Foi nesse ambiente que muitos elementos da cultura brasileira de raiz africana passaram a ser identificados como perigosos e criminalizados. O costume de se consumir maconha, inclusive”, escreve a autora.
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#PraTodosVerem: fotografia mostra close de alguns livros fechados, com a espessura do objeto e as bordas das folhas, que variam no tom, aparentes. Imagem: Thaís Ritli | Smoke Buddies.

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