Literatura Sativa: Uma alegria sem tamanho

Foto em close do bud de uma Purple Buddah Kush, onde pistilos verde-claros e laranjas se destacam entre as sépalas roxas, repletas de tricomas, que contrastam com o fundo amarelo. Imagem: THCamera Cannabis Art.

Jorge deu sorte e ganhou a liberdade como se fosse pela última vez. E era pela última vez, eu acho. Coisa de réu primário, disso eu tenho certeza. Outra coisa é que o Jorge Jamaica é um cara não violento. Sempre foi o exemplo da família dele. Isso quando tinha uma grande família.

Hoje protege sua mãe, única sobrevivente daquele terrível acidente que fulminou seu pai e também seus quatro irmãos num átomo de segundo.

Se ele fosse pego novamente, a cadeia ia comer no centro. Podia virar um bandido bem perigoso e, talvez, nem sair. Quem sabe morto, tudo isso em questão de dias, horas ou minutos, entraria para o livro das estatísticas prisionais.

Ele detestava isso de ser preso novamente, nem pensar, e queria continuar distribuindo sementes e haxixes, compartilhar com o mundo, quando saísse da cadeia. E que tudo isso fosse permitido.

E o dia foi hoje. E o momento é agora. O futuro só a Deus pertence, aprendi assim com ele lá dentro.

A especialidade de Jorginho era a semente Bianca. Ele experimentou as plantas mais híbridas ou as mais genuínas do pedaço.

Na porta da cadeia, Jorge surgiu pintado de bandido. Veio acompanhado com um homem de gravata que era o seu Defensor Público.

O advogado se tornou “amigão” de Jorge e se apaixonou igualmente por aquela causa.

Ele gozava dos seus primeiros minutos de liberdade, após quase um ano preso.

O documento de soltura dele ficou no cartório da cadeia. Vinha só com um papel de documento na mão que mostrou ao guarda prisional na saída.

Era a segunda via do seu Alvará de Soltura, caso a polícia o incomodasse por motivo de nada.

Rever Jorge hoje estava de uma alegria sem tamanho, então me aproximei dele ali mesmo e ficamos “sozinhos”.

— Solto na vida, né, Jorge?

— Agora eu solto, vamos nos juntar, Bia! E fugir, mulher! Please, My Girl!

— Prometi que ia te soltar, não jurei que ia contigo fugir, Jorge. Certo?

— Você não entende, né, Jorginho? Eu sou livre e indecisa. Já você é de casamento. Não vai dar certo nunca, meu amor!

— Jorginho, você quer a monogamia disfarçada, enquanto eu sou do mundo e vivo a bigamia tresloucada.

— Bia, por que te amar é tão complicado, menina?

Jorge precisava aceitar. Agora as coisas mudaram muito. Eu cresci em mente e espírito. Acho que mais em mente. Meu espírito ainda precisa ser mais trabalhado. Sou muito fria com meus casos de amor. Não é difícil perceber essa falsa modéstia em mim.

Jorge sofria muito comigo, mas era em mim que podia confiar tudo. Mais que em sua mãe, podes crer!

— Vamos, Jorge! Fale com o Defensor e marque uma hora de visita para ele te explicar esse lance de condicional, onde e quando assina o sursis. E depois, você vem e a gente vai voando de moto, certo?

— Combinado, Bia!

— Deixarei você na casa de sua mãe, Jorginho. Eu estou montada hoje!

— Certo! Vou falar com o doutor agora mesmo. Pera aí…

Fiquei por um segundo ali parada no tempo e percebi que eu amava mesmo a solidão que os homens deixavam.

O conto acima é parte do livro “Traficante Privilegiado”, da ativista literária Eva Bárbara. Clique aqui para acessar a obra na íntegra e boa leitura!

Leia também – Literatura Sativa: Ganja surreal

#PraCegoVer: a imagem de capa traz uma foto em close do bud de uma Purple Buddah Kush, onde pistilos verde-claros e laranjas se destacam entre as sépalas roxas, repletas de tricomas, que contrastam com o fundo amarelo. Imagem: THCamera Cannabis Art.

Sobre Eva Bárbara

Estudante e ativista que sonha publicar o seu primeiro e-book de poesia no próximo ano. Responde pelo e-mail evabembarbara@gmail.com ou através da redação pelo redacao@smokebuddies.com.br.
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