Donas da cena: legendárias ancestrais e o profundo elo entre a mulher e a erva

Recorte da obra "Magu, Deusa da Longevidade", pintada em tecido de seda, que mostra uma mulher do peito para cima, vestindo uma capa que parece feita de folhas de maconha e levando uma cesta com flores e folhas, em um tronco com frutos apoiado em seu ombro. Arte: domínio público.

No dia que marca a luta das mulheres por respeito e equidade de gênero, conheça símbolos femininos, mitológicos ou reais, que reforçam a profunda relação entre a maconha e a mulher. As informações são do Leafly, com tradução pela Smoke Buddies

Hoje, muitas mulheres usam cannabis medicinalmente, e muitas outras adoram uma boa brisa, o que, nos tempos antigos, era o mesmo, diz Ellen Komp, autora de Tokin’ Women: uma história de mais de 4.000 anos de mulheres e maconha e vice-diretora do grupo de defesa da cannabis NORML, da Califórnia. “O que aconteceu na história registrada como cura foi feito de uma maneira mais ritualística, ligada a práticas espirituais em que um ou uma xamã participava do consumo da cannabis ou a distribuía a seus pacientes”.

Embora a História muitas vezes tenha deixado de fora as histórias das mulheres, as lendas sobreviventes de algumas deusas e mulheres influentes revelam que a cannabis é essencial para seus poderes — pelo menos em teoria. Aqui estão alguns dos maiores nomes:

Antigo Oriente: Deusa Ishtar (2.300 a.C., provavelmente antes)

Por milhares de anos, a deusa Ishtar (também Innana e Astarte) manteve o domínio espiritual sobre a Mesopotâmia, a terra que deu origem a impérios poderosos como Akkadia, Babilônia e Assíria, e que compõe aproximadamente o Iraque, o Kuwait e outras partes da atualidade, como Síria, Irã e Turquia.

Também cultuada no Egito antigo, os tributos a essa “Rainha do Paraíso” e deusa da cura eram comuns em toda a região, com uma erva chamada Sim. Ishara queimando em sua homenagem. Sim. Ishara se traduz como “aromático da deusa Ishtar”, que a assirióloga Dra. Erica Reiner afirmou que é a mesma planta da erva acadiana “qunnabu”, ou cannabis.

À medida que a guerra e a batalha (e o patriarcado) se intensificavam em toda a região, Ishtar evoluiu de curandeira compassiva para a deusa da guerra, tornando-se a amante representativa do rei no poder. Komp diz que essa mudança cultural “sexualizou deusas [e mulheres sagradas] enquanto despojava seus poderes de curar. Um desses poderes era o conhecimento de plantas como a cannabis. Mais tarde, a caça às bruxas fez o mesmo”.

Provavelmente precursora da Afrodite grega, entre outros, Ishtar também foi o centro de um antigo evento de solstício de primavera na Babilônia, celebrado com flores, ovos pintados e coelhos — bem como a deusa alemã “Ostara” e a “Páscoa” dos dias atuais. (Então, vá em frente e aproveite alguns ovos de Páscoa com infusão de maconha, em nome de Ishtar).

Arábia Meridional / Norte da África: Rainha de Sabá (950 a.C.)

“Não sabemos se ela é mítica ou real”, diz Komp, da lendária rainha de Sabá, registrada como trazendo um tesouro de ouro e especiarias ao rei israelita Salomão. “As especiarias que ela trouxe não são nomeadas, mas a cannabis era comercializada em seu tempo ao longo de rotas comerciais que ela poderia ter usado”.

A rainha de Sabá é mencionada pela primeira vez no Antigo Testamento, depois em aramaico no Targum Sheni, no Alcorão (onde é chamada Bilqis) e na história da origem da Etiópia, o Kebra Nagast. Seu reino de Saba, o Iêmen atual ou a Etiópia, acumulou uma riqueza impressionante através do controle das rotas comerciais. Embora sua lenda tenha se tornado mais fantástica a cada iteração — incluindo ter as pernas de um burro —, o fio condutor é sua jornada para o norte, em homenagem ao recém-poderoso rei Salomão.

No Testamento de Salomão (escrito entre 100 e 300 d.C.), Komp diz que há menção a uma mulher chamada Onoskelis — que significa pernas de burro — que estava perto do rei Salomão e o ajudou a construir o templo de Jerusalém com cordas de cânhamo. A lenda etíope diz que a rainha de Sabá chegou em casa grávida do filho de Salomão, chamando-a de mãe fundadora da dinastia salomônica, que durou três mil anos, até 1975.

Israel antigo: Deusa Asherah (cerca de 1.800 a.C.)

Às vezes considerada mãe de Ishtar, consorte dos deuses El e Baal ou esposa de Yahweh (mais tarde editada fora da Bíblia), a deusa Asherah/Athirat está associada à Árvore da Vida, “portando o fruto proibido que permite aos homens pensar como deuses”, escreve Komp. Homenagens a Asherah eram objetos de culto de varas sagradas, ou árvores estilizadas, erigidas por israelitas durante a maior parte de sua história e mencionadas mais de trinta vezes na Bíblia Hebraica. Até o rei Salomão construiu um templo inteiro para Asherah, mais tarde demolido pelo rei Josias.

“Uma representação antiga de uma árvore de Asherah do palácio de Assurbanipal se parece muito com uma planta de cannabis com um ramo de cola no topo”, diz Komp, observando que as folhas da árvore foram inscritas com sete e nove pontos.

Eventualmente, os israelitas foram proibidos de prestar homenagem a Asherah, mas muitos continuaram erguendo postes/árvores sagrados em sua homenagem. Muito mais tarde, nos tempos medievais, Komp observa que alguns escritores islâmicos identificaram cannabis com o nome asherah. Ela continua: “A identidade da Árvore da Vida é um dos maiores mistérios da humanidade. Por que apenas uma planta foi proibida?”.

Sibéria: Princesa Ukok (também conhecida como a Dama do Gelo da Sibéria, 1.500 a.C.)

Preservados pelo pergelissolo nas montanhas de Altai, os restos mumificados de uma jovem tatuada foram encontrados em 1993 pela Dra. Natalia Polosmak. Descoberta junto com seis cavalos selados e em ponte (possivelmente seus acompanhantes espirituais), a princesa Ukok foi sepultada com ornamentos de bronze, ouro e mais um pequeno recipiente de cannabis. Por causa de suas tatuagens, Komp diz que a ‘princesa’ era provavelmente uma alta sacerdotisa do povo Pazyryk, uma tribo intimamente relacionada aos citas nômades conhecidos por seu uso ritualístico de maconha.

As práticas de cura e espirituais estavam mais conectadas no passado“, diz ela, referindo-se à evidência de ressonância magnética de que a princesa tinha câncer e possivelmente usava cannabis medicamente. Além disso, ela diz que o arnês alto e elaborado encontrado com os restos da mulher representa a Árvore da Vida.

China: Magu, Hemp Maiden (300 d.C. ou anterior)

“Alguns acham que ela era real”, diz Komp, da taoista xian Magu, cujo nome significa aproximadamente “donzela do cânhamo”. Enquanto os contos populares variam, Magu é considerada uma jovem gentil que ascendeu à imortalidade em Magu Shan, ou Montanha Magu, denominação associada a duas montanhas na China.

Embora o cânhamo seja cultivado na região desde os tempos neolíticos, a maior parte de seu uso era para fins industriais — exceto para os taoistas, que consideram Magu muito estimada. Komp cita o estudioso do século XX Joseph Needham, que descreveu Magu como presidindo o sagrado Monte Tai de Shandong, onde a maconha era colhida no sétimo dia do sétimo mês lunar.

Ele também escreveu: “Há muitas razões para pensar que os antigos taoistas experimentaram sistematicamente com fumaças alucinógenas“. Além disso, uma enciclopédia taoista de cerca de 570 a.C. registra cannabis adicionada a queimadores de incenso rituais ou incensários. Também conhecida como deusa Mago na Coréia e Mako no Japão, muitos contos populares dizem “Magu coça a coceira”.

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#PraCegoVer: a imagem de capa traz um recorte da obra “Magu, Deusa da Longevidade”, pintada em tecido de seda, que mostra Magu do peito para cima, vestindo uma capa que parece feita de folhas de maconha e levando uma cesta com flores e folhas, em um tronco com frutos apoiado em seu ombro. Arte: domínio público.

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