Jardineiras da cannabis: um novo tipo de influenciadora floreia o Instagram

Fotografia tirada pela Mãeconheira em frente a um espelho e em meio a várias plantas de cannabis. Foto: reprodução / Instagram.

O Instagram é a janela para a cultura da Mãeconheira, carioca baseada na França que exibe na plataforma seus lustrosos pés de cannabis para falar sobre cultivo e botânica da planta, mas também de feminismo interseccional, tráfico e encarceramento. Como ela, outras mulheres abrem caminho para um novo tipo de influenciadora digital: as jardineiras da maconha. Saiba mais na reportagem de Natacha Cortêz para a Marie Claire

Como muitos de nós, Babete passou a fazer lives durante a pandemia. Diferentemente de muitos de nós, seus vídeos mostram nada além de abundantes folhas verdes finamente recortadas e pontiagudas e sua voz em um tom professoral. Para um espectador que cai na apresentação por acaso, o sentimento pode ser algo entre assombro e arrebatamento. A planta que preenche a tela de Babete, que acumula 64 mil seguidores na conta de Instagram @maeconheira até o fechamento deste texto, é a cannabis, da família das canabiáceas, amplamente cultivada em várias partes do mundo e popularmente conhecida por planta da maconha.

As lives, realizadas sem aviso prévio, são aulas bastante didáticas sobre o cultivo “indoor” da cannabis. “Os termos do universo canábico são todos em inglês. Prefiro abrasileirar. Cultivo indoor é o mesmo que dentro de casa. Grower, o que parece que sou, é o mesmo que cultivador”, explica em uma videochamada que fizemos no fim de agosto. Eu em São Paulo e ela no nordeste da França, onde vive com os filhos, “um menino de 15 anos e uma menina de 12”, desde fevereiro de 2017. Aliás, a mudança de país — antes, Babete, uma brasileira, morava no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro — foi o que fez com que passasse a se interessar por cultivar cannabis dentro do próprio apartamento e logo criar seu diário virtual canábico. Atualmente, são “umas 15 arvorezinhas e uns vasos pequenos para pesquisas e testes”, diz, com orgulho confesso: “Tenho amor pela minha plantação. Amor mesmo. Aprendemos uma com a outra e me descobri uma amante da jardinagem. É meu primeiro hobby na vida. Deixaria de fumar se fosse preciso, mas nunca de plantar”.

Smoke Buddies indica: mulheres que falam sobre maconha no Instagram

Entre os perfis brasileiros, Babete é precursora em expor o tal hobby no Instagram. Há, como ela, mais mulheres que escondem suas identidades atrás de plantações de cannabis, mas nenhuma tem o número de seguidores que alcançou. Pelo menos não até agora. Juntos, Babete e os perfis menores vão ocupando a plataforma ao lado de outras influenciadoras da maconha (cozinheiras, artesãs, podcasters e ativistas) e se posicionando contra a ilegalidade que torna a erva ainda criminosa na maior parte do globo.

Mantida por uma “trabalhadora lésbica e antiproibicionista”, a conta @cultive.cannabis, por exemplo, tem pouco mais de 400 seguidores e exibe um “diário de cultivo de primeira viagem”. Por ali, pode-se acompanhar o crescimento de meia dúzia de brotinhos de cannabis que ficam posicionados na janela da cultivadora, uma brasileira que não revela “absolutamente nenhuma informação” a respeito de si. O seu barato é trocar conhecimento na rede social e “para por aí”.

@lilica.420, com 16 mil seguidores, planta o suficiente para poder cozinhar. Do Sul do Brasil, ela usa o Instagram para ensinar pessoas a adicionarem cannabis na comida do dia a dia. Com o extrato e as sementes da planta, faz manteiga, pudim, pães, chás, espaguete e até pizza. Lilica, de 42 anos, que começou a plantar no terraço de casa por causa de uma semente despretensiosamente jogada ali, até revela o rosto, mas não o verdadeiro nome, nem sua localização ou profissão. “O segredo do sucesso é o segredo”, diz ela, que está com seis pés em flora, tudo para “uso próprio”. “Depois que tu fumas uma flor de uma planta que plantaste, sabes a origem, sabes do que aquela planta se alimentou, sabes que é pura. É uma experiência totalmente diferente de fumar um prensado (produto considerado de baixa qualidade, que traz flor misturada com folha, plantas macho e fêmea juntas, cheiro de amônia, insetos e substâncias tóxicas a perder de vista) sujo e fedorento que compras em qualquer lugar. Para mim, a conexão com a planta foi transformadora e me fez querer cultivar a minha própria maconha”, conta ela, que chegou a fazer uma live com Babete na quarentena sobre como o consumo da cannabis pode ser um subterfúgio para as mães em tripla jornada confinadas com os filhos, afastados das aulas presenciais.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia tirada pela Mãeconheira em frente a um espelho e em meio a várias plantas de maconha. Foto: reprodução / Instagram.

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